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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Último fim de semana do Tim Music Noites Carioca, no Morro da Urca

Calainho fala da mágica experiência de um projeto no Morro da Urca, de quatro décadas de música desde o rock nacional e das novidades que vêm por aí

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Atualizado em 26 abr 2024, 14h49 - Publicado em 26 abr 2024, 11h25

E lá vão se vão 44 anos desde que Nelson Motta criou o projeto Noites Cariocas, ali, no alto do Morro da Urca, aquele lugar mágico, com uma vista incrível da cidade tendo o mar à sua volta. E tinha uma programação incrível, que sempre trouxe o melhor da música, inclusive com muitas novidades. Nelson Motta sempre soube das coisas. Foi lá que eu vi pela primeira vez Paralamas, Lobão, Blitz e um monte de gente que começava a fazer sucesso naqueles anos 1980.

O Morro da Urca continua sendo isso tudo, especialmente quando acontece o Tim Music Noites Cariocas, festival que o empresário Luiz Calainho inventou e que traz uma nostalgia danada pra quem viveu as mudanças trazidas por aquela década. O festival encerra sua 3ª temporada hoje e amanhã, com Bala Desejo e Seu Jorge. Realizado em quatro fins de semana, o projeto recebeu nomes diversos como Ritchie e Guilherme Arantes, seguido de L7nnon e Catha. Depois vieram Blitz e Fernanda Abreu, Agnes Nunes e Marina Lima, Zeca Pagodinho e Ana Carolina.

Conversei com Calainho sobre o Noites Cariocas, sobre a década de 1980 – que fez toda a diferença para a música brasileira –, sobre a onda nacional de festivais e cenários futuros. Ele me adiantou que, além de tudo que já faz – são 11 empreendimentos diferentes nas áreas de mídia, cultura e entretenimento desde 2000 – ainda vem coisa nova por aí. Em novembro, ele lança outro projeto que vai ocupar também o Morro da Urca e um híbrido de reality show e festival. Em maio de 2025, será a vez da versão brasileira do Blue Note Jazz Festival, realizado anualmente em Nova Iorque. Confira a seguir como foi essa conversa.

Qual a relação do teu festival com o projeto Noites Cariocas de Nelson Motta, na década de 1980?

Calainho: A gente precisa recuar um pouco na história. Ali, nos anos 1980, nascia o pop rock brasileiro. E casas como Canecão não programariam artistas como Paralamas, Kid Abelha etc. Então o Nelsinho inventa o nome – que é genial – e inventa de fazer shows no Morro da Urca. Isso antes do Rock In Rio. O Noites Cariocas foi muito inspirador para a curadoria da primeira edição do festival, em 1985, convidar o line up nacional. Barão Vermelho, Lulu Santos, Paralamas, essa turma toda já estava tocando há quatro anos no Morro da Urca.

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E o que você hoje, no Tim Music Noites Cariocas, traz daquele primeiro Noites Cariocas?

Calainho: Primeiro isso, de celebrar o grande celeiro do pop rock brasileiro, onde literalmente ele nasce. A primeira coisa é isso, celebrar e é manter essa marca viva. É preciso que as pessoas saibam dessa história. A segunda é uma coisa que eu trago daquele momento: uma experiência que eu considero mística, mágica, um ritual. A energia daquele lugar é única. Existem grandes festivais de música no Brasil e no mundo. Eu passei onze anos na gravadora Sony Music, viajando pelos cinco continentes, e estive nos mais diversos lugares que se possa imaginar. Mas a experiência de um show ali no Morro da Urca é incomparável a qualquer lugar do mundo. Aquela pedra é um poder espiritual, não tenho nenhuma dúvida. Cercada de água por todos os lados, próxima aos astros. Você vê o Cristo Redentor, de braços abertos sobre a cidade.

É muito especial mesmo o que acontece lá em cima…

Calainho: Sim, é muita magia. E tem ainda um terceiro ponto que é a configuração daquele lugar, um anfiteatro que faz com que o artista esteja muito conectado com o público, e o público com o artista. Aquele formato – um grande caldeirão de arte, de muita energia, aquilo tudo – gera uma sensação para o artista de que ele está sendo abraçado, e para o público de que ele abraça.

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Empresário multifacetado, Calainho vai realizar a edição brasileira do Blue Note Festival Jazz, em maio de 2025.
Empresário multifacetado, Calainho vai realizar a edição brasileira do Blue Note Festival Jazz, em maio de 2025. (Sergio Zallis/Divulgação)

Você também procura dar espaço a novos artistas, como acontecia na década de 1980?

Calainho: Essa é a quarta coisa que eu trago de lá: dar espaço ao novo. Sempre foi um festival que se caracterizou por apresentar um novo gênero. Desde 2000, quando decidimos retomar o Noites Cariocas, temos privilegiado os novos artistas. Esse ano tivemos L7nnon, Catha, Agnes Nunes, Bala Desejo. Se a gente entende que é um festival de quatro décadas – e é! – também me motiva muito fazer essa viagem ao longo do tempo. Esse mergulho nessas quatro décadas, para fazer a curadoria, é absolutamente fundamental para a diversidade, diferença de gêneros. Então esse quatro são os grandes pilares que nos motivam a seguir fazendo o Noites Cariocas.

Você se envolve diretamente na curadoria?

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Calainho: Me envolvo 100%. A curadoria é feita por mim junto com o Daniel Stein, diretor artístico do festival. Que também está comigo no Blue Note, onde é meu sócio, e a curadoria de ambos – Tim Music Noites Cariocas e Blue Note – passa por boas conversas entre nós. Eu adoro participar disso.

E como você montou o line up desse ano?

As premissas são essas: fazer uma viagem por décadas, privilegiar determinados segmentos que já estão num lugar acima de qualquer coisa – como o nosso Guilherme Arantes, um dos maiores hits desse país, e como o Roupa Nova, que veio no ano passado. Mas ao mesmo tempo, no dia seguinte a Guilherme Arantes era L7nnon. Então essa aparente distopia é exatamente o que eu busco. O line up é pensado dessa maneira. Blitz eu conheci no Circo Voador, eu surfava naquela época e eu quis celebrar Evandro e Fernanda Abreu.

Como você avalia essa onda de festivais no Brasil inteiro? Tem fôlego pra tanto festival?

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Calainho: Não tem fôlego pra tanto. Vou te dar a minha visão: eu já vivi diferentes momentos e eu tenho certeza de que é uma bolha. Não há povo mais conectado com música do que o brasileiro. Isso eu ouvi de vários artistas internacionais, como Michael Jackson e Shakira. Mas aí veio a pandemia e parou tudo, travou geral, todo mundo em casa. E a alma e o coração do brasileiro palpitando. Quando liberou, veio uma demanda alucinada. Muitos empresários entrando numa de surfar essa onda, produtores que não existiam decidiram fazer festivais e se formou uma bolha com uma demanda alucinada nesse período pós-pandemia. E aí a coisa começa a ratear, muitos festivais tendo prejuízo, e o cenário começando a refrear. Essa é a minha hipótese. Mas quem sabe fazer, quem tem trajetória, vai permanecer. É a famosa crowd do pico, quando as ondas estão muito boas, então “crowdeia”, todo mundo querendo surfar. Só que daqui a pouco a onda já não está tão boa assim e só fica quem surfa de verdade.

A economia criativa vem crescendo no Brasil. Quais são as novas tendências, do seu ponto de vista?

Calainho: Eu tô vivendo uma experiencia que é muito impressionante que é a dos Blue Note, tanto no Rio quanto em São Paulo. São dois fenômenos. Uma das coisas que me parece uma tendência no campo da música é um desejo por uma certa intimidade. Casas menores, um serviço mais próximo. Intimidade, uma curadoria sensível, diversidade de artistas, uma experiência mais única. Outra tendência são os musicais, que estão explodindo mais do que nunca. O Brasil é o terceiro maior produtor de musicais do mundo, atrás de Estados Unidos em primeiro, e Inglaterra em segundo. Nós estreamos essa semana o Noviça Rebelde, que já não tem mais ingressos para pelo menos os próximos 45 dias.

E além de tudo isso, há ainda planos para o futuro?

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Calainho: Tem algumas coisas que a gente está planejando e já vou te dar um spoiler. Ano que vem vamos fazer o festival Blue Note Rio, num lugar muito maior, como acontece com o Blue Note Nova Iorque. Vai ser em maio de 2025. Vai haver também um outro festival, no fim deste ano, com uma característica curiosa, também no Morro da Urca. É um festival híbrido, que vai cruzar reality show com festival. Vem muita coisa nova ainda por aí.

 

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

 

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