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Viagem ao fundo do mar

Para quem gosta de história e adrenalina, a costa do Rio reserva um atraente roteiro de mergulho em naufrágios

Por Letícia Pimenta
Atualizado em 5 jun 2017, 14h07 - Publicado em 27 mar 2013, 19h56

Com seus mais de 8?000 quilômetros de litoral, o Brasil oferece praias magníficas para todos os gostos. Nessa mesma faixa costeira existem ainda outros cenários sedutores, porém longe do olhar dos banhistas. São navios naufragados que se tornaram atraentes pontos de visitação. Estima-se que haja no nosso mar territorial esqueletos de mais de 10?000 embarcações, 25% delas já catalogadas. Nesse universo profundo, o Rio se destaca devido à intensa navegação em suas águas ao longo dos séculos. No estado foram identificadas 412 embarcações, das quais 85 em condições de ser exploradas, apesar das águas turvas e frias do mar fluminense. Uma dezena delas fica na capital e oferece uma experiência única aos que se encorajam a fazer um mergulho pelos destroços. “O Rio é um dos locais mais ricos do Brasil, com navios de grande porte e perfil histórico importante”, afirma o biólogo marinho e instrutor de mergulho Maurício Carvalho, com mais de vinte anos de experiência na exploração desse cemitério de carcaças no fundo do mar. Em parceria com um amigo, ele criou o Sistema de Informação de Naufrágios (Sinau), uma das principais fontes de consulta sobre o assunto, com dados de 2?500 embarcações.

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O mergulho em naufrágio é um gênero raro de turismo, que une belezas naturais e curiosidades históricas à adrenalina da aventura. É possível se aproximar de galés, corvetas e transatlânticos que vieram a pique devido a tempestades, guerras, explosões a bordo, ataques de corsários ou mesmo problemas mecânicos. Há ainda os que são afundados propositalmente, para virar recife artificial. No nosso litoral estão alguns dos pontos mais concorridos desse tipo de passeio (veja os quadros), entre eles o paquete a vapor Buenos Aires, que soçobrou perto da Ilha Rasa, em 1890. O giro submerso pelos restos da embarcação revela as caldeiras, uma hélice, duas âncoras e uma carga variada composta de louças, vidros, brinquedos e até uma prensa. “Sem conhecer minimamente os detalhes, mergulhar em um naufrágio significa ver apenas um monte de ferro retorcido”, alerta o instrutor Rodrigo Figueiredo, sócio de uma operadora de mergulho.

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Para praticar essa atividade, não basta ter vontade e bom preparo físico. Antes de mais nada, é necessário uma carteirinha chancelada por certificadoras internacionais ligadas ao Recreational Scuba Trainning Council (RSTC). O passeio por naufrágios é o nível mais avançado do curso de mergulho. Na empresa de Rodrigo Figueiredo, o programa completo de aprendizagem, ministrado por Maurício Carvalho, tem nove horas de teoria, três de prática em piscina e quatro visitas às carcaças. O aluno torna-se apto a circular por labirintos com pouca luz e próximo de objetos cortantes, muitas vezes diante de perigosas cargas bélicas e químicas. “Como a gente aprende a mergulhar com uma configuração que oferece menos riscos, o curso também amplia a segurança dos mergulhos comuns”, conta a defensora pública Juliana Naliato, que já esteve na rota dos naufrágios do Mar Vermelho e em maio vai conhecer os recifes artificiais de navios da Flórida, nos Estados Unidos. Outras mecas internacionais para os aficionados são o Caribe, região em que furacões e corsários apavoravam os navegantes, e uma ilha na Micronésia chamada Truck Lagoon, onde os americanos afundaram sessenta navios japoneses depois do ataque que sofreram em Pearl Harbour.

Tão emocionante quanto descortinar um mundo submerso é descobrir um novo ponto de visitação. Só no Rio existem vinte embarcações ainda não encontradas, entre elas um submarino alemão. O filé-mignon, no entanto, é o galeão Rainha dos Anjos, procurado há dez anos pelo pesquisador francês radicado no Brasil Denis Albanese. Armado com 54 canhões, o navio de guerra português vindo de Macau submergiu em 1722 na Baía de Guanabara, após uma explosão. Além da carga geral, trazia presentes enviados pelo imperador da China ao papa Clemente XI e ao rei de Portugal dom João V, a exemplo de vasos de porcelana e esmaltados, num total de 150?000 peças. Um episódio que não merece ficar perdido no fundo do mar.

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