Estou nas mãos do mistério, ando me transformando em algo que ignoro. Meu corpo, em forma de mundo aberto, se reconstrói segundo um esquema que lhe é próprio. É uma revolução. O que é disforme se torna preciso, se desenha, se redefine tranquila e brutalmente. Ser eu, hoje, significa recusar o consenso. É dia de quarta de cinzas e depois de experimentar uma alegria intensa, própria do desprendimento do carnaval, talvez eu e você precisemos de uma dose da minha fé no amor.
A partir daqui a tua história de vida é tua. A minha é a minha. As pessoas não têm essa consciência, de que escrevem uma história enquanto vivem. A verdade é que o cruzamento dos olhares nos mantém vivos – aquela tensão de seus encontros inesperados, inconfessáveis, improváveis. A cura é um ato de comunhão. Raramente nós nos curamos em isolamento.
No intervalo de segundos, o desejo silencioso “crava seus olhos nos meus” derrete alguma coisa em mim. Quero fechar minhas fronteiras, resistir a invasão, mas talvez eu já esteja cercada. Como diz a escritora Socorro Acioli no livro Oração para Desaparecer : sempre chegamos ao sítio onde nos esperam.
Muitos de nós, mulheres e homens, somos incapazes de lidar com a realidade do que significa ter uma conexão intensa que altera nossa vida mas que não levará a um relacionamento duradouro ou sequer a um relacionamento. Porém, o ato de se abrir é uma maneira de buscar o amor.
Escolho caminhar feito fera pela espinha dorsal do mundo. É preciso acreditar nas feras, em seus silêncios, em seu comedimento, no retraimento que trabalha o corpo e a alma – também em seus sinais de alerta. Quando temos clareza na mente e no coração, somos capazes de conhecer o prazer de nos envolver no mundo sensual à nossa volta com um prazer imediato e profundo.
Ao longo da nossa vida, encontramos muitas pessoas pelas quais sentimos que aquele clique especial poderia nos levar para o caminho do amor. No entanto, esse clique não é a mesma coisa que uma conexão da alma, um vínculo mais profundo.
Nós só podemos ir da paixão perfeita para o amor perfeito quando as ilusões acabam e somos capazes de usar a energia e a intensidade criada por um laço erótico para aumentar a autodescoberta. Não há saída para fora.
Estou nas mãos do mistério. O vento conta. As nuvens ensinam. As almas voltam para dizer. As cartas avisam. É tudo caminho de verdade. Os astros no céu… é tudo caminho de entender a vida na terra.
Somos nós, os videntes do invisível, que iluminamos os céticos.