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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Carnaval 2022: sim e não

Rio dá exemplo para cidades do Brasil, com acompanhamento de indicadores científicos, diálogo e planejamento para um possível carnaval

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 nov 2021, 10h39 - Publicado em 25 nov 2021, 18h24

A pergunta se vai ter carnaval ainda não tem resposta. É cedo e prematuro afirmar qualquer coisa, antes do réveillon. Mas estamos sendo bombardeados com notícias que colocam o carnaval de 2022 em xeque, o que só piora o rumo das decisões. Pelo menos 70 cidades do interior de São Paulo anunciaram essa semana o cancelamento das manifestações de ruas. Algumas capitais, como Recife, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo, supreendentemente vêm se mantendo em silêncio em relação ao assunto, ao contrário do Rio, que já se manifestou e tem promovido o debate de forma ampla, sistemática e acima de tudo técnica, amparado pela ciência.

E, apesar de tantas incertezas que ainda pairam no ar, está correta a decisão da Prefeitura do Rio e os encaminhamentos claros e abertos dos debates na Comissão de Carnaval da Câmara dos Vereadores, com a participação ativa das ligas de blocos, das escolas de samba, dos órgãos públicos e de todos os envolvidos diretamente no assunto. Se debater, usualmente, é necessário, nesse momento é ainda mais, para o melhor encaminhamento das decisões.

Não dá para afirmar ainda, nem que vai ter, nem que não vai. É um processo complexo, que não depende apenas de dados de uma única cidade. E olha que não são poucos dados. Fosse assim, o Rio já poderia ter certeza da realização do seu carnaval, dado o adiantado da vacinação por aqui. Enquanto outras capitais insistem em desviar o foco desse que deveria ser o tema principal, no momento, o cumprimento da vacinação em massa.

Carnaval de rua só pode ser feito com a vacina e imunização da população.
Carnaval de rua: só pode ser feito com a vacina e imunização da população (Publius Vergilius - Sebastiana/Divulgação)

Precisamos ampliar nossas vozes, a população do Brasil toda tem que ser vacinada. E logo. Isso sim, é solução, e não apenas para o carnaval, mas para que a vida volte ao normal. Ninguém aguenta mais um ano de isolamento, nem conviver com essa doença e seus níveis alarmantes de mortalidade. A economia não suporta, a sobrevivência das pessoas, e não falo apenas da Covid-19. A solução já está posta, então não há porque adiar. Vacina!

Precisamos também nos desviar das manobras políticas que radicais vêm tentando com o carnaval – ainda que o carnaval seja político na sua essência, mas isso é completamente diferente. O carnaval está sendo manipulado e de forma descontextualizada, colocando em xeque, inclusive, a sua permanência. Justo a mais espontânea e democrática manifestação cultural que nós temos nesse país.

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Nós, que realizamos carnaval há tanto tempo, não podemos permitir esse jogo, pois há grande comprometimento para a festa em si e para a nossa liberdade. A sociedade precisa sim do carnaval. Pela liberdade que ele traz ao nosso viver, pela alegria e manutenção da nossa saúde mental, pelo impacto na economia, pela geração de emprego, pelo fazer artístico, pela beleza, pelo exercício da democracia.

É claro que não faremos e não queremos carnaval a qualquer preço. Fomos os primeiros a declarar que não faríamos em 2021, e fizemos campanhas desestimulando os que queriam fazer. Mas é preciso que haja evidências científicas para isso, não simplesmente entrar na onda sem dados nem parâmetros para dizer simplesmente que é “melhor não ter carnaval”. O assunto é sério demais!

Blocos como Charanga Talismã ocuparam as ruas da cidade, antes da pandemia se anunciar.
Blocos como Charanga Talismã ocuparam as ruas da cidade, antes da pandemia se anunciar (Foto Renata Feler - About Carnaval/Divulgação)

Há os que acham que a ciência não tem autoridade para dar seu veredito, com protocolos e indicares absolutamente técnicos e bem elaborados. Há quem queira acabar de vez com o carnaval, e por muitas razões. Carnaval é liberdade. Liberdade incomoda. Carnaval é democracia, e democracia também incomoda. Carnaval é diversidade, multiplicidade, pluralidade. Tudo isso incomoda porque é colorido demais. Principalmente para essa gente que resolveu defender uma certa “moral”, na qual não cabem nem as escalas de preto e de cinza. Moral branca, arcaica, antidemocrática.

Nós que realizamos carnaval, e aqui falo pela Sebastiana e seus 11 blocos, a associação da qual sou presidente desde 2004, estamos muito certos da forma como temos agido em relação ao carnaval do próximo ano. Estamos acompanhando os pareceres do Comitê Científico, que conta com a participação de instituições sérias como UFRJ e Fiocruz. Temos participado ativamente de todas as reuniões e debates com o poder público, e só mais adiante, baseados na ciência, volto a insistir, decidiremos o que vamos fazer. Única e exclusivamente dessa forma.

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Ainda tem muita água para rolar e é preciso acompanhar o cenário, aqui e lá fora. É preciso dialogar, para uma decisão conjunta entre todos, responsável e equilibrada. Mas também é preciso planejar, pois se houver segurança para a realização do carnaval, não será viável fazer nada em cima da hora. E aí, sim, tem riscos, e serão outros.

Então tomamos a decisão, em consonância com a Prefeitura e órgãos de saúde, de que vamos nos preparar para o carnaval de 2022, o que não significa, ainda, que ele acontecerá. Se for necessário, recuaremos sim de qualquer decisão, em nome da segurança de todas as pessoas.

O Rio tem dado demonstrações claras de transparência e de pertinência na forma como vem conduzindo o tema. Acertada também será a decisão de cobrar passaporte de vacinação dos que quiserem vir para cá, já que a cidade tem sido cuidadosa com seus cidadãos.

E acertada também tem sido a escolha de todos nós pelo diálogo aberto e democrático. O exemplo está dado.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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Rio dá exemplo para cidades do Brasil, com acompanhamento de indicadores científicos, diálogo e planejamento para um possível carnaval.

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