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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio
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Retrospectiva teatral carioca de 2013, parte 2

O ano que, a julgar pela retrospectiva teatral do primeiro semestre publicada aqui no blog na semana passada,  já parecia bom, ficou ainda melhor nos seis meses seguintes. Foi neste período que estrearam as duas únicas peças agraciadas com cinco estrelas nas páginas de VEJA RIO em 2013: Cine_Monstro, monólogo do canadense Daniel MacIvor, estrelado e […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h50 - Publicado em 18 dez 2013, 20h27

O ano que, a julgar pela retrospectiva teatral do primeiro semestre publicada aqui no blog na semana passada,  já parecia bom, ficou ainda melhor nos seis meses seguintes. Foi neste período que estrearam as duas únicas peças agraciadas com cinco estrelas nas páginas de VEJA RIO em 2013: Cine_Monstro, monólogo do canadense Daniel MacIvor, estrelado e dirigido por Enrique Diaz, e Incêndios, primeira montagem brasileira do drama do líbano-canadense Wajdi Mouawad, com direção de Aderbal Freire-Filho e elenco liderado por Marieta Severo. Confiram, a seguir, a parte final da retrospectiva, baseada  nas resenhas publicadas desde janeiro na coluna Veja Rio Recomenda, além de uma ou outra matéria de destaque.

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EDIÇÃO DE 3/7: Depois de dirigir dois textos de Daniel MacIvor, os excelentes In on It e A Primeira Vista, Enrique Diaz veio com Cine_Monstro (acima), assombroso monólogo do autor canadense, que ocupou o diminuto palco do Oi Futuro Flamengo. Desta vez, ele não apenas assinou a direção como esteve em cena em performance arrasadora — pela qual foi indicado aos prêmios Shell e Cesgranrio. Multiplicando-se em treze personagens, Diaz contou uma história que tinha como pano de fundo um crime bárbaro cometido por um filho contra o pai. Como de hábito nos textos de MacIvor, a trama era de um rigor quase matemático, como um quebra-cabeças montado vagarosamente diante do espectador.

EDIÇÃO DE 10/7: Muito comentado durante a sua temporada, o drama Maravilhoso, de Diogo Liberano, que passou pelo Teatro Gláucio Gill, acabou injustamente esquecido nas listas de indicados aos principais prêmios de teatro neste ano. Baseado em Fausto, de Goethe, mas desenvolvido no Carnaval carioca, o texto com ares de tragédia rodriguiana não se perdia em momento algum entre essas duas referências. Paulo Verlings, ótimo, vivia um pai de família sem dinheiro, que arrumava um emprego como assistente de um bicheiro. A direção de Inez Viana, de certa forma, ecoava o universo dionisíaco da folia de Momo, e extraía boas atuações de todo o elenco.

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EDIÇÃO DE 17/7: Autora tão prolífica quanto premiada, Renata Mizrahi estreou na direção (ao lado de Priscila Vidca) no acertado drama Os Sapos, que esteve no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim. A história se passava na casa de campo onde um casal (vivido por Ricardo Gonçalves e Gisela Castro) descansa por alguns dias, até que sua tranquilidade será posta à prova pela chegada de uma amiga do rapaz (vivida por Verônica Reis) e de um casal de vizinhos (Peter Boos e Paula Sandroni). Parece a velha história sobre amores em desmoronamento, mas os diálogos bem construídos deixavam entrever uma reflexão sobre a inércia pessoal.

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EDIÇÃO DE 24/7: Entre os autores brasileiros, não teve para ninguém em 2013 — o ano foi de Julia Spadaccini, indicada duas vezes ao Shell, por Aos Domingos e A Porta da Frente. Por mais que eu reconheça os inegáveis méritos dessas obras, devo reconhecer que a montagem de um texto da autora que eu mais gostei neste ano foi a da comédia Um Dia Qualquer (acima), que estreou no Espaço Sesc. Com ecos de Harold Pinter, dramaturgo reconhecidamente admirado por Julia, a história apresentava o encontro meio absurdo de quatro personagens em um banco de praça: um advogado (Leandro Baumgratz), uma professora de inglês (Anna Sant’Ana), um palhaço (Rogério Garcia) e uma enfermeira (Dida Camero).

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EDIÇÃO DE 31/7: Veio de São Paulo uma das peças mais comoventes do ano, a tragicomédia Palhaços, que ocupou o Teatro Poerinha. Montagem do diretor Gabriel Carmona para o texto do paulistano Timochenco Wehbi, o espetáculo já fazia sucesso há oito anos. Dagoberto Feliz encarnava um palhaço meio decadente que, depois de uma apresentação, recebia no camarim a visita de um fã, papel de Danilo Grangheia. A conversa se inicia amistosa, mas vai descambando para um conflito em que se revela o quanto os dois personagens têm em comum. Azeitadas pelos anos de peça, as interpretações dos dois atores eram, ao mesmo tempo, rigorosas e sensíveis.

EDIÇÃO DE 14/8: Projeto da renomada Cia OmondÉ, a adaptação de Nem Mesmo Todo o Oceano, romance de Alcione Araújo, confirmou a qualidade do trabalho do grupo. Repetindo o êxito na direção já demonstrado em Maravilhoso, Inez Viana também foi a responsável por condensar as quase 800 páginas do livro em uma peça de pouco mais de uma hora, que passou pelo Espaço Sesc. Seis atores (Leonardo Bricio, Iano Salomão, Jefferson Schroeder, Junior Dantas, Luis Antonio Fortes e Zé Wendell, todos plenamente entrosados) se dividiam entre os vários personagens da história sobre um rapaz que sai do interior de Minas para se formar médico no Rio, e acaba se tornando legista do DOI-Codi.

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EDIÇÃO DE 11/9: Uma das joias da obra de Oscar Wilde, The Importance of Being Earnest ganhou uma impagável montagem do Coletivo Achado numa Mala, com o título traduzido para A Importância de Ser Perfeito (acima), que estreou no Teatro Maria Clara Machado, com direção de Daniel Herz. Bem a seu gosto, o autor faz dos diálogos uma arma para debochar do jogo de aparências comum na vida em sociedade. A opção de transpor a Inglaterra vitoriana para o Rio de hoje poderia ser uma armadilha, mas tudo deu certo — e a ideia ainda rendeu boas piadas. Todo o elenco estava ótimo, mas é impossível não destacar as atuações de George Sauma e João Pedro Zappa, como duas mocinhas só aparentemente ingênuas.

EDIÇÃO de 2/10: Gustavo Paso deu um passo ousado no drama Garagem, que ele escreveu e dirigiu. Uma área desativada no estacionamento do Rio Sul, com 1 300 metros quadrados, serviu de palco para a montagem. Com colaboração de Teca Fichinski, o próprio Paso concebeu a cenografia, recriação da garagem do condomínio onde vive o advogado Juan, protagonista da história, um advogado falido interpretado por Gustavo Falcão, que encontra a escritura de uma vaga para carros e decide se mudar. Para além da trama cheia de reflexões e da ótima atuação de Falcão, saltava aos olhos a logística da montagem, com um entra e sai rigorosamente cronometrado de atores e sete carros que circulavam em cena.

EDIÇÃO DE 9/10: Julia Spadaccini já foi citada outras duas vezes nesta retrospectiva, mas fazer o que se a autora foi indicada duas vezes no mesmo ano ao Prêmio Shell? No drama A Porta da Frente, que está na disputa pela láurea, Jorge Caetano (também diretor ao lado de Marco André Nunes) encarnou Sasha, um homem heterossexual que gostava de vestir roupas de mulher e virava de cabeça para baixo a rotina da família que morava em frente ao seu apartamento. Seguro no palco do Oi Futuro Flamengo, Caetano escapou bem do perigo de cair na caricatura. Mas o destaque mesmo foi Rogério Freitas, irrepreensível na pele do patriarca da família, um corretor de imóveis que fazia amizade com o crossdreser.

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EDIÇÃO DE 23/10: Uma das três montagens que ocuparam o Espaço Sesc como parte das comemorações pelos 25 anos da Cia dos Atores, a comédia Conselho de Classe, de Jô Bilac, foi uma das melhores peças do ano, fato confirmado por suas múltiplas indicações ao Shell e ao Cesgranrio. Para mim, especificamente, é aquele tipo de espetáculo que, conforme o tempo passa, vai ficando melhor. Em uma curiosa decisão das diretoras Bel Garcia e Susana Ribeiro, quatro homens (Cesar Augusto, Marcelo Olinto, Thierry Trémouroux e Leonardo Netto) foram escalados para viver papéis de professoras de uma escola pública decadente. Paulo Verlings interpretou o diretor substituto nesta importante reflexão que não apelava a panfletarismos.

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EDIÇÃO DE 30/10: Um dos dramas mais poderosos escritos para teatro no século XX, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Edward Albee, segue cada vez mais desconcertante. Neste ano, ganhou uma vigorosa montagem dirigida por Victor Garcia Peralta, que ainda está em cartaz no Teatro dos Quatro e volta em janeiro de 2014. Daniel Dantas e Zezé Polessa, ambos merecidamente indicados por suas atuações ao Prêmio Shell, vivem um casal em eterno conflito há mais de vinte anos. Os dois expõem seus fantasmas ao longo de uma noite em companhia de outro casal, interpretado por Erom Cordeiro e Ana Kutner. A dinâmica entre os atores é impecável.

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EDIÇÃO DE 6/11: Eu poderia escrever algo sobre Incêndios, mas tudo se resume a três palavras: peça do ano. Foi assunto de matéria de capa de VEJA RIO. Na mesma edição, o Veja Rio Recomenda foi dedicado a Sonhos de um Sedutor, montagem do diretor Ernesto Piccolo para a comédia de Woody Allen. No papel do inseguro crítico de cinema Allan Felix, George Sauma (que já havia brilhado em A Importância de Ser Perfeito) deu um show — o papel é um alter ego do autor, mas, em vez de imitá-lo, Sauma preferiu o melhor caminho e moldou seu próprio personagem, mantendo a essência de seu criador.

EDIÇÃO DE 20/11: Em cartaz até domingo no Theatro Net Rio, com retorno confirmado em janeiro de 2014, o espetáculo Cazuza — Pro Dia Nascer Feliz, o Musical, levou ao palco a história deste ídolo do rock brasileiro, com texto de Aloísio de Abreu e direção de João Fonseca (o mesmo de outro badalado musical biográfico, sobre Tim Maia). Desconhecido do grande público, o ator Emílio Dantas assombrou os espectadores no papel do protagonista. Peço desculpas pelo clichê, mas é inescapável: a atuação é mediúnica. Além da semelhança física, timbre, gestual, tudo faz parecer que Cazuza literalmente revive em cena, a ponto de Ney Matogrosso ter se espantado.

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EDIÇÃO DE 4/12: Impecável tecnicamente e, ao mesmo tempo, emocionante, Elis, a Musical (acima), ainda em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, presta uma justa homenagem a Elis Regina. Indicada aos prêmios Shell e Cesgranrio, a relativamente desconhecida Laila Garin tem conquistado o público com enorme talento e uma interpretação que foge da imitação pura e simples, mas evoca tremendamente a personagem. Dois amigos de Elis estão por trás do espetáculo: Dennis Carvalho, como diretor, e Nelson Motta, como autor, ao lado de Patrícia Andrade. Teve seis indicações ao Cesagranrio.

EDIÇÃO DE 11/12: Indicado ao Prêmio Shell pelo texto de Conselho de Classe, Jô Bilac acertou de novo em Fluxorama, uma montagem de pegada, digamos, mais experimental, que passou pelo Oi Futuro Flamengo. A estrutura era engenhosa: três monólogos escritos em anos distintos compunham o espetáculo, e  Rita Clemente, Viniciús Arneiro e Inez Viana eram não apenas os atores que davam vida às histórias, mas também respondiam, cada um deles, pela direção de um dos segmentos da peça. Em comum, histórias de personagens defrontados com situações-limite, refletindo sobre seu respectivo estado em um jorro de palavras que remete a um fluxo contínuo de pensamento. Intrigante, sem ser hermético.

EDIÇÃO DE 18/12: No apagar das luzes da temporada, estreou no CCBB o monólogo cômico Prof! Profa!, do belga Jean-Pierre Dopagne. Vindo de São Paulo, o espetáculo dirigido por Celso Nunes, em cartaz até domingo (22), traz Jandira Martini no papel de uma ex-professora de literatura às voltas com uma situação insólita: todas as noites ela é obrigada a subir ao palco de um teatro e, diante da plateia, contar seu passado, marcado por crime macabro. O ótimo texto sugere paralelos entre a figura do professor e a do ator, e acaba sendo uma bela ode às duas profissões. Com cenário cru, as atenções se voltam para Jandira, que não deixa por menos e entrega uma ótima atuação.

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