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Dos bailes à MPB

Livro reivindica um lugar de honra, dentro da história do pop nacional, para o Roupa Nova, grupo que nasceu nas festas do subúrbio carioca

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 13h52 - Publicado em 21 ago 2013, 18h18

Um enigma sempre rondou a trajetória do Roupa Nova. Adorado por uma legião de fãs (com 33 anos de estrada, permanece lotando shows Brasil afora), o grupo jamais foi colocado, por historiadores ou memorialistas da MPB, em lugar de destaque no pódio. Responsáveis pela massa sonora que caracterizou os arranjos de várias estrelas de nossa música nos anos 80, seus integrantes até já se acostumaram a apanhar da crítica. Há, por exemplo, quem não dê valor à fase inicial da banda (ainda sob outro nome, Os Famks), quando ela animava bailes no subúrbio do Rio. Além disso, existe o questionamento recorrente sobre a qualidade das canções, tidas como melosas, românticas em excesso. Mas essa visão pode estar com os dias contados. VEJA RIO teve acesso, com exclusividade, a trechos do primeiro livro escrito sobre o conjunto ? ainda sem nome definido, a ser lançado pela Record, no selo Best Seller, em outubro. Assinada pela jornalista Vanessa Oliveira, a obra revira preconceitos, conta a história de vida de cada membro, revela brigas com empresários, estratégias de marketing, bem como o momento em que um deles, evangélico, ouviu de seu pastor o convite para abandonar a banda e tocar num grupo gospel. Não foi embora por um triz.

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Usando o nome Roupa Nova desde 1980, a banda é recordista não só em temas de novela (quase quarenta canções, como atesta o site RankBrasil), mas também no que diz respeito à união de seus membros ? a formação original permanece intacta, com os cantores Paulinho e Serginho (também baterista), o baixista Nando, o guitarrista Kiko e, nos teclados, Cleberson e Feghali. Nesse sentido, o livro esclarece logo: foi difícil manter a liga. Houve empresários que quiseram projetar este ou aquele à condição de frontman, inclusive dando pitacos em clipes e sugerindo closes. Entendia-se que seria mais fácil divulgar uma banda que tivesse um líder claramente identificável. Hipótese plausível, mas os próprios rapazes não compravam a ideia. Até hoje, nas entrevistas, eles arranjam um jeito de cada um responder a parte das perguntas, assim ninguém brilha mais do que ninguém. Outra providência tomada pelo grupo, a partir de 1989, foi dividir em fatias iguais o lucro de cada música, independentemente da autoria real. Uma coisa a menos para dar briga.

A biografia (a princípio não autorizada pela banda, numa reunião tensa, mas depois liberada aos poucos, individualmente, pelos seis integrantes) também revela que o grupo precisou, ao pé da letra, trocar de roupa para tentar se manter em voga. Eles usavam trajes coloridos demais até 1984 ? e deram uma repaginada quando, no ano seguinte, contrataram duas empresárias para direcionar a banda. Elas suavizaram o visual com figurinos de cores neutras.

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()
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Especialmente a partir de 1993, viriam tempos tortuosos, com a crise do mercado fonográfico e uma forte concorrência de estilos como o sertanejo e o axé. O Roupa Nova tinha, como tem até hoje, boa entrada na televisão, mas passou a não tocar tanto no rádio. Os shows também minguaram. Sem empresário fixo, houve conversas até com gente ligada ao samba, praia que, definitivamente, nunca foi a da banda. Um produtor de pagode chegou a vaticinar, em 1998: “Não tem solução a carreira de vocês. A música pop acabou”. Foi mesmo uma década difícil, época em que Serginho balançou ao ser chamado para assumir as baquetas de um grupo religioso. E outro golpe duro foi dado em 1999, quando um novo manager exigiu que os dois calvos da banda tosassem bigode e rabo de cavalo, detalhes estéticos que de um modo ou de outro remetiam aos ultrapassados anos 80. Muito a contragosto, eles foram ao barbeiro.

A reinvenção veio em 2004, com um CD em formato acústico. E a carreira deu um upgrade. Em 2009, a banda conquistou o Grammy Latino por um disco gravado no mesmo estúdio dos Beatles. No ano passado, tal como faz Roberto Carlos, o grupo instalou-se num barco, tocando em alto-mar. Hoje, a banda de Clarear e Whisky a Go Go prepara um boxe com cinco DVDs antigos e um EP de inéditas. Na semana passada, durante um show para 5?000 pessoas na quadra da Vila Isabel, Nando disparou mais um de seus discursos alfinetando a mídia. E, valendo-se de um bordão da escola, bradou: “O Roupa Nova não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz boa música também”. Esse é bem o espírito da biografia, uma espécie de libelo contra a exclusão: “Eles fazem parte da história da MPB. Notei que estava faltando nas prateleiras o registro da carreira de uma das maiores bandas do Brasil”, conclui Vanessa Oliveira.

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