Peça escrita pelo papa João Paulo II estreia no Rio
O papa João Paulo II era apenas Karol Wotjtyla, bispo da Cracóvia, na Polônia, quando, em 1960, escreveu uma peça que batizou como A Loja do Ourives. Contrariando as expectativas mais óbvias, a trama nada tinha de religiosa. Tratava-se, na verdade, de um olhar do futuro papa, então com 40 anos, sobre os desafios do […]
O papa João Paulo II era apenas Karol Wotjtyla, bispo da Cracóvia, na Polônia, quando, em 1960, escreveu uma peça que batizou como A Loja do Ourives. Contrariando as expectativas mais óbvias, a trama nada tinha de religiosa. Tratava-se, na verdade, de um olhar do futuro papa, então com 40 anos, sobre os desafios do casamento, a partir da história de três mulheres da mesma família, mas de gerações diferentes: Teodora, que vive um amor perfeito durante a II Guerra Mundial; sua filha Ewa, que, em plena revolução sexual dos anos 70, se recusa a assumir relacionamentos; e a neta Malina, que, nos anos 80, encarna o individualismo da época e teme estragar sua vida se casando. Em 1980, ano da primeira visita de João Paulo II ao Brasil, a paulistana Maria de Lourdes Muniz de Mello soube, através de um programa de rádio, que o pontífice havia escrito uma peça. “O locutor disse que, antes de seguir a carreira religiosa, João Paulo II havia sido ator e tinha uma forte ligação com o teatro. A reportagem explicava que o papa tinha escrito um texto falando sobre o amor. Naquele momento, senti uma coisa forte no meu coração e resolvi tentar localizar o texto”, lembra Maria de Lourdes, que decidiu ir além e levá-lo ao palco. Mais de trinta anos depois, ela assina como produtora associada de Enlace — A Loja do Ourives, montagem musical do texto (com tradução de Leopoldo Scherner e dramaturgia de Elísio Lopes Jr.), que estreia no dia 4 de julho no Imperator. Com direção de Roberto Lage, o espetáculo tem Claudia Ohana, Claudia Lira e Camila Camargo interpretando, respectivamente, cada uma daquelas mulheres, juntando-se a outros 22 atores-cantores, escoltados por cinco músicos.
Para usar uma analogia religiosa, a trajetória de Maria de Lourdes para levantar o projeto foi uma via-crúcis. Quem conta é ela mesma: “Num primeiro momento, fui atrás dos originais em polonês. Mas, para a minha surpresa, encontrei o texto da peça traduzido para o português pelas Edições Loyola. O próximo passo foi o contato com o Vaticano através de várias autoridades eclesiásticas para conseguir os direitos para uma montagem teatral no Brasil. Nessa época, o Vaticano só dava autorização para fazer uma leitura musicada, mas foi graças a ajuda do bispo italiano dom Bruno Giuliane que conseguimos os direitos para adaptar o texto e montar um musical. Depois das autorizações, fui em busca de parceiros para montar essa grandiosa produção. Essa luta durou quase 33 anos.” Antes de chegar ao Rio, o espetáculo passou por outras cidades do Brasil (a estreia foi em São Paulo, em 2012). A ambição de Maria de Lourdes agora é montá-lo no exterior. “É uma peça cheia de valores, própria para um momento em que o mundo esta tão carente disso. O texto toca todas as pessoas porque fala do amor, da família, da generosidade, da compaixão e da ética.”