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Um punhado de histórias sobre Vinicius

Com música e poesia, como convém, eventos variados celebram os 100 anos de nascimento de Vinicius de Moraes – o poeta carioca veio ao mundo em 19 de outubro de 1913 e nos deixou em 9 de julho de 1980. De carona nas homenagens, levantamos um punhado de histórias curiosas vividas por Vinicius. Além do […]

Por Pedro Tinoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 18h55 - Publicado em 14 out 2013, 19h58
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Vinicius em foto de Chico Nelson: poeta, compositor e protagonista de causos surpreendentes

Vinicius em foto de Chico Nelson: poeta, compositor e protagonista de causos surpreendentes

Com música e poesia, como convém, eventos variados celebram os 100 anos de nascimento de Vinicius de Moraes – o poeta carioca veio ao mundo em 19 de outubro de 1913 e nos deixou em 9 de julho de 1980. De carona nas homenagens, levantamos um punhado de histórias curiosas vividas por Vinicius. Além do talento lítero-musical assombroso, ele também era um figuraça, responsável por tiradas e episódios folclóricos. Gilda Mattoso, viúva do compositor, lembrou algumas das histórias abaixo. Outras, muitas outras, podem ser encontradas em obras sérias como Vinicius de Moraes – Livro de Letras e Vinicius de Moraes – O Poeta da Paixão, livros de José Castello, além de Cancioneiro Vinicius de Moraes — Orfeu (Jobim Music), de Sérgio Augusto e Maria Lúcia Rangel.

 

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. Anos antes de vir a se tornar uma estrela da MPB, Vinicius sofreu um grave desastre de avião. Em 2 de novembro de 1945, ele foi convidado a integrar a viagem inaugural do hidroavião Leonel de Marnier, no trajeto Rio-Buenos Aires. Embarcou na companhia de Aníbal Machado e Moacyr Werneck de Castro – Candido Portinari, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino declinaram do convite. Uma pane mecânica levou o piloto a fazer um pouso forçado sobre um lago no Uruguai. Uma das pás da hélice do avião soltou-se e acabou matando um dos passageiros. Vinicius passaria algumas décadas com um medo danado (e compreensível) de aviões.

. Em agosto de 1962, Vinicius fez seu primeiro grande show, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto, além do grupo Os Cariocas, na boate Au bon Gourmet. Garota de Ipanema e Só Danço Samba, Samba do Avião e Ela é Carioca estavam entre os lançamentos do repertório apresentado na casa em Copacabana.

. Essa é lembrada no ótimo documentário Vinicius, de Miguel Faria Jr.: um grupo de amigos conta, em tom de brincadeira, o que gostaria de ser em “uma nova vida”. Vinicius pensa um pouco e, na sua vez, diz que gostaria de voltar do mesmo jeito, só com o “p… um pouquinho maior”.

. Gilda Mattoso foi a nona e última mulher de Vinicius. Ele gostava de brincar, apresentando-a como “minha viúva” e como “a nona do Vinicius”, em comparação com a Nona de Beethoven. “Às vezes, de provocação, ele dizia que pensava em formar um time de futebol com suas mulheres. Olhava para a Bebel (Gilberto), filha de Miúcha e João Gilberto, ainda pequena, e dizia: quem sabe Izabelzinha não vai ser a 11ª quando crescer um pouquinho?”, conta Gilda.

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. Vinicius não gostava de fazer exercício. Uma vez, por recomendação médica, Gilda Mattoso comprou para ele uma bicicleta ergométrica. “Cheguei em casa e encontrei-o na bicicleta com a fisioterapeuta ao lado, ele chorando copiosamente”, conta ela. Gilda perguntou o que estava havendo e ele explicou: “Estou rompendo um pacto que fiz com o meu Maria (o cronista e compositor Antonio Maria). Uma vez, saindo de uma boate, já de manhã, vimos um homem ridículo com uma toalhinha o pescoço, fazendo umas flexões. Dali em diante prometemos que nunca faríamos movimentos inúteis”.

. Essa história sobrevive contada com várias estrelas da MPB como personagens, mas a dupla mais assídua traz, no mesmo carro, Toquinho e Vinicius. Tarde da noite, os dois na estrada, Vinicius, num momento de bom senso, diz para o parceiro: “Toquinho, encoste esse carro, bebemos demais, não temos condições de dirigir, o melhor a fazer é estacionar e descansar”. Toquinho concorda e responde: “Vinicius, você tem razão, acho que devemos parar sim, mas é você que está dirigindo”.

. Em uma apresentação com a cantora Maria Creuza, uma de suas favoritas, Vinicius dividia a interpretação de Eu Sei que Vou Te Amar quando aconteceu algo inesperado. No meio da música, ele recitava o Soneto de Fidelidade e, em seguida, levantava do seu banquinho, porto-seguro no palco, para dividir, solene, os vocais com a cantora. Deu um passo, levantou os braços e… sua calça caiu. Levantou-a com a mão livre – a outra segurava o microfone – sem interromper o número, nem se incomodar com o fato de que não costumava usar cueca.

. Sergio Endrigo (1933-2005) foi um bom amigo de Vinicius. Certa vez, o poeta carioca deu de presente ao cantor e compositor italiano um papagaio. No seu poleiro, Paco gritava “pronto, pronto”, quando o telefone tocava, murmurava “povero paco”, pedindo um pedacinho de pão, e ficava todo feliz quando ouvia o ronco do carro de Endrigo chegando à garagem de casa. Inspirado pelo louro, Vinicius compôs Il Pappagallo, com Sergio Bardotti, Luis Enriquez Bacalov e o próprio Endrigo, um dos maiores sucessos do disco L’Arca  Canzone per Bambini di Vinicius de Moraes. Lançado em 1972, o projeto italiano é anterior aos hoje clássicos A Arca de Noé (1980) e A Arca de Noé 2 (1981), que este ano foram revisitados por outros artistas em trabalho coordenado por Susana Moraes, filha do poeta, Dé Palmeira, Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto.

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Vinicius tinha horror de dividir conta. “Pagava tudo. E às vezes o bonde era pesado”, lembra sua viúva Gilda.

. Senso de humor era uma das qualidades humanas mais prezadas pelo poeta. “Ele às vezes dizia preferir gente sem caráter a gente sem senso de humor”, conta Gilda.

. O empresário Oscar Ornstein convidou Tom e Vinicius para criar um musical sobre um marciano que visita a terra e perde a linha com nossas beldades. Blimp seria o nome do espetáculo e do ET-protagonista. A ideia não foi adiante, mas pelo menos uma de suas canções, depois de sofrer algumas poucas alterações, foi salva do esquecimento: o nome dela é Garota de Ipanema.

. Amigo do poeta, Di Cavalcanti gostava de presenteá-lo com retratos de suas mulheres. Quando chegou à quinta, Nelita Abreu Rocha, em 1963, o pintor decretou: “Fique sabendo que essa é a última”. Vinicius teve nove casamentos, com Beatriz Azevedo de Mello, a Tati (1939), Regina Pederneiras (1946), Lila Bôscoli (1951), Maria Lúcia Proença (1958), Nelita (1963), Cristina Gurjão (1969), Gesse Gessy (1970), Marta Rodrigues Santamaria (1975) e Gilda de Queirós Mattoso (1978).

. Nelita, a última esposa de Vinicius retratada por Di Cavalcanti, foi também a única sequestrada. Explicando melhor: a noiva tinha 19 anos, Vinicius, 50, e a família não via com bons olhos aquela união. Carlos Lyra, parceiro do poeta, sugeriu raptá-la, meio de brincadeira, mas seu parceiro apaixonado adorou a ideia. Lyra foi escalado para levar o casal de carro até o Galeão, de onde os pombinhos viajariam para Paris. De última hora, o motorista foi substituído: sobrou para Tom Jobim, muito a contragosto. Aos novos sogros de Vinicius só restou avisar à sociedade, através de um anúncio no jornal, o enlace de sua filha Nelita com o poeta Vinicius de Moraes…

. Baden Powell tomou um susto na primeira vez, mas depois se acostumou. Vinicius, seu parceiro nos históricos afro-sambas, ligou, convocando-o para desenvolver umas ideias musicais, e passou o endereço, seguido de uma encomenda: “Clínica São Vicente, Gávea. E traga uma garrafinha de uísque”.

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