O maravilhoso mundo das crianças
Desde que lancei meu primeiro livro infantil, “Por que só as princesas se dão bem?”, passei a ter maior contato com o maravilhoso mundo das crianças. Nunca soube falar com elas. Não tinha jeito, tampouco palavras, não compreendia mesmo. Com a primeira edição esgotada em menos de um mês, entendi que sabia, sim, me comunicar, […]
Desde que lancei meu primeiro livro infantil, “Por que só as princesas se dão bem?”, passei a ter maior contato com o maravilhoso mundo das crianças. Nunca soube falar com elas. Não tinha jeito, tampouco palavras, não compreendia mesmo. Com a primeira edição esgotada em menos de um mês, entendi que sabia, sim, me comunicar, e muito bem (modéstia à parte), com pirralhos, que era tudo paranoia da minha cabeça, que eles são seres inofensivos e fáceis de conversar.
Em diálogos que mostro a seguir, provo o quão errada eu estava.
Caio – 3 anos
Fui visitar a prenha mais prenha do Oeste, a barriguda mais linda do Leblon, Ednica, amiga de longa data, e levei uma linda roupinha de bailarina/princesa (ou seria princesa/bailarina? Ou rainha-excêntrica-que-se-veste-de-bailarina?) para Dora, que ocupa sua barriga no momento. Caio me recebeu na porta e ao olhar o pacote na minha mão perguntou:
– É pa mim?
– Não… É pra sua irmã.
– Só pa Dora? Não touxe pesente pa mim, Thalita?
E aquela cara de cachorro cruelmente abandonado na estrada me cortando o coração.
– N-não… Desculp…
– Por quê? Por que você não touxe pesente pa mim?
– Porque tia Thalita é burra, insensível, não sabe lidar com criança, tia Thalita é uma péssima pessoa, péssima pessoa! – disse, à beira de um ataque de nervos, pronta para derramar um rio de lágrimas infantis.
– Tudo bem. Taz pa mim quando vier visitar a gente de novo, tá?
– T-tá…
– Não esquece, tá?
– Tá…
E virou as costas.
Simples assim. E eu nem precisei chorar para que ele me perdoasse.
– – – – –
Catarina, 5 anos
Dia de luz, festa do sol, calor escaldante e eu, Catarina e sua mãe, Duca, no conforto do ar-condicionado vendo filminho inofensivo na TV aberta. Foi só esse ser iluminado chamado Mãe deixar o recinto para entrar o anúncio da Olla, o preservativo.
Achei que fosse passar batido, mas ao fim do comercial, a pergunta que eu não queria ouvir:
– Tia Thalitinha, o que é camisinha?
– É uma camisa pequena – respondi de bate-pronto.
Eu sou um arraso mesmo.
– Mas por que as meninas do anúncio, que não são pequenas, estão sem camisa?
Catarina arrasou comigo.
– É… é… é… Pergunta pra mamãe quando ela voltar.
– Não. Quero que você responda, tia Thalitinha. Um monte de coisas que eu pergunto pra mamãe ela não responde.
– Porque não é pra criança saber.
– Mas se camisinha é uma camisa pequena, então é pra criança – concluiu. – E eu sou criança e quero usar camisinha.
– Nããão!
– Eu quero usar camisinhaaaaa!!!
Duca voltou no momento em que a criança berrava esse absurdo.
E me fuzilou com os olhos.
– Mamãe vai comprar uma camisinha, um vestidinho e uma sainha pra você no seu aniversário, combinado?
– Ebaaaaa!
E assim o assunto foi encerrado, sem que eu tivesse de falar de cegonha, de papai e mamãe num momento de amor…. Ufa!
– Tem certeza de que essa pessoa tem só cinco anos? – perguntei indignada, assim que o filme de princesa recomeçou.
– – – – –
Bia – 8 anos
– Dinda, a mamãe disse que você fez um livro inspirado em mim. O que é inspirado?
– A personagem principal é baseada em você, boneca.
– O que é baseada?
– A dinda pegou você de modelo para escrev…
– Modelo? Eu sou modelo?
– Não! Não esse tipo de modelo.
Tarde demais. A pirralha já estava desfilando toda rebolativa e exibida na sala. Tão minha afilhada!
– Eu sou modelo. Eu vou ser modelo, dinda!
– Gisele que se cuide! – brinquei.
– Gisele? Quem é essa?
Ufa! Nem tudo estava perdido. Minha pirralhinha ainda era só uma pirralhinha.
– – – – –
Anônima, aproximadamente 7 anos
No lançamento do meu livro, uma bela menina de cachinhos de aproximou.
– Minha mãe falou pra eu vir aqui pedir pra você assinar meu livro, não sei por quê.
– Porque esse livro é meu.
– Não é não. É meu, acabei de ganhar.
– Eu sei, mas eu que escrevi, por isso…
– Manhê! A moça tá dizendo que o livro é dela! Não é! Não ééé!
E saiu correndo como se perseguida pelo Bicho Papão (as crianças de hoje ainda têm medo do Bicho Papão?), o choro pronto para jorrar com força pelas rosadas bochechas.
Pais e mães, melhor vocês não deixarem suas crianças perto de mim.