O segredo dos olhos dela
Soledad Villamil estudou música e aprendeu a tocar instrumentos ainda criança. Aos 15 anos, depois da primeira aula de teatro, encontrou outra vocação artística e tornou-se uma atriz profissional. Fez a escolha certa, a julgar por sua atuação em O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella. Na produção argentina vencedora do Oscar de […]
Soledad Villamil estudou música e aprendeu a tocar instrumentos ainda criança. Aos 15 anos, depois da primeira aula de teatro, encontrou outra vocação artística e tornou-se uma atriz profissional. Fez a escolha certa, a julgar por sua atuação em O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella. Na produção argentina vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, ela interpreta a promotora Irene Menéndez Hastings, amor da vida do perito Benjamín Espósito (Ricardo Darín). Ocorre que Soledad nunca deixou de cantar, e cantar bem: tem três discos gravados – o último, Canción de Viaje, saiu no ano passado – e é uma das atrações do Festival Internacional Tango Brasil, em cartaz no CCBB a partir de sexta (8). A talentosa artista argentina sobe ao palco no sábado (9) e no domingo (10), mas, antes, bateu um papo com o blog. Lá embaixo, depois da entrevista, assista à sua interpretação para a deliciosa Se Dice de Mi, garantida no repertório carioca.
O que chegou primeiro na sua vida: a música ou as artes cênicas?
Cronologicamente, a música chegou primeiro, mas logo depois veio a atuação. Ambas surgiram bem cedo, a primeira quando eu tinha 8 anos e a atuação, aos 15. Sou dessas pessoas afortunadas que encontraram sua vocação muito rapidamente. Nunca tive dúvidas de que iria me dedicar à carreira artística.
Você toca algum instrumento?
Ainda pequena comecei tocando flauta doce, logo passei para algumas noções de piano e guitarra e aos 12 passei para a flauta transversa.
O tango é o grande cartão de visitas da cultura argentina. Que outros gêneros musicais do seu país marcam presença em seu repertório?
O tango, como gênero, abarca distintos ritmos e estilos, como a valsa, a milonga. Há inclusive um tipo de tango mais urbano, ou da periferia, e outro mais suburbano, rural. Meu repertório reúne vários desses subgêneros, mas nos últimos tempos eu venho interpretando também canções latino-americanas de nomes como Violeta Parra, Leo Masliah e Pablo Milanés, além de composições próprias.
Questões inevitáveis: o que conhece da música brasileira e o que gosta de interpretar de nossos artistas?
Sou uma grande admiradora de música brasileira, de compositores como Egberto Gismonti, Villa-Lobos, Hermeto Pascoal, intérpretes como Rosa Passos, Leny Andrade, Elis Regina, músicos populares como Chico Buarque, Caetano, Ney Matogrosso, Gal Costa, Bethania, Marisa Monte, Maria Rita, Rita Lee… A lista é interminável.
Sua primeira experiência como cantora diante do público se deu em Glorias Porteñas. Como era esse espetáculo?
Esse espetáculo, que de fato significou meu début como cantora sobre um palco, estreou em 1998. Era uma peça de teatro musical que se desenvolvia em um clube de bairro de 1930, no qual se apresentava uma companhia de músicos. Eu interpretava uma cantora dessa época e o repertório trazia tangos, valsas e milongas dos primeiros anos do século XX.
Quem são os músicos que a acompanham e que instrumentos tocam?
O grupo é composto por Daniel Maza, no baixo, Augusto Argañaraz, na bateria e na percussão, Juan Tarsia, no piano, Ariel Argañaraz no violão e Estanislao Irigoyen no acordeão.
O Samba e o Tango é uma das músicas de seu novo disco, Canción de Viaje. Como você chegou a essa pérola do repertório de Carmen Miranda?
A escutei primeiro cantada por Caetano Veloso e me pareceu muito divertida essa comparação entre samba e tango. Depois de investigar um pouco cheguei à versão original de Carmen Miranda, que é simplesmente genial.
No Brasil, por onde você já se apresentou?
Fizemos shows duas vezes em Porto Alegre e uma em São Paulo. Estou muito feliz de poder cantar pela primeira vez no Rio e também de voltar a me apresentar em Porto Alegre, onde já tenho um público fiel.
O Segredo dos Seus Olhos impulsionou sua carreira musical?
Sim. Sobretudo no nível internacional. O filme teve muito êxito em diversos países e isso permitiu que se divulgasse também meu trabalho com a música.
Muitos a admiram como atriz e cantora. Um desses fãs é o escritor Luis Fernando Verissimo, que em 2012 assinou um artigo no jornal O Globo exaltando seu talento, mas também sua beleza. Como você lida com esse tipo de elogio?
As palavras de Luis Fernando me enchem de orgulho e também me fazem enrubescer um pouco. Serei sempre agradecida a ele por ter sido um propagador do meu trabalho no Brasil, assim como Jô Soares, que já me convidou duas vezes para seu programa.
Que repertório está sendo preparado para os shows no Rio? Você poderia citar algumas canções?
Vou interpretar composições de meu último disco, Canción de Viaje, como Maldigo del Alto Cielo, da chilena Violeta Parra, Biromes y Servilletas, do uruguaio Leo Masliah, e De qué Callada Manera, de Nicolás Guillén e Pablo Milanés. Dos discos anteriores vou lembrar de músicas como as milongas Se Dice de Mi e Baldosa Floja.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=cyZFeoKt51Y?feature=oembed&w=500&h=281%5D