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No mundo da fantasia

Raphael Draccon, que já fez anúncio de sabão e clipe de axé, alcançou o sucesso com a literatura fantástica. Suas noites de autógrafos vêm reunindo jovens vestidos de príncipe ou de fada

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h23 - Publicado em 19 set 2012, 19h37

Existe um mundo dominado por fadas-amazonas. Ali, trava-se diariamente um embate entre as donas do pedaço e a maior parte da população, os ditos “seres racionais”. Como pano de fundo para essas batalhas, surgem dragões, príncipes encantados e cenários oníricos. Tudo isso ? grosso modo, chamado de literatura fantástica ? é fruto da imaginação de um carioca nascido no Estácio que está virando o queridinho dos jovens. Ele é Raphael Draccon. Tem 31 anos, usa jaqueta de couro mesmo com a temperatura batendo nos 30 graus e faz o estilo rock star. Tem estrela, realmente: sua trilogia Dragões do Éter acaba de passar a marca de 130?000 livros vendidos. Seu público? Adolescentes, ou eternos adolescentes, fãs de Crepúsculo, Harry Potter e Senhor dos Anéis. Essa incursão num mundo de fantasia já o fez, na vida real, mudar de endereço e melhorar de vida. No início do ano, ele deixou a Zona Norte e comprou um apartamento confortável na Barra. Agora aguarda, ansiosamente, o carrão que sua editora, a Leya, prometeu lhe dar em razão do sucesso de vendas. Leitor de Shakespeare e de Monteiro Lobato na infância, Draccon não se compara a mestre algum. Entre seus talentos está o de conhecer bem seus leitores: “Minha geração faz muita coisa ao mesmo tempo. Lê meu livro com a televisão e o computador ligados, conectada no smartphone”.

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Draccon não é um fenômeno fora de contexto. Como num toque de varinha de condão, a saga do bruxinho criado pela britânica J.K. Rowling deu um impulso inaudito à literatura fantástica, que neste século só fez crescer e gerar filhotes, como filmes e games. Sete dos dez livros de ficção mais vendidos da lista de VEJA têm no enredo indivíduos sobrenaturais. Um ranking publicado pela revista Forbes com os escritores que mais faturaram no ano passado tem três autores do gênero entre os cinco do topo. No Brasil, esse tipo de narrativa vem ao encontro dos anseios de um público jovem. Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro revela que a metade dos leitores do país tem até 24 anos. Portanto, um terreno fértil para o paulista André Vianco (mais de 900 000 exemplares vendidos), o carioca Eduardo Spohr (na faixa de 300?000) e o próprio Draccon cultivarem um séquito de admiradores. Na última Bienal do Livro, no mês passado em São Paulo, mais de 1?500 fãs se aglomeraram em frente ao estande onde ele autografava as obras, muitos paramentados de capa e espada.

Filho de um corretor de imóveis e de uma funcionária pública, Rafael Albuquerque (esse é o nome do escritor) teve uma infância difícil. Ainda adolescente, saía de casa para não presenciar as crises de sua avó alcoólatra e se refugiava numa livraria de um shopping na Tijuca, onde morava. Ali, fez um trato com a gerência: em troca de poder ler os livros que quisesse, orientava os clientes sobre literatura fantástica. Decidiu ser escritor quando viu pela primeira vez o filme Operação Dragão. “Queria ser como o Bruce Lee, ou seja, escrever, ser faixa preta e trabalhar com filmes. Demorou, mas eu consegui”, orgulha-se ele, que hoje é mestre em tae kwon do. Aos 19 anos, iniciou a faculdade de cinema, mas teve de abandonar o curso quando a mensalidade ficou pesada. Começou, então, a se virar ? e isso inclui bolar diálogos para comercial de sabonete, dar consultoria a filmes de artes marciais e fazer roteiro para clipes de axé. Um dia, conheceu Cláudia Leitte. “Descobri que ela também adora vampiros, zumbis e os livros de terror do Stephen King”, diverte-se.

Draccon leva uma vida agitada, mas arranja tempo para ir abrindo portas no exterior. Já ganhou prêmio em Hollywood por um de seus roteiros, e esteve, pessoalmente, na casa da escritora americana Alyson Noel, da série Os Imortais. Recebeu no ano passado propostas de duas produtoras de videogame, que desejam usar suas histórias como enredo de jogos de ficção. Recentemente, ganhou um selo editorial para chamar de seu: o Fantasy, sob o guarda-chuva da Leya. Tamanha honraria veio como prêmio por ter chamado a atenção da editora portuguesa para o talento de George R.R. Martin, autor de A Guerra dos Tronos, que virou série de sucesso no canal HBO. A empresa abraçou a ideia, investiu no autor americano e hoje comemora seu sucesso de vendas. Nem tudo, porém, funciona como num conto de fadas ? ele diz receber críticas todos os dias. As mais leves atacam a qualidade do seu texto e a falta de densidade das obras. “Literatura fantástica não é escapista”, defende-se Draccon. E conclui, tentando elaborar uma explicação para o fenômeno: “Por trás existem simbologias e códigos diversos, como o mais fraco enfrentando o mais forte, e a disputa do bem contra o mal”. No caso pessoal dele, esse mundo de fantasia só tem finais felizes.

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