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o espetáculo dos livros

Com uma programação recheada de atrações, instalações repletas de recursos tecnológicos e uma fornada de lançamentos, a maior feira literária do país espera atrair um público de 640 000 pessoas

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h52 - Publicado em 26 ago 2011, 15h31

O empurra-empurra e a histeria lembram a catarse coletiva que precede a chegada de um pop star. Seguranças tentam conter o ímpeto dos adolescentes, que gritam eufóricos. Quando as estrelas passam, os fãs deliram, tiram fotos, pedem autógrafos e tentam tocar os ídolos. Tal episódio, típico das portas de estádios e auditórios em dias de show de rock, tornou-se rotina na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Na última edição, em 2009, a americana Meg Cabot, autora de O Diário da Princesa, arrastou uma multidão pelos corredores do Riocentro e provocou uma verdadeira comoção. Na versão deste ano da mostra, que começa na quinta-feira (1º) e vai até o dia 11, prevê-se o mesmo fenômeno em torno da atriz, cantora e agora também escritora Hilary Duff, que atuou nos seriados Lizzie McGuire e Gossip Girl. Aos 23 anos, ela lançará no país Elixir, sucesso de vendas nos Estados Unidos. São ainda esperadas cenas de tietagem explícita em torno das americanas Alysson Noël, da série Os Imortais, e Lauren Kate, criadora da trilogia iniciada com Fallen, e da carioca Thalita Rebouças, que já vendeu 1 milhão de exemplares de doze títulos voltados para o universo juvenil. Com tanta expectativa, tal público ganha pela primeira vez um espaço exclusivo, batizado de Conexão Jovem. ?Não costumamos focar nichos específicos, mas não há dúvida de que esse mercado tem se mostrado importantíssimo para as editoras?, diz Sônia Machado Jardim, diretora do grupo Record e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), organizador da feira.

ilustração eduardo nunes
ilustração eduardo nunes ()

Repleta de números superlativos, com atrações para todas as idades, a Bienal do Rio é o maior evento literário do país. Durante os onze dias da mostra, segundo as previsões, cerca de 640?000 pessoas, multidão equivalente à do Rock in Rio, deverão passar pelos três pavilhões, com área total de 55?000 metros quadrados. Depois de desembolsarem 12 reais pelo ingresso (crianças pagam 6), os visitantes que forem ao Riocentro encontrarão 125?000 títulos distribuídos em 950 estandes de exposição. Além de conhecerem os lançamentos, garimparem raridades e descobrirem pechinchas, poderão usufruir uma extensa programação cultural, na qual foram investidos 4,2 milhões de reais, quase o dobro da edição passada. Talk-shows, debates, apresentações, saraus poéticos, leituras dramatizadas e contação de histórias animarão um auditório e cinco espaços destinados aos encontros entre autores e seus leitores. O número de convidados que participarão de conferências e sessões de autógrafos também está mais encorpado. Serão 171, dos quais 21 vindos de outros países. Estarão lá de campeões de vendas nacionais, a exemplo dos jornalistas Leandro Narloch e Miriam Leitão, a autores de best-sellers globais como William P. Young, de A Cabana, Anne Rice, conhecida por Entrevista com o Vampiro, Patricia Schultz, de 1?000 Lugares para Se Conhecer Antes de Morrer, e Scott Turow, considerado um dos melhores escritores de mistério da atualidade. ?A diferença para outras bienais é que a do Rio virou uma festa. O carioca se apropriou dela com entusiasmo?, resume a escritora Ana Maria Machado, membro da Academia Brasileira de Letras e veterana na mostra.

[—FI—]

Conscientes da disputa duríssima travada com a internet, a televisão e os videogames pela atenção dos leitores infantis, os organizadores se esforçaram para inovar no formato das atrações. A mais vistosa leva o nome de Maré de Livros, um espaço interativo erguido ao custo de 1,5 milhão de reais e com capacidade para receber 4?500 pessoas por dia. Essa novidade promete um mergulho no universo literário com a ajuda de recursos tecnológicos, projeções e efeitos sonoros. O circuito começa em trilhas cujo percurso é pontuado por grandes fitas com palavras impressas que levam a um módulo central, uma espécie de aquário. Rodeado por um painel eletrônico coberto com figuras de inspiração marinha, o visitante pode tocar nas imagens e abrir textos como nos sistemas touch screen dos celulares e computadores portáteis. A experiência termina numa sala com teclados gigantes com sinais de linguagem icônica (símbolos usados na troca de mensagens pela internet) que se transformam em frases. ?A ideia é fortalecer o gosto pela leitura a partir de uma ação de impacto?, explica o historiador e filósofo João Alegria, responsável pela instalação. Outra inovação é a área batizada de Bienal Digital, onde será possível experimentar o prazer da leitura num livro eletrônico. Em seus 120 metros quadrados, diversos modelos de tablet estarão à disposição dos interessados. Embora esse mercado ainda seja diminuto, o horizonte é gigantesco. Só o site Submarino, uma das três empresas que comercializam os downloads de obras literárias, já tem disponível um acervo de 5?000 títulos nacionais e cerca de 2 milhões estrangeiros. ?Não podemos ignorar a ferramenta. Há dois anos, esse tipo de aparelho eletrônico era apenas uma promessa. Hoje, é uma realidade?, afirma Tatiana Zaccaro, gerente da Fagga, empresa que montou as instalações.

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Criada em 1983 como um evento de proporções modestas no Copacabana Palace, a Bienal nasceu com 86 expositores ? menos de um décimo do número atual. Ela cresceu e se multiplicou à medida que deixou de ser um encontro voltado unicamente para a promoção do mercado editorial e se transformou em um grande acontecimento para o leitor. A cada edição, ele é brindado com mais atrações que o aproximam das estrelas da festa, os autores. Lançado em 2009, o espaço Mulher e Ponto, que se propõe a discutir temas ligados ao universo feminino, por exemplo, terá neste ano quinze debates. Com a curadoria da jornalista Sonia Biondo, do programa Superbonita, do canal GNT, estarão em pauta assuntos como sexo, bullying, redes sociais, economia e literatura, claro. A expectativa é que, ali dentro, a presidente Dilma Rousseff fale à jornalista Mônica Waldvogel sobre sua relação com os livros, logo após a inauguração da exposição. Sucesso na última Bienal, a série de leituras dramatizadas também terá uma programação ampliada. Diariamente, textos clássicos serão interpretados por atores conhecidos. Poderão ser ouvidos, entre outros, Rubem Braga na voz de Marcello Antony, Graça Aranha na de Julia Lemmertz e Lima Barreto interpretado por José Wilker. ?A leitura é fundamental para o desenvolvimento das pessoas, e eu farei o que puder para estimulá-las a ler mais. Principalmente aqui no Brasil, onde infelizmente ainda se lê pouco?, diz Wilker.

ilustração eduardo nunes/design Paula fabris
ilustração eduardo nunes/design Paula fabris ()

Assim como acontece em grandes feiras internacionais, entre elas a maior do mundo, em Frankfurt, na Alemanha, o evento carioca costuma escolher um país como tema para cada edição. Depois de os Estados Unidos e várias nações europeias terem sido reverenciadas, o próprio Brasil será o homenageado de 2011. Trata-se de uma escolha oportuna, dado o crescente interesse que obras sobre nossa história têm despertado nos leitores. Um bom termômetro é a lista dos mais vendidos de VEJA, que traz na quinta e na sexta posições 1822 e 1808, escritos pelo jornalista Laurentino Gomes. Juntas, as duas obras, que retratam, respectivamente, os bastidores da independência e a chegada da família real portuguesa, já venderam 1,2 milhão de exemplares ? cifra espantosa em um mercado em que a tiragem média costuma ser de 3?000 exemplares. ?Tenho uma forte ligação com esse evento, porque foi aqui que lancei o 1808, há quatro anos?, recorda Laurentino. No feriado do dia 7, dedicado a uma série de eventos especiais, ele participará de um debate conduzido pela cientista política Lucia Hippólito. Atualmente Laurentino prepara o terceiro volume da série, que se chamará 1889 e terá como tema a proclamação da República. A obra já tem data e local de lançamento definidos: setembro de 2013, na Bienal do Rio. Nem poderia ser diferente.

TORSTEN SILZ/afp photo
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