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A batucada começou

Escolas de samba reformam suas quadras para fazer dos ensaios um bom programa

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 14h22 - Publicado em 26 set 2012, 17h30

É falsa a impressão de que as escolas de samba ficam paradas durante quase o ano inteiro, funcionando só nos meses que antecedem o Carnaval. Neste momento, as doze integrantes do Grupo Especial já iniciaram a confecção de fantasias e alegorias, e em suas quadras se encontra em fase decisiva o concurso de sambas, chamado de corte, que vai escolher qual deles será defendido na avenida em 2013. Elas têm até 15 de outubro para definir o vencedor. Isso significa que nesta semana e nas duas seguintes estarão sendo realizadas, na maioria dos casos, as semifinais.

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Por vários motivos, trata-se da melhor hora para ir aos ensaios. Primeiro porque, a esta altura do campeonato, os sambas mais fracos já foram limados da disputa. Ninguém será obrigado, portanto, a ouvir por quinze minutos seguidos, às vezes até por vinte, o refrão banal de um “boi com abóbora” sem nenhuma possibilidade de ganhar a passarela. Além disso, em setembro as quadras não ficam superlotadas, o que costuma acontecer na grande final, no meio do mês que vem. Outro dado a levar em conta é que, com quatro ou cinco concorrentes ainda de pé, não chega a haver uma polarização explícita das torcidas por esse ou aquele candidato, o que não raro gera confronto e confusão.

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O item segurança, aliás, é um dos que mais têm preocupado os dirigentes do mundo do samba. Hoje, em todas as quadras, há rigorosos esquemas de revista nas roletas e, em muitas delas, as saídas de emergência são de fácil acesso. Visando a fazer dos cortes uma boa opção de programa para o carioca comum, mesmo aquele não aficionado a Carnaval, as agremiações investem também no conforto oferecido em suas sedes. Nesse quesito, duas escolas vêm se destacando: a União da Ilha, que deu um banho de butique na quadra da Cacuia, agora com ar-condicionado e camarotes vips, e a Mocidade Independente, que está de endereço novo: trocou o velho galpão (que ficava encostado na Vila Vintém) por uma casa na Avenida Brasil, já apelidada de Maracanã do Samba por causa do tamanho. No Salgueiro, a novidade é um fumódromo. Na Imperatriz, um sistema de acessibilidade, com rampas para deficientes físicos. Entre os projetos ainda não finalizados estão a reforma no teto da quadra da Beija-Flor e o novo tratamento acústico da sede da Unidos de Vila Isabel.

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Um dos maiores desafios que todas as escolas, sem exceção, têm de enfrentar é justamente a questão do som. Como os compositores gostam de “encorpar o canto” para dar a impressão de que seu samba está sendo entoado por muita gente, é comum que quatro ou até cinco microfones sejam usados pelos intérpretes. Assim, os ouvidos de quem está sambando praticamente explodem. Outro senão dos cortes ? e isso afasta muita gente das quadras ? é a hora em que acontece a disputa: geralmente tudo começa tarde demais. Na São Clemente, por exemplo, o primeiro samba é cantado depois de 1h30 da manhã, numa maratona que vai até o sol raiar. O objetivo por trás desse horário esticado é um só: vender muita bebida e comida desde as 22 horas, quando os portões costumam ser abertos para shows de pagode e exibições da bateria.

Quem é folião de verdade aproveita os novos mimos e releva os velhos problemas. No sábado da semana passada, Rafaela Gerbassi, 22 anos, estudante de direito e moradora de Ipanema, curtia a disputa na União da Ilha vendo tudo de seu camarote, no 2º andar, com direito a balde de gelo e tábua de petiscos. “Venho aqui porque minha avó mora perto. Hoje conheço muita gente da escola e já desfilei duas vezes”, diz ela, de mangas compridas por causa do frio, com filipeta na mão, acompanhando a letra do seu samba favorito.

Distribuir panfletos para a quadra inteira, levar torcedores de ônibus, comprar bolas de gás, conseguir bandeiras e contratar músicos e puxadores de renome para defender sua música são apenas alguns dos trabalhos de um compositor na luta pela vitória. Se ela vier, a recompensa poderá chegar a 200?000 reais. É uma bolada, além do prazer de ter seu samba cantado na Sapucaí. Mas antes os concorrentes devem conquistar o público das quadras ? que está cada vez mais mimado e, por isso mesmo, mais exigente.

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