Richebourg – o irmão mais rico do Romanée-Conti
Com muita honra participei de uma vertical de 32 safras de Richebourg, entre 1931 e 2007

Não se assuste com o título acima. O Romanné-Conti continua sendo o vinho mais caro da Domaine de La Romanée-Conti (DRC) e o vinho de maior prestígio do mundo. Quando perguntado, contudo, sobre como descrever o Richebourg, o prorpeitário da DRC,Aubert de Villaine, usou apenas uma palavra: “riqueza”. Afinal, no quesito opulência e riqueza de aromas e sabores o Richebourg por vezes supera seu irmão maior, o Romanée-Conti. Com muita honra participei de uma vertical de 32 safras de Richebourg, entre 1931 e 2007, conduzida por ninguém menos que Aubert de Villaine e sua esposa Pamela. Deixo aqui registrada a imensa gratidão a quem me proporcionou e comigo compartilhou esta oportunidade única.
Filosofia e história
A filosifia de Vilaine, sexta geração à frente desta mítica empresa, é ser discreto, quase austero, como um monge e serviço do terroir. Foi seu ancestral Jacques-Marie Duvault-Blochet, que em 1855 comprou o vinhedo Richebourg e anexou-o aos demais vinhedos da família, que hoje produz 7 famosos Grand Crus, todos de produção muito pequena e alto preço: La Romanée-Conti, Le Montrachet, La Tâche, Richebourg, Romanée-Saint-Vivant, Grands-Échézeaux e Échézeaux. Até 1794 estes vinhedos pertenciam a abadia de Citeaux e antes passaram por várias mãos, entre elas as do prícipe de Conti, que acrescentou seu nome ao mais famoso vinhedo do planeta.
A AOC Richebourg
Não é apenas a DRC que produz o Richebourg, ou seja, este vinhedo não é um “monopole”. A Appellation d´Origine Contrôlée (AOC) Richebourg, localizado na região de Vosne-Romanée no coração da Borgonha, imediatamente ao norte do Romanée-Conti, totaliza 8,03 hectares, dos quais a DRC é o maior proprietário com 3,51 hectares. Embora nenhum outro Richebourg se equipare ao da DRC, esta é uma AOC é muito consistente, e todos são ótimos vinhos. Entre os especialistas em Borgonha é consenso que o Richebourg é o mellhor vinhedo não “monopole” da região. Os monopole de Vosne-Romanée são apenas 4: Romanée-Conti, La Romanee, La Tache e La Grand Rue.
Em termos de terroir os vinhedos Richebourg estão em uma altitude entre 250 e 310 metros, com solo com um pouco mais de argila (e menos calcário) que seu vizinho Romanee-Conti, o que lhe confere o já decantado toque a mais de riqueza e força.
Vinhedos da DRC
A Domaine trabalha com vinhas de ao menos 40 anos de idade. As uvas das vinhas mais novas tem seus frutos separados e vendidos anonimamente a granel. Os rendimentos são ridiculamente baixos, na casa de 25-30 hectolitros por hectare. Todos vinhedos são tratados como orgânicos desde 1986 e em 1990 iniciaram práticas biodinamicas. Desde 2007 todos os vinhedos da empresa já são biodinâmicos. Um batalhão de pessoas trabalha na colheita, 90 trabalhadores colhem durante 10 dias e 14 pessoas trabalham na mesa de seleção de cachos e de uvas. A colheita é tardia, com o objetivo de obter a maturação perfeita das uvas, e extrair taninos de alta qualidade.
Como são feitos os vinhos da DRC
No que diz respeito á vinificação, elaboração dos vinhos da DRC é simplérrima. O conceito do enólogo Bernard Noblet e do proprietário Aubert de Vilaine é de serem apenas intermediários entre o solo e o vinho, proporcionando a mais pura expressão do terroir, com o mínimo de intervenção possível. Segundo palavras de Villaine, “não há nada mais difícil do que ser simples”.
(Aubert de Villaine e sua esposa Pamela na vertical do Richebourg )
Normalmente usam a maior parte dos engaços (finos caules que formam os cachos). Quanto melhor a safra, menos desengaçam e algumas como 1999 e 2005 usaram 100% de engaços. Os engaços podem trazer notas herbáceas e de amargor, mas trazem distinto aroma florais dos vinhos da DRC. A fermentação ocorre em toneis de madeira e as uvas, que estão a 15oC naturais, começam a fermentar lentamente e podem chegar a 35oC (não há resfriamento após o inicio da fermentação. Tudo segue naturalmente, com leveduras selvagens e pigeage (mistura do mosto com a parte sólida – cascas e engaços) manual duas vezes ao por dia, com 17-21 dias de maceração.
Em alguns raros anos fazem chaptalização (adição de açúcar ao mosto) e nomelmante usam cerca de 10% é vinho de prensa. Depois da débourbage (decantação) os vinhos fazem a fermentação malolática em barricas com as borras finas em barrica 100% novas de carvalho. As madeiras usadas são das florestas de Tronçais e Bertranges, selecionadas pela DRC e secas sob supervisão da Domaine por 3-4 anos. Depois as barricas são feitas por François Frères especialmente para a DRC. Algumas barricas são compradas diretamente da Taransaud. Os vinhos amadurecem em barricas por cerca de 18 meses e nunca são filtrados no engarrafamento.
O Richebourg da DRC
Elaborado 100% com uvas Pinot Noir e com produção entre 12-14 mil garrafas ao ano, o Richebourg DRC no Brasil está disponível na Expand por R$ 3.950,00 – safra 2007, ou R$ 4.890,00 – safra 2008. Safras mais antigas e raras podem alcançar altas cifras em leilões.
Dos vinhos da DRC o Richebourg é mais masculino, como já dito, com mais obviamente opulento, suntuoso e exótico, e um dos mais longevos – viril quando jovem, precisa de ao menos uma década para atingir a complexidade e evolui muito bem por várias décadas, como a prova a seguir nos comprova.
Degustação e emoção
A prova foi composta de 32 safras, entre 1931 e 2007 (com 1 safras em garrafas magnum, 1953 e as demais com duas garrafas de cada vinho). Quando falamos de caldos desta idade não falammos mais de safras e sim de garafas, já que após mais de 80 anos, como no caso da safra de 1931, cada garrafa traz sua história. Alguns resultados comprovam esta teoria, já que a famosa safra de 1959 foi de longe superada pela teoricamente inferior 1955.
É dificil descrever a emoção de uma prova como esta, cobrindo 8 décadas de um dos maiores vinhos de todos os tempos, em especial pela presença do personagem que escreve a história, Aubert de Villaine. É inesquecível, entrou para meu currículo não apenas profissional, mas de vida. O sorriso não ia de orelha a olha, mas da ponta do pé ao último fio de cabelo. Publicarei aqui os vinhos com as 11 maiores notas em ordem decrescente de safra, facilitando a leitura. Consulte a tabela com todas as safras e notas.
DESTAQUES
Rubi muito claro, ainda jovem e frutado, perfil doce no nariz, com forte acento mineral e pleno de especiarias exóticas. Paladar, como todo Richebourg conjuga a leveza da Borgonha com uma estrutura sólida de taninos e acidez, bastante seco com taninos finíssimos bem presentes, ainda uma criança.
Nota: 96 pontos
Cor jovial, aroma com frescor mineral, potente e elegante, Paladar estruturado por taninos extremamente finos e em grande equilibrio. Um Richebourg muito bem proporcionado e para longuíssima guarda.
Nota: 97 pontos
Que finesse! Que complexidade! Cor Granada, com aromas delicadamente florais e minerais, com noytas de terra molhada e frutas secas, cerejas, paladar encorpado, bastante seco, com taninos presentes, meio de boca gordo, vivo, em um ótimo momento, entrando em seu auge. Nota:pontos
Exuberante.Lembra um Porto velho no nariz, com muitos cogumelos, musgo, especiarias. Paladar largo no meio de boca, rico no nariz e boca, pronto e em seu auge, delicioso.
Nota: 97 pontos
Alaranjado claro, muito expressivo, falando alto, com notas de musgo, frutas doces, especiarias exóticas, nota vegetal. Paladar largo, macio, boa acidez, aberto em seu auge, delicioso.
Nota: 97 pontos
Ao mesmo tempo bastante evoluido e com muito frescor. Elegante, mineral, finíssimo no nariz e boca, paladar ainda bem vivo, com taninos finos e vivos, boa acidez. Longo, sedutor, multi-dimensional, solar, Perfeito!
Nota: 100 pontos
Primeira garrafa aberta esta va defeituosa, a segunda um esplendor próximo a perfeição, um vinho maduro mas com vida pela frente, demosntrando extremo equilibrio, força e elegância. Nota: 99 pontos
Alaranjado claro. Elegante e delicado Perfumado e expressivo. Floral e com muitas especiarias. Paldar macio, muito longo, exuberante.
Nota: 98 pontos
Cor já quase marrom. Nariz encantador, floral, ainda com notas de frutas primárias, mas emolduradas por resinas, mel, couro, madeiras, especiarias,defumados. Paladar perfeito, comoventemente macio, untuoso e delicioso, muito longo com toque de amargor no final.
Dá vontade de beber de golão. Segundo comentários feitos durante a degustação por Aubert de Villaine, este foi um vinho feito pelas mulheres já que os homens estavam na guerra.
Nota: 100 pontos
Cor marrom claro, totalmente etéreo, muito expressivo, com notas animais de caldo de carne, couro, aromas terrosos como musgo, notas salgadas, fundo de copo de passas. Paladar amplo e muito macio, untuoso e extremamente longo.
Nota: 96 pontos
Quase um Porto. Muito evoluido, complexo com muitas especiarias e aromas de doçura, mel, caramelo, melaço. Paladar denso, untuoso, quase cremoso, suculento, muito longo e com amargor no fim de boca. Uma viagem no tempo, emocionante.
Nota: 98 pontos