República das louras
De sabor leve e afeitas ao verão, marcas checas caem no gosto dos cariocas
Na hierarquia das cervejas importadas, dois países sempre tiveram destaque. O mais óbvio deles é a Alemanha, a pátria da bebida por excelência. Merecem realce também os rótulos belgas, com suas receitas milenares que ficaram preservadas em mosteiros trapistas e de gradação alcoólica superior a 10%. Vem de outro lugar do continente europeu, porém, a loura que caiu nas graças dos cariocas. No caso, as marcas procedentes da República Checa, que conquistam espaços cada vez mais generosos nas prateleiras e nos cardápios da cidade. Em 2011, a importação da bebida chegou à casa de 210 000 litros, mais que o dobro em relação ao ano anterior e quatro vezes mais que o volume trazido em 2008. ?É um paladar simples, mas longe de ser simplório. Sua fórmula contém maltes e lúpulos de sabores frutados?, avalia Salo Maldonado, dono do bar BeerJack, que oferece três dos seis rótulos eslavos à venda no Rio.
A boa receptividade pode ser creditada a uma série de fatores. Para começar, as marcas são do tipo pilsen, um gênero de coloração clara e baixo teor alcoólico que responde por mais de 90% de todo o consumo da bebida no Brasil. Ao contrário das encorpadas cervejas belgas, as checas são mais refrescantes, uma virtude sob medida para amenizar as altas temperaturas do Rio, ainda mais no verão. ?Realmente são mais leves e com amargor pronunciado?, descreve o especialista Diego Baião, dono do Boteco Colarinho, que também aderiu a elas. Outro atrativo diz respeito ao bolso. Em botequins e mercados, é possível encontrar garrafas de 500 mililitros por menos de 15 reais, uma boa relação preço-qualidade em comparação com outras grifes internacionais ou com as artesanais brasileiras. Um rótulo belga, por exemplo, chega a custar 300 reais a garrafa de 750 mililitros.
Resultante do processo de fermentação a baixa temperatura, o tipo pilsen ganhou o nome da cidade onde foi criado, nos arredores de Praga, a capital da República Checa. Seu nascimento, em 1842, se deu pelas mãos do mestre cervejeiro bávaro Josef Groll, inventor da variedade de coloração dourada que deu origem à Pilsner Urquell, um dos exemplares disponíveis por aqui, ao lado de Bernard, Czechvar, Diva, Primator e 1795, vendidos em botecos como o Lapa Café, o Delirium Café e o Beertaste. Não demorou para que a novidade se espalhasse pelos vizinhos do Velho Mundo. Trazida pelos colonos alemães, ela chegou ao Brasil no fim do século XIX e se propagou de tal forma que virou sinônimo da bebida no nosso país. Um caso de amor recíproco entre o carioca e uma estrangeira que soube conquistar o seu espaço.