Tem ido lá?
Os comentários que recebi no post anterior me fizeram lembrar de uma história parecida com a da “dentista”. Só que o problema dessa vez foi a minha falta de memória. Enquanto a minha vez não chegava na fila da pipoca, uma mulher riu pra mim. Ri pra ela também, já que sou a fofura em […]
Os comentários que recebi no post anterior me fizeram lembrar de uma história parecida com a da “dentista”. Só que o problema dessa vez foi a minha falta de memória.
Enquanto a minha vez não chegava na fila da pipoca, uma mulher riu pra mim. Ri pra ela também, já que sou a fofura em pessoa. O problema é que a dona do sorriso veio na minha direção.
— Thalitaaaa! Há quanto tempoooo! — exclamou, enquanto seu abraço me botava mil pontos de interrogação na cabeça.
De onde eu a conhecia? Pra que um sorriso mostrando tantos dentes? Quem era ela?! Pensa, Thalita! E rápido! Melhor se desculpar e dizer logo a verdade, que você não tem a minúscula ideia de quem ela é.
Cruel, mas sincero. E meu lema é sinceridade acima de tudo.
— Bota tempo nisso, menina!
Ok, não deu pra ser sincera. É que ela me olhava com tanto carinho e tanta intimidade que não consegui fazer outra coisa.
— Como é que você tá? E sua avó?
Glup! Ela conhecia a minha avó! Qual das duas? E de onde? Uma luz, por favor!
— Estamos ótimas — respondi, maldizendo minha memória.
— Que bom. Mas e aí? Tem ido lá?
Lá?! Lá onde?!
Praia, academia de yoga, Baixo, curso de culinária, Casa da Matriz, Bar Urca… “Lá” é muito pouco! Que angústia! De que “lá” ela me conhecia? O que dizer numa hora dessas?
— Nunca mais fui lá.
— Não creiooo! Sério?
Os seus olhos estavam tão arregalados, tão indignados. Ela estava absolutamente chocada.
Ai! Meu! Deus!
— S-s-sério.
— Nunca achei que fosse ouvir isso de você, Thalita.
Eu suava frio. Precisava logo de uma pista para descobrir quem era ela. Pra isso era necessário entrar no jogo.
— Arrã… Mas… E você? Tem ido lá?
— Imagina! Depois daquilo tudo? Nem se eu fosse louca!
Daquilo tudo? Daquilo tudo o quê? O quê?! Por que eu não fui sincera? Agora a curiosidade estava me matando. “Aquilo tudo” podia ser tanta coisa… No mínimo um bafo daqueles! Bafão! Fofocona!
— Aprendi muito com o que aconteceu, mas otária eu não sou, não! Não sou mesmo!
Gente, o que essa mulher fez? Ou o que fizeram com ela? Droga!
— Isso mesmo! — concordei. — Nessa vida a gente não pode dar mole, não!
— Claro! Mas e as meninas, cê tem visto?
— Nunca mais.
O que mais eu poderia responder?
— Vai pagar como, moça? — perguntou a mulher do caixa. Viva ela!
— Dinheiro — disse, já dando o valor contadinho, pra não precisar de troco e aliviar logo meu sofrimento. — Tenho que ir, querida, daqui a pouco o meu filme começa. Adorei te ver!
— Também. Vamos marcar qualquer dia!!!!!! — sugeriu a desconhecida, com mil exclamações.
— Claro! — menti, com uma exclamação só.
— Por que você não passa no quiosque amanhã? Vai estar todo mundo lá. Todo mundo do bem, obviamente! Você sabe de quem eu tô falando, né?
— Ô, se sei…
Assunto encerrado, caminhei com a pipoca na mão rumo à sala do filme.
Mas o mistério permanece até hoje. E o medo de encontrá-la de novo também.