Pérolas da minha caixa postal
Antes da Bienal, eram cerca de 100. Depois dela, passaram a chegar uns 160 emails por dia. Embora eu não consiga responder, a leitura dessas mensagens sempre me encheu de alegria. Dá força receber tanto carinho, emociona saber como os meus livros mexem com as pessoas. Mas às vezes os emails me surpreendem e/ou me […]
Antes da Bienal, eram cerca de 100. Depois dela, passaram a chegar uns 160 emails por dia. Embora eu não consiga responder, a leitura dessas mensagens sempre me encheu de alegria. Dá força receber tanto carinho, emociona saber como os meus livros mexem com as pessoas. Mas às vezes os emails me surpreendem e/ou me fazem rir. Abaixo, alguns trechos dessas pérolas.
“Thalita, tenho que fazer um trabalho pra escola, valendo nota, do Fala Sério, Amor!. Você pode me ajudar? Você só precisa escrever um perfil curto de cada personagem (máx. 7 linhas) e depois um resumo da história (máx 20 linhas). Se eu copiar resumo da Internet a prof vai perceber, vou tirar zero e ainda vou levar esporro. Não demora, por favor! Tenho que entregar daqui a 2 dias. Valeu!!!!!!”
Que tal? E eu que achava que EU era cara de pau… Tsc, tsc, tsc.
“Thalita, atachado vai um livro que escrevi sobre física quântica e sua relação com astrologia. Parece complexo, mas não é. Foram anos de estudos. Leia, revise, escreva o prefácio e o encaminhe à sua editora com uma carta de recomendação. Você não vai se arrepender. Espero uma resposta rápida, ok? Não me decepcione. Pela atenção, obrigado.”
Detalhe: o livro tinha 1200 páginas.
“Querida Thalita, é com júbilo maior que lhe escrevo esta missiva eletrônica. Sou um escritor cujo sonho é publicar um livro e me lançar nessa carreira que lhe abraçou tão intensamente. Escrevi um livro, um dos melhores que já li, modéstia à parte, e gostaria, com a sua ajuda, de publicá-lo. Você não precisa nem ler a minha obra. Eu lhe garanto: ela é excelente. A única coisa que peço é que você assine o livro comigo. Com o seu nome ao lado do meu, garanto a minha entrada no mundo das letras. Os direitos autorais serão, evidentemente, divididos em percentuais que podemos negociar. Que tal? Proposta irrecusável, não?”
Recusei a proposta irrecusável e recebi de volta um email indignado, com mil desaforos raivosos e palavrões impublicáveis. Tadinha de mim.
“Thalita, tenho 12 anos e 7 meses e tô pronta pra beijar. Minha mãe não acha isso, mas eu acho. Por isso, vim te pedir ajuda. Me ensina a beijar? Onde boto a língua? O que faço com ela? Posso treinar na tela do computador?”
Mensagens desse tipo eu recebo aos montes (com algumas variações). E, não, não acredito que ninguém, em tempo algum, seja capaz de ensinar a beijar via email.
“Thalita, adoru seu geito expontanio. kero iscreve un livro, mais num sei pur onde comessa. Td mundu diz que nassi p issu. Mi ajuda?”
Esse eu não resisti e respondi: “Comece lendo muito. Muito mesmo. Só assim você vai ganhar intimidade com a nossa língua para depois pensar em escrever um livro. Boa sorte!”
“Thalita, trabalho como DJ há muito tempo. Mando bem, boto geral pra dançar. Mas preciso virar um DJ-celebridade pra ganhar mais dinheiro. Você deve conhecer todos os DJs-celebridades. Me dá o email deles? Aí eles podem me passar as festas que eles não quiserem fazer. PS: Tenho 13 anos, nunca li nenhum livro seu, mas te adoro. Minha vizinha leu todos. Se você me ajudar prometo fazer sua próxima festa de graça.”
Hum… É… Assim… DJ-celebridade? Por que ele acha que eu conheço “todos os DJs-celebridades”? Quem são os DJs-celebridades? Tive vontade de dizer: inscreva-se no próximo BBB. Mas ele tem só 13 anos.
Viram como é divertido? Vou pegar emprestado o bordão do meu vizinho de blog, Bruno Chateaubriand: “é cada uma que parece duas”. Ou três.