Adaptação da obra de Kafka, O Processo traz um ator protagonista diferente a cada sessão, sem qualquer ensaio
Baseado no livro homônimo de Franz Kafka, o drama O Processo, quarta peça da companhia Teatro Voador Não Identificado, em cartaz na Sede das Cias, não é uma adaptação convencional. Para contar a história do bancário Joseph K., preso sem qualquer motivo aparente e submetido a um longo e incompreensível processo por um crime jamais revelado, […]
Baseado no livro homônimo de Franz Kafka, o drama O Processo, quarta peça da companhia Teatro Voador Não Identificado, em cartaz na Sede das Cias, não é uma adaptação convencional. Para contar a história do bancário Joseph K., preso sem qualquer motivo aparente e submetido a um longo e incompreensível processo por um crime jamais revelado, o diretor Leandro Romano e o dramaturgo Luiz Antonio Ribeiro tiveram a ideia de inserir o ator protagonista em uma situação desnorteante, semelhante à do personagem. A maneira como isso foi feito é insólita: a cada sessão, um ator diferente vive Joseph K., sem qualquer ensaio e tampouco conhecimento do texto. Na semana de estreia, os convidados foram Charles Fricks, George Sauma e Leandro Soares. Os próximos são Bernardo Marinho (hoje), Alcemar Vieira (amanhã), João Rodrigo Ostrower (domingo) e João Velho (segunda).
O blog conversou com o diretor da montagem. Confira:
Como surgiu a ideia de colocar um ator diferente a cada sessão?
Eu já tinha a vontade de montar O Processo. Conversando com o Luiz Antonio Ribeiro, nosso dramaturgo, concluímos que não faria sentido adaptar a peça para o teatro de modo convencional. Queríamos que o ator vivenciasse uma situação semelhante à do personagem principal do livro, Joseph K. Na trama, K. enfrenta um processo cujo motivo desconhece mas precisa se defender mesmo assim. Na peça, o ator que o interpreta não ensaia, não vê a peça e não conhece a dramaturgia e precisa subir no palco mesmo assim. Por isso, cada dia um ator diferente.
Como os atores convidados foram escolhidos e como eles reagem ao convite
O caminho mais óbvio era escolher atores acostumados com improviso, por isso convidamos o Fabio Porchat e o Gregorio Duvivier, por exemplo. Mas também não queríamos reduzir a escolha a isso. Convidamos atores de todos os tipos. A reação é sempre muito positiva. Os atores ficam surpresos, adoram o projeto e se animam. A maioria está apavorada! Até agora felizmente não tivemos nenhuma recusa por desconforto, apenas por colisão de agendas. Mas não há motivo para desespero. Somos muito cuidadosos nesse sentido.
Que efeito essa experiência provoca nos atores, na relação com a plateia e na montagem como um todo?
Para o elenco é uma aventura! A Larissa Siqueira da Cunha, uma das atrizes fixas, costuma dizer que essa temporada é uma escola de interpretação. E é mesmo. Os atores precisam estar muito preparados para o imprevisível. Não há como prever, mas podemos nos preparar. Da outra parte os atores convidados começam um pouco apavorados mas logo que entendem o jogo ficam mais à vontade para brincar. O que acontece entre o elenco e o ator convidado é uma delícia para plateia. Ao mesmo tempo que há a camada da ficção, afinal nós contamos uma história, ver uma peça ensaiada cujo não ator principal não ensaiou é muito divertido. Por um lado, isso é maravilhoso, pois acaba expondo a comicidade existente em Kafka. É isso, explicitamos o que há de mais engraçado na obra kafkiana.
Como foram as primeiras experiências, nos primeiros dias da temporada?
Tem sido maravilhoso! Estamos vivendo dias incríveis. Primeiro para nós como companhia ter a oportunidade de mostrar nosso trabalho completo em um lugar sensacional como é a Sede das Cias. Segundo porque a peça tem sido muito bem recebida, tanto pelos atores convidados quanto pelo público. O Charles, o George e o Leandro arrasaram! São grandes atores e complementam muito bem o nosso projeto. E bate também uma ansiedade. Ainda tem muita coisa por aí. Isso é só o começo!