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Férias sem internet

Com apelo ecológico e desconectadas do mundo virtual, colônias, como o Rancho Santa Mônica, provam que existe diversão longe dos celulares e tablets

Por Bruna Talarico
Atualizado em 2 jun 2017, 13h14 - Publicado em 29 jan 2014, 19h01

Em uma folha de papel aos poucos desdobrada, a estudante Lilian Steinbruck, de 10 anos, rabisca o nome de vinte colegas e seu respectivo endereço eletrônico. Eram amigos recentes, de quem a menina se despedia naquele instante, com planos de manter contato. Pode parecer anacrônico, em plena era de smarthphones e iPods, ela ter de anotar tudo em um trivial papelzinho, mas a cena está descrita com fidelidade. Era o momento derradeiro da temporada da turma no Rancho Santa Mônica, uma concorrida colônia de férias em Cachoeiras de Macacu que é cheia de peculiaridades. Para começar, ali está terminantemente proibido o uso de qualquer aparelho eletrônico, sendo que nem para os pais a criançada pode ligar, salvo, evidentemente, um motivo imperativo. A ideia é esta mesmo: ficar um tempo desconectado do mundo lá fora, submetendo-se a uma espécie de desintoxicação das tecnologias digitais, das quais todos temos nos tornado dependentes. Ou seja: nada de Facebook, Instagram ou qualquer tipo de aplicativo. Por mais surpreendente que seja a conclusão, pelo que viu a reportagem de VEJA RIO durante um fim de semana no local, a garotada, mesmo desprovida dos aparelhos que se tornaram gênero de primeira necessidade, se esbalda do mesmo jeito ? e talvez até mais que em sua rotina conectada na metrópole. “Aqui é um lugar feliz. Deixei todos os meus problemas lá fora”, diz Lilian, pouco antes de embarcar de volta para o Rio, após uma semana enfurnada no lugar.

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Espalhado por uma área de 2 milhões de metros quadrados na serra fluminense, num trecho próximo de Nova Friburgo e a 100 quilômetros do Rio, o Santa Mônica está aberto à criançada na alta e na baixa estação. Neste verão, serão no total cinco temporadas, com duração de sete a nove dias, que reunirão em média 250 inscritos em cada uma delas, com idade de 5 a 17 anos. Uma vez instalados, os pequenos e os maiorzinhos têm pela frente uma série de atividades recreativas, ecológicas e esportivas. Estão no roteiro caminhar em trilhas mato adentro, jogar futebol na lama, tomar banho de mangueira, acampar e participar de torneios variados. Uma das brincadeiras mais atraentes é a boa e velha gincana. Dividida em equipes, a molecada corre para cima e para baixo em busca de pistas que levam ao tesouro. Entre os desafios está a formação de uma fila em que todos são obrigados a dar as mãos por baixo das pernas. “A gente sempre sabe o que vai acontecer, porque as brincadeiras e os jogos quase não mudam”, conta Sabrina Magalhães, 14 anos, do alto de suas 21 passagens pelo rancho. “Mas, mesmo assim, morro de ansiedade pela próxima vez. Aqui eu extravaso tudo.”

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O isolamento ajuda a desenvolver o espírito de grupo, dando forma a redes sociais à moda antiga. Prova desse sentido corporativo é que os frequentadores ganharam até uma designação específica: rancheiros. Longe do olhar dos pais, eles são vigiados de perto pelos monitores, todos jovens em torno dos 25 anos, numa relação de um profissional para cada grupo de doze hóspedes. Na segunda turma deste verão, à qual teve acesso a reportagem da revista, a tarefa de coordenar a equipe de inspetores coube a Marcelo Izar, professor de educação física de 26 anos. Entre as atribuições de seus pares constavam inventar gritos de guerra e passos de dança para os bailes noturnos, regular o acesso à cachoeira e identificar as crianças com dificuldade de se integrar, seja por timidez, seja por saudade de casa. Cabe a eles também propor brincadeiras. “A informatização geral trouxe um desafio para a gente: as crianças não conhecem mais brincadeiras longe do computador ou do videogame”, diz Izar. “Nosso objetivo aqui não é ser um hotel-fazenda com mil atividades. É fazer com que os pequenos voltem a ser crianças e se sintam confortáveis com isso”, reforça a monitora Joyce Rodrigues.

Criado há 35 anos, o Santa Mônica adota um slogan ambicioso: “O Rancho é um mundo melhor”. Seus preços tampouco primam pela modéstia. Variam numa faixa de 1?400 a quase 2?100 reais per capita, incluídas no pacote as quatro refeições diárias. Apesar de ser uma das mais conhecidas ? e caras ? colônias de férias nessa linha “cabeça”, não é a única alternativa ao alcance dos cariocas (veja exemplos no quadro ao lado, com a programação de inverno). Em comum, essas opções visam a aproximar a criança da natureza por meio de atividades ao ar livre, longe da tela do tablet ou smartphone. Chefe do departamento de psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia, Fabio Barbirato critica o uso exagerado de aplicativos e redes sociais pela turma infantojuvenil, algo que se tornou cômodo para os pais. “Como consequência, as crianças estão cada vez menos sociáveis e não sabem lidar com a frustração, porque, quando isso acontece, elas deletam e desligam a fonte”, diz. Muitas vezes, desplugar é o melhor a fazer.

Fernando Lemos
Fernando Lemos ()
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