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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Marcelo Copello entrevista Aubert de Villaine, do Romanée-Conti

Para os discípulos de BACO a Borgonha é uma espécie de Vaticano e Aubert de Villaine, dono do Domaine de la Romanée-Conti, um Papa.

Por marcelo
Atualizado em 16 jun 2018, 01h17 - Publicado em 16 jun 2018, 01h17
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Para os discípulos de BACO a Borgonha é uma espécie de Vaticano, centro de convergência de nossa quase-religião vínica. Neste contexto a Domaine de La Romanée-Conti (DRC) seria uma Basílica de São Pedro e seu proprietário, Aubert de Villaine, um Papa. Esta comparação expressa a relevância deste produtor, mas não seu espírito e postura, que está mais para a de um humilde monge à serviço do terroir, do que para a do supremo pontífice. Estive na Borgonha e visitei a DRC. Aubert de Villaine me recebeu e pessoalmente me serviu todos os seus vinhos da safra 2012, diretamente da barrica.

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A filosifia de Vilaine, sexta geração à frente desta mítica empresa, é ser discreto, quase austero. Foi seu ancestral Jacques-Marie Duvault-Blochet, que em 1855 comprou o vinhedo Richebourg e anexou-o aos demais vinhedos da família, que hoje produz 7 famosos Grand Crus, todos de produção muito pequena e alto preço: La Romanée-Conti, Le Montrachet, La Tâche, Richebourg, Romanée-Saint-Vivant, Grands-Échézeaux e Échézeaux. Até 1794 estes vinhedos pertenciam a abadia de Citeaux e antes passaram por várias mãos, entre elas as do prícipe de Conti, que acrescentou seu nome ao mais famoso vinhedo do planeta.

Com seu jeito sereno, Villaine estava muito alegre quando me recebeu, pela recém candidatura dos vinhedos da Borgonha à  patrimônio da Unesco. Uma curiosidade – ao provar o Romanée-Conti, ultimo vinho da prova, eu procedi como em todos os outros vinhos que provo à trabalho e cuspi o gole quase-sagrado. Fui represendido. Monsieur de Villaine me disse que seu avô lhe ensinou que “Romanée-Conti nunca se cospe!” Para mim foi uma ótima desculpa para pedir mais uma taça e constatar que o Romanée-Conti é um daqueles vinhos que nos deixa tontos, pois muita coisa acontece em nosso palato ao mesmo tempo. É muita informação. Uma explosão de aromas e sabores, ao mesmo tempo firme e de extrema finura e delicadeza. Que fique registrado todos os DRC 2012 estão excelentes e que o vinho que mais chamou à atenção nesta prova foi, além do Romanée-Conti, o Richebourg. Vamos à entrevista!

CLIQUE AQUI VEJA O VÍDEO DA ENTREVISTA COMPLETA

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E abaixo a entrevista transcrita

Marcelo Copello: Nós acabamos de provar todos os seus vinhos e quando provamos o Romanée-Conti eu me disse muito emocionado. O Sr respondeu “eu também”.

Aubert de Villaine: Sim, eu também. Toda vez que provo o Romanée-Conti me emociono, pois este é um vinho que tem centenas de anos de história, desde o príncipe de Conti, desde o jeito como ele costumava provar este vinho, das cartas que ele escrevia a seus viticultores sobre cada detalhe.

MC: Este vinho é um pedaço de história. É história líquida.

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AV: E cada vez que provo o Romanée-Conti eu penso como posso melhorá-lo. Penso o que posso fazer para melhorar. Eu sei que há maneiras, pois nunca está perfeito. Este 2012 que provamos está maravilhoso, mas nunca perfeito.

MC: Se não é perfeito está muito perto da perfeição!

AV: Sim, este 2012 expressa o verdadeiro caráter e estilo do Romanée-Conti.

MC: Estávamos falando sobre o o reconhecimento dos vinhedos da Borgonha como patrimônio mundial da UNESCO e o Sr estava muito contente.

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AV: Sim, este trabalho começou em 2007, foi uma longa jornada, e em 2014 finalmente apresetaremos a proposta à UNESCO e esperamos que em 2015 estejamos listados entre os patromônios mundiais.

MC: O Sr. poderia definir em algumas palavras o que é a Borgonha? Sei que não é uma pergunta fácil…

AV: É um tesouro. É um tesouro que eu espero que nós consigamos preservar como é. Você mencionou a palavra “único” anteriormente. É um tesouro único.

MC: A história aqui é muito ligada à Igreja, aos monges.

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AV: Muito. Na verdade não foram os monges que inventaram os vinhedos aqui. Quando eles chegaram, no século VI, VII, todos os vinhedos já existiam. Mas foram os monges que descobriram que com uma variedade, a Pinot Noir, era possível fazer vinho de alta qualidade. Aos poucos eles tiraram as outras uvas e se concentraram na Pinot Noir, e perceberam ao mesmo que havia diferenças entre cada vinhedo. A uva seria a tradutora destas diferenças. Eles perceberam que havia uma hierarquia natural entre os vinhedos, que nós hoje reconhecemos com denominações de origem, as AOC (Appellation d’Origine Controlée).

MC: Que conselho o Sr. daria a um jovem produtor de vinho?

AV: Eu diria: ouça seus vinhedos, ouça suas videiras, seja humilde em relação a elas. Mesmo que você tenha muita ciência, muito conhecimento, não ache que você saiba alguma coisa. Só seja humilde e ouça as suas videiras.

MC: Comporte-se como um monge?

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AV: De um certo modo, sim. E busque a perfeição.

MC: O Sr. acredita em Deus?

AV: Eu acho que sim. Você sabe, este é o tipo de coisa intuitiva. Eu acho que sim, pois não acho que as coisas seriam realmente compreensíveis sem ele. Mas o que é Deus? Eu acho que acredito no espírito.

Aguardem no próximo post uma incrível vertical de 32 safras de Richebourg DRC.

Marcelo Copello (mc@marcelocopello.com )

www.marcelocopello.com.br

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