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O glamour ficou no passado

Com queda no faturamento e debandada de funcionários, a loja carioca da Daslu tenta reencontrar o caminho do sucesso no Rio

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h09 - Publicado em 6 mar 2013, 19h25

Quando a Daslu abriu sua primeira loja fora de São Paulo, em dezembro de 2011, no Fashion Mall, a alta-roda do Rio se alvoroçou. Não seria mais preciso voar até a capital paulista para se esbaldar na butique que se tornou um símbolo do consumo de luxo no país. Apenas na noite de inauguração, as consumidoras cariocas desembolsaram mais de 500?000 reais em produtos. Sob o efeito da novidade, em pouco tempo o ponto passou a ser o mais badalado do shopping de São Conrado. Depois de três meses de movimento intenso, no entanto, o entusiasmo começou a arrefecer. As vendas, que no início superavam a marca de 2 milhões de reais mensais, hoje, segundo profissionais que trabalharam lá, oscilariam em torno de 800?000. Com a queda no faturamento, e a consequente redução da comissão destinada aos funcionários, houve uma debandada geral, restando apenas duas pessoas da equipe inicial de dezoito vendedores, escolhidos depois de passar por um exigente processo seletivo. Definitivamente, o glamour não é mais o mesmo. A profusão de peças com o jamegão de Louis Vuitton, Gucci e Prada ficou para trás. Em vez de marcas internacionais icônicas, as prateleiras exibem agora muitos produtos que levam a etiqueta da própria Daslu. Ao lado de um dos caixas, um pote de uma popular balinha de framboesa fica à disposição das clientes, dando um toque trivial ao ambiente. “Achei que seria o máximo trabalhar na Daslu, mas de luxo a marca só tem a história”, conta uma ex-funcionária, que prefere manter-se no anonimato.

foto Denise Leão
foto Denise Leão ()

Para atrair a grife e poder se vangloriar de que a requintada Daslu fincaria bandeira em seu território, o Fashion Mall ofereceu um belo dote. Além de ceder um espaço de 800 metros quadrados no 2º e no 3º pisos, o shopping ainda arcou com a reforma e abriu mão de receber aluguel durante o primeiro ano de funcionamento da loja. A obra necessária para sua instalação, aliás, é motivo para dor de cabeça. Por causa da construção sem autorização de uma escada interna que liga dois pavimentos, a Secretaria Municipal de Urbanismo declarou a intervenção irregular. Até agora foram aplicadas seis multas, a última no dia 14 de fevereiro. Há pouco tempo, um defeito no sistema de refrigeração fez com que gotejasse dentro da loja. A solução foi colocar no chão um balde, que ficou à vista de todos durante dois dias, num tipo de remendo que não condiz com o refinamento sempre associado à butique.

Os percalços estruturais são uma parte do problema. A outra faceta é o que se pode chamar de derrapada na gestão. Quando uma nova coleção é lançada, a unidade carioca recebe um número insuficiente de peças, com pouca variedade de números. Assim que chegam as novidades, as clientes especiais são recebidas a portas fechadas. “De tão poucos itens, alguns se esgotam nessa ocasião. As pessoas procuram o que está no catálogo e não encontram”, comenta outra funcionária dispensada recentemente. Há relatos de que a escolha da equipe de vendedoras, coroada de sobrenomes conhecidos e gente bem-nascida, carecia de ajustes. Como apenas quatro pessoas do grupo tinham boa experiência com o comércio, o salão ficava um caos quando estava cheio. “Às vezes, com a loja lotada, tinha vendedora sentada no sofá falando ao celular. Algumas meninas eram dondocas demais para trabalhar”, diz essa ex-funcionária.

Não é de hoje que a Daslu deixou de ser o que era. O templo da marca, batizado como Villa Daslu ? um imponente complexo de 60 000 metros quadrados em estilo neoclássico no bairro paulistano de Vila Olímpia ?, foi demolido recentemente. Na capital paulista, a grife agora possui dois pontos menores em shoppings de luxo. Envolvida em sonegação fiscal, a loja perdeu sua alma, a empresária Eliana Tranchesi, filha da fundadora. Condenada pela Justiça, Eliana morreu no ano passado. Assim, o empreendimento acabou vendido ao fundo Laep, grupo especialista em recuperação de empresas. A nova gerência tem se empenhado em reforçar o negócio, apostando agora na democratização da marca. Recentemente, foi feita uma parceria com a rede Riachuelo, que vendeu modelos populares com a etiqueta da Daslu. “Não é mais um lugar de desejo. Como as grandes grifes se instalaram no Rio, virou uma loja mais comum. Ainda compro uma pecinha ou outra, mas não sou mais consumidora fiel como antigamente”, diz a empresária Daniela Escobar, 37 anos. Por sua vez, a empresa aposta nesse reposicionamento e anuncia planos de expansão. “Estamos indo muito bem no Rio e atingindo os números esperados”, afirma Patricia Cavalcanti, diretora de marketing da Daslu, que vai abrir neste ano sua primeira unidade no Nordeste, no Recife. “Fizemos ajustes tanto na coleção quanto na equipe. É um processo de amadurecimento. Estamos em busca do equilíbrio entre a modernidade e a herança da marca. A Daslu mudou, mas mudou para melhor.” É como dizem por aí: não está fácil para ninguém. Nem mesmo para quem vive do luxo.

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