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Sobre minorias e teatro: um texto exclusivo de Marcia Zanelatto

Preconceitos de todos os tipos e os grupos minoritários sujeitos a eles estão em foco na ocupação Grandes Minorias, projeto idealizado pela dramaturga Marcia Zanelatto, em cartaz no Teatro Glauce Rocha até setembro. No momento, o teatro recebe a tragicomédia Hipnose, escrita pela própria Marcia, que aborda a realidade prisional do país através de um episódio […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 17h57 - Publicado em 7 ago 2015, 20h52

Márcia Zanelatto (crédito: Barbara Copque)

Preconceitos de todos os tipos e os grupos minoritários sujeitos a eles estão em foco na ocupação Grandes Minorias, projeto idealizado pela dramaturga Marcia Zanelatto, em cartaz no Teatro Glauce Rocha até setembro. No momento, o teatro recebe a tragicomédia Hipnose, escrita pela própria Marcia, que aborda a realidade prisional do país através de um episódio de golpe do falso sequestro.

A pedido do blog, a autora escreveu um texto sobre o tema das minorias, relacionado ao teatro. Confira!

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Naquele ano de 2015, o assunto nos bares, nos jantares, nas redes sociais e até nos quartos de dormir era de novo o Brasil.

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Tal como havia sido nos anos 1960 e 1970, quando enfrentávamos uma sangrenta ditadura militar, nosso país era o nosso mais contundente objeto de reflexão, fonte de profundas e quase indizíveis contradições.

A experiência de eleger a esquerda – tão sonhada por muitos de nós por décadas – naquele momento ganhava tons de pesadelo. Uma completa confusão se instalava, como se depois de um terremoto as placas tivessem virado de cabeça para baixo, confundindo os caminhos.

Estávamos absolutamente frustrados com as contradições e com a ineficiência da esquerda no poder ao mesmo tempo em que a direita se tornava claramente um caminho direto e reto para o fascismo.

Queríamos igualdade social e crescimento financeiro. Era essa a nossa nova utopia. E ela já não era mais tão longínqua quanto havia sido um dia. Como havia sido por 500 anos – o massacre dos índios na colonização, o processo de abolição da escravatura que havia nos deixado de herança o racismo e a burocracia de um funcionalismo público obeso e doentio cujo único serviço era consolar os débitos dos escravistas, os sucessivos golpes militares do único país do mundo cuja ação revolucionária havia sido passar de império à monarquia.

Naquele 2015, a Casa Grande finalmente tremia e rachava. A estrutura social, racista, misógina, classista começava a apresentar sinais de falência. Até os nossos jovens sabiam disso, que não dava mais para continuar como antes. E tínhamos muita esperança, justamente por eles.

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Tínhamos um diálogo entre as classes cada vez mais amplo, estávamos mais do que nunca sensíveis à fome. Queríamos saber como estavam vivendo os transgêneros e os idosos. E eles entravam em nossas casas pela Netflix, pelo Facebook, pelo Instagram e pelo Twitter. Não dava mais para viver só entre os eleitos.

Se a Supervia autorizasse que o trem passasse por cima de um falecido, todos nós saberíamos. Não haveria como esconder.

Naquela época, Nós promovíamos encontros em salas escuras, entre pessoas que jamais se conheceriam. Nossa tarefa era fazê-las sonhar juntas o mundo que tinham e o que podiam ter. Nós evocávamos a palavra sagrada. E amávamos o teatro mais do que tudo na vida. Nós trazíamos para o teatro nossos amigos, nossos amores. Nós criávamos nossos filhos nas coxias, nos camarins. E quando eles entravam para o ramo, nós nos comemorávamos.

O teatro nos ensinava os caminhos. Nos ensinava a conviver com os diferentes, a conviver com os nossos diferentes interiores. Nos ensinava que realidade é algo que se faz. É um ato criador.

Nós precisávamos da TV para alimentar nossos filhos, a nós mesmos ou nossas vaidades. Nós precisávamos jogar nas 11 para seguir em frente sem esmorecer. Nos revezávamos em todas as funções e quando ganhávamos muito dávamos emprego de produtor ao ator em apuros. Dávamos emprego a quem nos tinha empregado quando estávamos em apuros. Nós dávamos aula, na esperança de que o teatro alcançasse mais uma vida e nem sempre conseguíamos ganhar bem. Vez ou outra, alcançávamos fulgores de honra, sempre fugidios e desimportantes para os nossos vizinhos.

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Mas mesmo com nossa tediosa autopiedade, nós sabíamos que tínhamos a máquina de fazer sentido.

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