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Carioca em Tóquio: ‘É assustador ver pontos turísticos e trens vazios’

Camila Ogawa, radicada no Japão há três anos, conta que autoridades do país têm necessidade de 'dizer que a vida continua', e estão sendo criticadas

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 20 mar 2020, 22h54 - Publicado em 20 mar 2020, 16h54

“Aqui em Tóquio é bem comum vermos as pessoas usando máscaras nos transportes públicos e pelas ruas, principalmente no final do inverno/começo de primavera, quando os casos de gripe e kafunsho (alergia ao pólen) aumentam bastante. Por conta disso, encontrávamos facilmente máscaras à venda a cada esquina, em lojas de conveniência, farmácias, supermercados e até nas populares lojas de 100 ienes (apelidadas carinhosamente de 1,99 japonês) espalhadas por todo o Japão.

Máscaras em falta: em Tóquio, equipamentos de proteção, muito comuns nas farmácias, sumiram das prateleiras (Camila Ogawa/Arquivo pessoal)

Além do número de pessoas nas ruas com máscaras ter aumentado consideravelmente, o que de fato me fez entender a gravidade da situação foi ver prateleiras e mais prateleiras, onde costumavam ter máscaras de todos os tipos disponíveis, completamente vazias. Eu nunca tinha visto algo parecido em quase três anos de Japão!

Logo após, veio o surto do papel higiênico. As pessoas compraram rolos e mais rolos, até eu garanti os meus. O governo japonês chegou a emitir uma nota dizendo que não existia nenhuma limitação quanto ao produto e que as empresas produtoras de papel higiênico possuem estoque de sobra para toda a população. Aparentemente, essa compra desenfreada surgiu de uma fake news que dizia que a matéria-prima do papel higiênico vinha da China. No entanto, mesmo com os esforços das autoridades em reverter essa situação, a mentira continua tendo efeitos até hoje. Ontem mesmo fui ao mercado e as prateleiras continuam vazias. Afinal, ninguém quer ficar sem papel higiênico, não é mesmo?

Cadê o papel higiênico: após disseminação de fake news, japoneses acabaram com os estoques do produto (Camila Ogawa/Arquivo pessoal)

As coisas por aqui começaram a mudar de umas duas semanas para cá, a nossa rotina por aqui mudou um pouco, o meu marido, que é japonês, está trabalhando de casa e não existe previsão de quando ele voltará ao escritório. Eu sou designer freelancer e trabalho de casa, mas estou sempre pela rua e notei mudanças. Tóquio está sempre lotada e é um pouco assustador ver os pontos turísticos, trens e áreas centrais bem mais vazias, além de quase todas as atrações fechadas.

Trem vazio no Japão: segundo a designer Cmaila Ogawa, o cenário incomum chega a assustar (Camila Ogawa/Arquivo pessoal)

Os meses de março e abril são épocas bem importantes e movimentadas por aqui, é entre esses meses que as sakura (flores de cerejeira) abrem e as pessoas vão para as ruas para apreciá-las. É um clima muito gostoso, os parques ficam lotados e todo mundo faz piquenique. Além da população local, também é uma época em que o país recebe muitos turistas. Neste ano, o governo japonês já suspendeu a grande maioria das festividades relacionadas à época.

Piqueniques suspensos: nesta época do ano, as cerejeiras florescem e os japoneses se reúnem ao ar livre, mas neste ano, nada de encontros (Camila Ogawa/Arquivo pessoal)

Embora exista uma grande preocupação das autoridades em combater e alertar quanto ao covid-19, existe, ao mesmo tempo, uma grande necessidade de fazer com que a “vida continue”, principalmente com as Olimpíadas batendo na porta. O Japão anda até mesmo sendo bem criticado por conta disso, acusado de não estar tomando, de fato, todas as medidas necessárias e de dar uma maquiada no número real de casos.

Felizmente, o Japão é um país bem preparado para lidar com crises. Além do passado de superação da Terra do Sol Nascente por conta da guerra e da bomba atômica, aqui no Japão também lidamos com terremotos e tufões, que acontecem algumas vezes durante o ano. Nesses casos somos sempre muito bem orientados pelo governo, com uma enorme gama de informações em inglês e até suporte em português em áreas onde a comunidade brasileira é bem grande.

De acordo com um estudo feito pelo Kyodo News, o Japão ainda irá alcançar o pico das infecções e isso me deixa um pouco apreensiva, porém me sinto segura em estar aqui. Hoje mesmo (sexta, 20), feriado no Japão, tínhamos compromisso com família e amigos. Acordei e não me sentia muito bem, então resolvi não sair de casa, mas sei que terei suporte caso precise. O que podemos fazer, estando no Japão, no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo é seguir as orientações dadas, respeitar a quarentena e entender a nossa responsabilidade em sociedade. Alimente-se bem, lave as mãos e, se possível, fique em casa. Se fizermos nossa parte, as coisas vão se ajeitar mais rápido. Estou mandando energias positivas para que o mundo saia dessa o mais rápido possível!

* Camila Ogawa é designer, mora em Tóquio, Japão, há três anos. No Instagram @japarioca, ela conta como é a vida do outro lado do mundo. Em depoimento a Marcela Capobianco.

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