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Obra-prima em cena

Painel de Salvador Dalí é a atração essencial de espetáculo que chega à cidade no próximo mês

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 13h58 - Publicado em 19 jun 2013, 16h57

Um dos artistas mais controvertidos e inventivos do século XX, o espanhol Salvador Dalí (1904-1989) deixa sua marca em La Verità, uma produção grandiosa que mistura tea­tro, canto, dança e circo, com estreia prevista para o dia 12 de julho no Teatro Bradesco, no Shopping Village Mall. Mais do que ter uma ideia evocada, o pintor na verdade se faz presente em cena: é dele a tela de 15 por 9 metros usada como elemento visual no palco. Trata-se de uma obra peculiar, concebida em 1944 para servir de cenário do balé Tristan Fou, do coreógrafo russo Léonide Massine, e que ficou nas últimas seis décadas sem ser exibida ao público, com localização incerta. “É maravilhoso que ela possa ser vista de novo, e ainda por cima em uma atração que vai passar por várias cidades do mundo”, afirma o suíço Daniele Finzi Pasca, diretor do espetáculo que aqui faz escalas também em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo.

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Idealizada para um balé inspirado na ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner, a pintura apresenta o mítico casal da tragédia medieval na visão particular de Dalí, expoente máximo do surrealismo e um criador que procurava traduzir em imagens o inconsciente. Na tela há o registro de duas figuras de gênero indefinido, com rosto indistinguível, torso rachado e mãos desproporcionais, além de um carrinho de mão que sai das costas de uma delas, bem como uma forquilha e formigas ? elementos que, inclusive, aparecem em vários de seus trabalhos. Encerrada a temporada de Tristan Fou, partes do cenário foram destruídas, outras retalhadas e vendidas. Por alguma razão, essa obra foi guardada em uma caixa. A partir de então, seu caminho é nebuloso. Sabe-se apenas que, em 2010, sua atual proprietária, uma fundação europeia que se mantém anônima, restaurou a tela e propôs a Pasca a concepção de um espetáculo inédito tendo-a como composição. O resultado é uma produção de visual esfuziante ? na linha da trupe canadense Cirque du Soleil ?, que leva ao palco doze artistas de nove nacionalidades. Tal qual o traço do espanhol, a narrativa é onírica. Ela traz fragmentos da história de dois palhaços que tentam leiloar uma pintura ? a própria obra destacada ? para ajudar uma companhia circense decadente. Apesar de ser um grande chamariz da atração, a tela pode ser vista apenas durante vinte minutos do espetáculo, que tem duração de duas horas. Há uma série de cuidados que a envolvem. É transportada e guardada em ambientes com temperatura e umidade controladas, e suas aparições no palco se dão sempre com baixa luminosidade.

Com seu desmedido dom para criar, escandalizar e se promover ? seu bigode espetado virou um logotipo inconfundível ?, Dalí cultivava interesses múltiplos. Fez pinturas, gravuras e esculturas, mas não só. Mestre em ignorar divisas, extravasou seu talento para outras manifestações artísticas: cinema, moda, publicidade, design e literatura. Pouco depois de realizar sua primeira exposição indivi­dual, em 1925, ele se uniu ao cineasta Luis Buñuel para dar vida ao curta-metragem Um Cão Andaluz, obra marcadamente surrealista. Nessa área, ensaiou parcerias também com os Irmãos Marx, Alfred Hitchcock e Walt Disney. Desapegado de radicalismos, não se furtava a ilustrar livros e, sob a encomenda de um laboratório farmacêutico, chegou a conceber uma obra para celebrar um antidepressivo. Não sem razão, é até hoje cultuado por estilistas de moda e designers. Apesar da variedade de plataformas em que se arriscou, seu refúgio nas artes cênicas foi de longe o mais produtivo ? um caminho percorrido também por outros colegas legendários (veja o quadro). Assinou a cenografia de Mariana Pineda, peça do espanhol Federico García Lorca, e elaborou mais trabalhos do gênero para apresentações de balé no Metropolitan Opera House de Nova York. Com tamanha fluência, Dalí pode ser apontado como um precursor da grande nuvem criativa atual. “O artista passou a se expressar em suportes para além da tela plana. Pintura, escultura, teatro, dança e outras manifestações estão se unificando em um lugar sem fronteiras”, avalia Lidia Kosovski, professora do departamento de cenografia da Uni-Rio. Ao transfigurar o palco em uma parede de exposição, La Verità é um exemplo bem-acabado da tendência.

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