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Por Rafael Mattoso, historiador
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Parabéns à UFRJ e aos outros patrimônios educacionais suburbanos

No ano do centenário da UFRJ, o Instituto de Educação, a Fiocruz, a UFRRJ e a Uerj também têm motivos de sobra para comemorar seus aniversários

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Atualizado em 21 set 2020, 12h06 - Publicado em 19 set 2020, 03h53

É extremamente preocupante constatar como renomadas instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão estão sob ameaça atualmente. A escassez de recursos e equipamentos, o corte de bolsas de pesquisa e as severas restrições orçamentárias são alguns aspectos que tornam evidente a gravidade dos ataques à cultura e à ciência em nosso país.

Além da falta de investimento, infelizmente, também encontramos alguns grupos religiosos, veículos de comunicação e, contraditoriamente, até representantes do governo tentando descredenciar a importância da educação pública, gratuita, universal, laica e de qualidade. O próprio ex-ministro da educação Abraham Weintraub, frequentemente, demonstrava sua animosidade contra as universidades públicas, seus estudantes e servidores, tendo inclusive justificado na Câmara dos Deputados o “contingenciamento” de 30% do orçamento destinado a elas. Da mesma maneira, o quarto e atual ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, tomou posse há dois meses defendendo como proposta cortar R$ 4,2 bilhões de recursos da pasta para o próximo ano.

Protesto pela Educação (Valéria Silva/Arquivo pessoal)

Apesar de tantas adversidades – acrescidas ao contexto pandêmico que já atinge seis meses de duração -, o ensino, a pesquisa e a extensão seguem cotidianamente resistindo nos subúrbios cariocas.

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Precisamos destacar a resistência desses patrimônios aproveitando para lembrar de outras datas igualmente importantes para nossas instituições. Como é o caso do Instituto Superior de Educação que, em 2020, comemora os 140 anos do decreto de sua criação, e que desde 1927 ocupa o belo prédio da rua Mariz e Barros, na Tijuca.

Instituto de Educação 1940 (Arquivo Nacional/Arquivo pessoal)

Alguns meses atrás, nossa coluna saudou os 120 anos da Fundação Oswaldo Cruz, cujas atividades tiveram início em 1900 com a criação do Instituto Soroterápico Federal da Fazenda de Manguinhos. E não podemos esquecer de parabenizar a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, cuja origem está ligada à fundação da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, de 1910, e que há mais de 70 anos edificou seu campus imponente, hoje em Seropédica. Temos o dever de reverenciar a Universidade Federal do Rio de Janeiro, principalmente no mês do seu centenário, lembrando que parte significativa dessa instituição ocupou, a partir de 1973, a Cidade Universitária da Ilha do Fundão. Por fim, ainda em 2020 vamos comemorar em dezembro os 70 anos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Uerj.

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Todos os casos citados têm em comum o fato de suas histórias estarem diretamente ligadas aos subúrbios, transformando a vida de grande parte dos moradores da cidade.

O aniversário de 100 anos da antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ, nos obriga a rememorar um passado rico em histórias, tal como pensar em um futuro cheio de incertezas para a nossa educação e cultura. Com cerca de 60 mil estudantes e mais de trezentos cursos, somando graduação, mestrado e doutorado, essa importante universidade, referenciada nacional e internacionalmente, enfrenta grandes dificuldades.

Construção da Cidade Universitária (Acervo ETU/UFRJ/Divulgação)

Oficialmente fundada por decreto, em sete de setembro de 1920, a atual UFRJ surgiu da junção entre a Escola Politécnica e as faculdades de Medicina e de Direito da então capital federal. No ano de 1935, o ministro Gustavo Capanema iniciou a elaboração de um plano que visava criar uma cidade universitária. A partir de julho de 1937, passa então a ser conhecida como Universidade do Brasil, acrescida por novas unidades e institutos já existentes. Com destaque para as áreas de Química, Filosofia, Ciências e Letras, Metalurgia, Música e o Museu Nacional, mais antiga instituição científica do país.

Hoje, a UFRJ sofre os efeitos do descaso com a educação no país, aprofundados com a promulgação da Emenda Constitucional nº 95, em 2016, que instituiu um novo regime fiscal que limita os investimentos públicos por 20 anos e impacta direta e negativamente essas instituições. E atualmente sofre também com os ataques a servidores públicos e com a defesa de uma reforma administrativa que pretende a redução de direitos justamente da maioria daqueles que estão na base da pirâmide, recebendo os menores salários.

A título de exemplo: segundo o Banco Mundial, em 2019 o número de servidores públicos em relação ao tamanho da população no Brasil era menor do que a média dos países desenvolvidos. Isso sem considerar a desproporção de salários. O que vem sendo chamado apenas de gastos com servidores deveria ser considerado como investimento em políticas públicas de educação e pesquisa, e em favor da garantia de direitos e serviços que só podem existir se houver uma equipe técnica, docentes e pesquisadores para exercê-los.

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Contudo, fazendo frente a tantos ataques e ao projeto de desmonte da educação pública, essas instituições continuam a duras penas mantendo o nível de excelência. No caso da UFRJ, são diferentes iniciativas nesse sentido. O exemplo do Museu Nacional é muito emblemático, pois mesmo após completar dois anos do devastador incêndio que o atingiu, em setembro de 2018, a instituição não deixou de celebrar seu aniversário de 202 anos e dar continuidade à sua luta para se reerguer.

Reforma (acervo do Museu Nacional/Divulgação)

Muitos esforços têm sido empreendidos, com destaque para o chamado projeto global Museu Nacional Vive. Nele está o importante trabalho de resgate de acervos, que no início deste mês de setembro apresentou a coleção Imperatriz Teresa Cristina, composta por peças de escavações arqueológicas realizadas em Pompeia. E inclui ainda os projetos de arquitetura e restauro, desenvolvimento da nova museografia, potencialização das atividades de comunicação, e inauguração de um novo campus que terá um centro educacional voltado para ações com o público. É importante destacar a atuação de servidores envolvidos no trabalho, que também atuam incansavelmente nas ações de ensino, pesquisa e extensão e não pararam em nenhum momento.

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A maioria das atividades realizadas pela UFRJ busca cumprir uma função social como parte do processo de construção do conhecimento, materializado claramente pelas ações de extensão universitária. No Museu Nacional, essas ações foram intensificadas após o incêndio e continuam ocorrendo mesmo que remotamente, neste período de pandemia, em busca de uma aproximação com diferentes públicos e setores da sociedade. O número de ações praticamente dobrou, e surgiram iniciativas como os projetos de extensão Museu Nacional Vive e Renascer das Cinzas. O primeiro envolveu eventos realizados na Quinta da Boa Vista, ações com escolas públicas, especialmente da Maré. Em 2019, o programa recebeu o Prêmio Paulo Freire da Alerj. Já o Renascer das Cinzas é um projeto que busca um resgate de memórias, histórias e trajetórias de pessoas que de alguma maneira se relacionaram com o museu ao longo do tempo, e que culminará na produção de um documentário a partir das entrevistas realizadas.

Esse tipo de ação contribui para compreendermos a importância dessas instituições e valorizar o ensino, a pesquisa e a extensão em nosso país. Pensar o futuro da educação no Brasil implica reconhecer o papel dessas instituições na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e socialmente referenciada.

Este texto foi feito em parceria com Valéria Pereira Silva, Assistente Social e Servidora da UFRJ que atualmente é Coordenadora de Extensão do Museu Nacional e membro da coordenação da Comissão de Direitos Humanos e Combate às Violências da UFRJ. Contou também com a importante revisão e finalização da jornalista Sandra Crespo.

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