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Rita Fernandes

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Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Sacramento celebra sucesso de roda samba e lança ‘Arco’

Em momento importante de sua carreira, artista realiza uma das rodas de samba mais badaladas da cidade e lança seu 21º disco

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
8 nov 2024, 14h53
O Samba do Sacramento acontece uma vez por mês, em uma das mais emblemáticas encruzilhadas da cidade.
O Samba do Sacramento acontece uma vez por mês, em uma das mais emblemáticas encruzilhadas da cidade. (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)
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Há quase um ano, ele ocupa uma das encruzilhadas mais emblemáticas do Centro. Marcos Sacramento escolheu a bifurcação entre as ruas do Rosário e do Mercado para realizar sua roda de samba. Um fenômeno que acontece há quase um ano e que nem ele sabe direito explicar. O Samba do Sacramento, totalmente gratuito, caiu nas graças do público e fez fama, reunindo verdadeira multidão em suas edições mensais. É notável a relevância que aquela roda de samba ganhou no circuito da cidade em tão pouco tempo, ainda mais sendo o gênero e o formato os prediletos dos cariocas. E olha que roda de samba é o que não falta pelas ruas da cidade.

Sacramento é um intérprete que faz toda a diferença. Com uma performance elegante e carismática, do alto daquele palco não há nada que ele não possa cantar, com afinação perfeita. Entre sambas clássicos e atuais, pagodes e músicas da MPB que se revezam nos três sets, Sacra – como é conhecido pelos amigos – se consolida com um repertório fora do óbvio e, ao mesmo tempo, cativante.

O público vai seguindo o artista nas músicas, entoando letras e refrões, com uma vontade real de cantar aos quatro ventos. Curiosamente, naquele pequeno pedaço de chão do centro do Rio, onde se percebe a presença dos encantados e orixás, venta um vento do mar ali pertinho, fazendo um caminho que alcança aquela gente.

Na última edição, 2 de novembro, o artista contou com participações pra lá de especiais, fato regular desde que o Samba do Sacramento começou, ainda em outra esquina, na Rua da Carioca. Naquele dia, dois artistas pernambucanos subiram ao palco para dividir com ele clássicos do cancioneiro carioca, os cantores Paulo Netto e Almerio. Também teve a presença da cantora Aline Paes, numa noite linda, com a plateia acompanhando no gogó as canções e compartilhando toda a emoção dos artistas. “Inexplicável o que acontece aqui, que força têm esse samba e esse lugar. Nunca vi nada assim”, disse Almerio, ao final.

Importante também para o sucesso do Samba do Sacramento são os músicos que compõem a roda, um time de primeira, com artistas consagrados e talentos de novas gerações: Luiz Flávio Alcofra (violão), Netinho Albuquerque (pandeiro), Lucas Machado (cavaco), Leonardo Dias (percussões), Rapha Morett (percussões) e André Vercelino (percussões) formam a base da roda, que recebe outros nomes. Sem contar a ousadia da guitarra de Elisio Freitas – instrumento que pode parecer estranho àquele ambiente – mas que Elisio consegue a façanha de adequar à realidade do samba.

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O 21o disco de Marcos Sacramento, hoje nas plataformas digitais, pontua a trajetória do artista. (Ana Alexandrino/Divulgação)

“ARCO” – trajetória cantada em disco novo

Celebrando seus 40 anos de carreira, Marcos Sacramento vive uma fase importante e intensa. Além do hiper sucesso de sua roda de samba, nesta sexta (8 ), seu 21º disco, “Arco” (Biscoito Fino), chegou às plataformas digitais. Disco primoroso, que ele apresentou para um pequeno grupo de amigos, jornalistas e artistas numa deliciosa noite de audição. “É um disco confessional”, disse a todos, emocionado, antes de apresentar o álbum.

É trabalho corajoso, em que Sacramento vai expondo sua trajetória, seja tratando de temas espinhosos como o alcoolismo (controlado há 24 anos), seja falando do enorme amor por Frido, celebrado em uma das músicas do disco. Mas tudo com muita suavidade, marcando um tempo novo em sua carreira e vida. O “Arco” se completa com um passeio por aquilo que chama de sua geografia interna (Bahia, Niterói e Rio). Ao mesmo tempo, canta seus orixás, os intensos anos 80 e ainda a América Latina.

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Desde o início, o disco é cheio de surpresas, com um repertório que exalta o lado autoral de Sacramento – em parceria ou em voos solo – em seis faixas. Mas que também o afirma como intérprete que domina com maestria seu ofício. É o que se vê, por exemplo, em sua primeira gravação à capella, com a belíssima interpretação que faz do samba-enredo “Xangô”, que o Salgueiro desfilou em 2019,  em homenagem a sua escola do coração. Letra e melodia de “Xangô”, uma obra-prima, na interpretação de Sacra arrebatam o ouvinte logo de cara.

Em “Todo amor que houver nessa vida”, da dupla Cazuza/Frejat, Sacra conta com a bela participação de Zé Ibarra. Contemporâneo de Cazuza, Sacra se considera um sobrevivente da década de 80 e, ao regravar a música, lança um olhar para aquela época – que viveu de forma intensa – de uma maneira mais tranquila, mais amorosa e madura, em alusão aos excessos e às loucuras daquela geração.

“Para Frido” é uma declaração ao grande amor da sua vida, Walfrido. Nesse que ele chama de “disco confessional”, quis deixar bem claro o seu amor, e também sua sexualidade, sem nenhuma culpa ou pudor. “Em um disco como Arco, cabia uma declaração assim, mais escancarada”, diz. O arranjo de sopro de Thiago Amud assinala ainda mais a suavidade da canção. “É o arco-íris do disco”, completa.

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Na parceria inédita com a dupla Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo em “Niterói”, Sacramento fecha o arco geográfico/biográfico do disco que começa com “Bahia-Rio” (a vinda simbólica e poética de Sacramento no ventre de sua avó, que saiu da Bahia para fincar raízes em Niterói), e termina em “Guanabara”, canção que versa sobre as delícias e as

E há muito mais no disco, que tem produção musical de Elisio Freitas e direção artística de Phil Baptiste, e que conta com inúmeras parcerias, como amigos de longa data, Paulo Baiano e Luiz Flavio Alcofra.

Estar com Sacramento nesses dois momentos tão distintos, e ao mesmo tempo tão simbólicos – a roda e o disco –, mostra o quanto o artista está em paz com sua trajetória e mirando no futuro, motivado e com esperança renovada de que ainda é possível – e lindo – ser artista no tempo presente. Marcos Sacramento reina pleno em sua própria “encruzilhada”, mostrando o poder de regeneração que tem a vida.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, pesquisadora de música, cultura e carnaval.

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