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Todo aquele jazz

O gênero musical americano vira a trilha sonora de algumas das festas mais concorridas da cidade e conquista jovens admiradores

Por Rachel Sterman
Atualizado em 2 jun 2017, 13h20 - Publicado em 24 out 2013, 19h41

No sopé do morro Pavão-Pavãozinho, bem na esquina da Ladeira Saint Roman com a Rua Sá Ferreira, uma multidão de jovens se aglomerava na sexta-feira 11, em aquecimento para uma das baladas mais disputadas do Rio. A menos de 100 metros morro acima fica o albergue Pura Vida, cujo bar vem acolhendo a Rio Jazz Club, no melhor estilo inferninho nova-iorquino. Promovida uma vez por mês, a noitada tem como trilha sonora o gênero americano encarnado por legendas como Charlie Parker e Miles Davis. Mais de 200 pessoas abarrotavam o deque e o salão da casa, onde o baterista paulista Tuto Ferraz se apresentava com sua banda. Nada da batida tecno ou do samba-rock que costumam embalar as noites cariocas. No repertório executado ao vivo figuram standards e composições autorais, em uma mistura de jazz, groove e funk que agrada em cheio ao público presente, na faixa entre 20 e 35 anos. Nesse caso se enquadram as amigas Marcella Bueno e Isabel Kraml, ambas de 24, e Lívia Beatriz Mattos, 21, estudante de psicologia que ia lá pela segunda vez. “A música é boa para dançar, e o público é muito interessante”, comentou Lívia, que está em seu noviciado naquele estilo musical.

A festa no Pura Vida está longe de ser uma atração isolada com esse perfil. Na programação das casas noturnas da cidade é crescente o espaço dedicado ao estilo jazzístico, numa iniciativa de músicos e produtores jovens que se propõem a apresentá-lo a uma nova gama de ouvintes. Um exemplo dessa safra é a Jazz Ahead, que no próximo sábado (26) chega a sua oitava edição no Clube dos Macacos. Criada para ser um palco fixo para a exibição do Quinteto Nuclear, a noitada faz sempre um tributo a algum nome relevante do ritmo musical, sem abrir mão, no entanto, de um repertório mais contemporâneo. Pelo salão do clube, no Horto, que reúne mais de 450 pessoas a cada evento, a turma dança, conversa e azara à vera. “Há público de sobra para essa batida, que pode ser ao mesmo tempo cerebral e informal”, afirma Thiago Esposito, produtor do embalo. Além da sonoridade, há diferenças flagrantes entre essas festas e as atrações convencionais. A principal delas diz respeito ao ambiente, mais cool e onde impera certa moderação (seja nas roupas, na abordagem dos rapazes ou no comportamento das moças). Em comum com as demais baladas que sobejam na noite carioca, no entanto, sua fórmula inclui um DJ, a quem cabe manter a animação da pista após a apresentação da banda.

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O pioneirismo nesse formato de evento no Rio é atribuído ao britânico Bob Nadkarni. Saudoso do grupo que mantinha na Inglaterra e sensível à carência de lugares por aqui para ouvir um bom jazz, ele, há sete anos, começou a promover jam sessions no The Maze, seu albergue na favela Tavares Bastos, no Catete. O que era para ser uma reunião intimista entre amigos acabou ganhando repercussão graças ao boca a boca e se transformou em uma das festinhas mais concorridas da cidade, reunindo 500 frequentadores por edição até hoje. Atentos à demanda, outros produtores idealizaram atrações similares, a exemplo da Holly Jazz e do Jazz na Pedra do Sal (veja o quadro). Na década de 80, o Rio já havia vivido um movimento parecido, com a abertura do Mistura Fina, do Rio Jazz Club (homônimo da festa) e do Jazzmania, casas noturnas com programação dedicada ao ritmo, todas extintas. Foi nessa época também que teve início o Free Jazz Festival, que trouxe à cidade legendas do calibre de Chet Baker, Art Blakey, Sarah Vaughan e Dizzy Gillespie. “Fico feliz que uma turma jovem comece a se interessar pelo assunto, porque é preciso tempo para assimilar esse tipo de ritmo”, diz o músico Zé Nogueira, curador da Jazzmania, realizada toda terça no Studio RJ. “As festas são uma bela porta de entrada para a garotada se tornar fã do jazz.” A catequese sonora tem sido eficaz na conversão.

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