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Ricardo Kosovski e o filho Pedro conversam sobre a peça “Tripas”

Pedro Kosovski dirige o pai em espetáculo criado após uma grave doença

Por Renata Magalhães
Atualizado em 18 out 2017, 20h04 - Publicado em 18 out 2017, 16h27

Após nove meses de internação e três cirurgias decorrentes de uma crise de diverticulite aguda, Ricardo Kosovski fez um acordo, ainda na UTI, com seu filho Pedro: quando saísse de lá, iriam viajar o mundo juntos. A dupla decidiu resgatar raízes e visitou Tel Aviv, em Isarel. Foi daí que surgiu a dramaturgia de Tripas, espetáculo que apresenta a história de um homem preso na fronteira do golfo, cercado por observadores internacionais – no caso, a plateia do Sesc Copacabana, onde a peça segue em cartaz até o dia 29.

Pedro Kosovski assina o texto do solo e dirige o pai, Ricardo, em cena. A peça, aliás, celebra os 40 anos de carreira do ator, que completou 60 anos no último mês de junho. Ao longo da narrativa, ele se dirige a plateia, contando fragmentos de sua história. Com uma peça verdadeiramente “em família” – a irmã Lídia Kosovski assina o cenário e a sobrinha Marina Kosovski é responsável pela arte –, a VEJA RIO convidou pai e filho para um bate-papo. Será que foi fácil para eles trabalhar juntos? Leia tudo abaixo:

Pedro Kosovksi: Diferente de mim, sua família não tem nenhuma relação com as artes. O que significou para você optar pelo teatro como profissão em seu contexto familiar?
Ricardo Kosovski: Eu me considero um cara de uma família de teatro. Acontece que sou o patriarca dessa família, justamente por ser o primeiro a ocupar esse espaço de representação. Fazendo uma analogia com o nosso espetáculo, que passa por essa questão de ancestralidade, tenho a mesma sensação que os meus avôs quando atravessaram a pé a Europa para cruzar o oceano e estabelecer a vida na cidade do Rio.

PK: Você começou a fazer teatro nos anos 70. O que aquele jovem aconselharia o sexagenário do século XXI?
RK: O jovem Ricardo aconselharia o velho Ricardo a fazer exatamente o que ele está fazendo: uma retomada. Claro que a peça parte de uma doença, então houve uma aproximação natural entre meu filho e eu. Mas o desenvolvimento de um projeto juntos foi algo orgânico. Então ele diria para que eu olhasse para trás, enquanto estou olhando para frente. Faça o que você só faria se você fosse um jovem! Um grande amigo assistiu ao espetáculo e disse que a década de 70 nunca esteve tão bem representada no século XXI. Acredito que isso se deva justamente à fusão com o resgate que trabalhar com o meu filho trouxe.

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PK: Nietzsche diz que o filho é o segredo revelado do pai. Que segredo você me revelaria?
RK: Este trabalho me fez descobrir, paradoxalmente, que eu não sou meu filho e meu filho não sou eu. Essa fábula não existe, é uma construção. Apesar dos laços sanguíneos e ancestrais, na sala de ensaio e ao longo da temporada, somos apenas dois homens artistas que vêm do mesmo lugar e se confrontam constantemente com ideias autônomas e independentes entre si.

(Lourenço Monte/Divulgação)

Ricardo Kosovski: Onde eu apreço e onde desapreço como pai ao longo do nosso processo de criação?
PK: A ideia inicial da peça parte dele e da nossa relação onde esse pai está presente. Justamente no processo de criação da peça que, pouco a pouco, a figura paterna foi desaparecendo. Afinal, temos que lidar com circunstâncias que não são exatamente de pai e filho, mas de dois artistas de teatro. A peça pronta, vista pelo público, é o que resta deste desaparecimento. E isso é o mais bonito do projeto.

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Ricardo Kosovski: O fato de nós termos um laço tão forte inibe ou desinibe o processo?
PK: 
Esse laço é o motivo deste trabalho e tenho certeza que todo esse processo fortaleceu ainda mais a nossa relação. Descobri que o ator que existe por trás do meu pai e percebi que ele não é muito fácil; talvez ele seja ainda mais exigente como ator do que é como pai (risos)!

Ricardo Kosovski: Inspirado na sua pergunta, te questiono: que conselho você me daria?
PK: Meu conselho é justamente a maneira como encaminhei a direção do espetáculo. Não é fácil de colocar diante dos olhos do público, então estamos sempre tentando o nosso melhor. Para essa peça, quis mostrar quase o contrário e apresentar as nossas fragilidades. Procurar esse lugar que nos coloca vulneráveis e expostos, pois só assim conseguimos criar empatia com o público, que consegue se identificar naquela história.

Sesc Copacabana. Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana. Sexta e sábado, 19h; domingo, 18h. R$ 30,00. Até o dia 29.

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