Um papo com Enrico Bonavera, expoente da commedia dell’arte
Forma de teatro popular cujas origens datam do século XV, na Itália, a commedia dell’arte floresceu pelas mãos de companhias itinerantes que se apresentavam em praças públicas. As encenações eram basicamente improvisadas em cima de um repertório de situações corriqueiras, com personagens arquetípicos que apareciam recorrentemente nas histórias. O tom era invariavelmente cômico, e era […]

Forma de teatro popular cujas origens datam do século XV, na Itália, a commedia dell’arte floresceu pelas mãos de companhias itinerantes que se apresentavam em praças públicas. As encenações eram basicamente improvisadas em cima de um repertório de situações corriqueiras, com personagens arquetípicos que apareciam recorrentemente nas histórias. O tom era invariavelmente cômico, e era comum o uso de máscaras e o apelo a acrobacias e mímicas. A popularidade do gênero durou até o século XVIII, mas, ainda hoje, há companhias e artistas que se dedicam a resgatar aquele estilo de teatro. É o caso do italiano Enrico Bonavera, do prestigiado Piccolo Teatro de Milão. Reconhecido como um dos maiores nomes da commedia dell’arte, ele já ganhou um Arlecchino d’Oro, prêmio máximo dedicado a este gênero na Europa. Há cinco anos, ele vem se dedicando a intercâmbios culturais em parceria com o Grupo Teatral Moitará (do excelente Acorda, Zé! A Comadre Tá de Pé!). Na próxima sexta (17), às 19h, Bonavera apresenta, no Teatro Serrador (de graça!), o solo I Secreti di Arlecchino, no qual reúne todos os personagens típicos da commedia dell’arte em um só espetáculo. O italiano conversou com o blog sobre o gênero ao qual vem se dedicando. Confiram:
De onde vem o seu interesse pela commedia dell’arte?
Minha paixão pelo teatro nasceu aos 18 anos, estudando (o dramaturgo italiano) Dario Fo, (a companhia de teatro americana) Living Theatre, (o dramaturgo alemão Bertold) Brecht. Então, eu conheci alguns atores do grupo de (Jerzy) Grotowski (diretor polaco), em cujo grupo de teatro eu trabalhei por sete anos. Nesse ínterim, eu encontrei as máscaras graças a Donato Sartori (um dos maiores artesãos de máscaras do mundo), e me apaixonei pela máscara de Arlequim. Acho que tem a ver com memórias da minha infância, já que meu avô escreveu comédias e foi um grande admirador de (Carlo) Goldoni (um dos maiores difusores da commedia dell’arte). Em 1983, entrei em contato com (o ator italiano) Ferruccio Soleri, que me aceitou como aluno, depois de três audições. Entrei no Piccolo Teatro de Milão em 1987 e fiquei até 1990. Depois, retornei a ela, em 2001, e lá estou até agora.
A história da commedia dell’arte tem suas origens no século XV, e o gênero manteve sua popularidade até o século XVII. O que ele tem a nos dizer hoje, no século XXI?
É uma pergunta difícil de responder. A commedia dell’arte deixou de existir no final do século XVIII. E renasceu no início do século XX, graças aos estudos de grandes diretores de teatro, como (o francês) Jacques Copeau, (os russos) Meyerhold e Vakhtangov. E, depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947, na Itália, graças a Gianfranco De Bosio e Ludovico Zorzi. Hoje nos interessa porque é um gênero muito imediato, que, além de máscaras e fantasias, não exige grandes equipamentos cênicos. Em sua farsa, há muita diversão para o público.
Você já se apresentou em várias partes do mundo. O que, no estilo de atuação da commedia dell’arte, faz com que as montagens desse gênero sejam tão facilmente assimiláveis nos lugares mais distintos?
A commedia dell’arte usa diferentes níveis de linguagem simultaneamente: o tom de voz, a expressividade do corpo, os gestos, a técnica de máscara. Isso torna possível compreender o personagem e a cena para além de muitas línguas que não o italiano. Mesmo na Itália, os dialetos não são compreendidos por muitos. O dialeto napolitano, por exemplo, é muito diferente do de Bergamo. Podemos chamar a técnica da commedia dell’arte de “realismo estilizado”.
Você já vem trabalhando no Rio há algum tempo. O que gosta na cidade?
O Rio é uma cidade linda, cheia de contrastes, fantasia e loucura. O que me fascina muito é a sensação de uma música contínua, e de uma contínua mudança de ritmo. Infelizmente, quando eu venho ao Rio é sempre para trabalhar. Tenho pouco tempo para o turismo e para viver realmente a cidade. Há algo mágico aqui no Brasil que eu gostaria de aprofundar, porque acho que a máscara é um pouco de magia, é um veículo de comunicação com personagens antigos, a maioria arquétipos da raça humana.