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Rafael Mattoso

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Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Rio Memórias lança novas galerias no seu museu virtual

O evento é aberto ao público e terá roda de samba comandada por Marquinho China, nesta terça (28) no Renascença Clube

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 mar 2023, 11h20
Foto colorizada das obras na Avenida dos Democráticos, Bonsucesso - 1928.
 (Augusto Malta/Arquivo pessoal)
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Muito além da incontestável beleza exposta na exuberância da sua natureza, assim como constatamos no orgulho vaidoso de seu povo, sabemos que a aclamada São Sebastião do Rio de Janeiro tem histórias incríveis para nos revelar. Apesar de todas as contradições, nosso Rio de cidades misturadas, de culturas e memórias múltiplas, certamente tem motivos de sobra  para celebrar, tantos fatos que transbordariam em muito a marca dos 458 anos da simbólica fundação colonial.
Para melhor retratar, conhecer e divulgar tantas potencialidades foi criado, em 2019, o Museu Virtual Rio Memórias. Em vias de completar seu quarto ano de ativa atuação, a plataforma https://www.riomemorias.com.br está lançando nesta terça (28), três novas galerias. Com a chegada das recém criadas “Rio das Artes” (tendo curadoria de Frederico Coelho), “Rio Suburbano” (idealizada por Rafael Mattoso) e “Rio Operário” (com autoria de Antonio Edmilson Rodrigues),  o site Rio Memórias passará a ter quinze galerias, registros importantes de olhares sobre a atmosfera carioca.
Para saudar está bela iniciativa, temos uma festa marcada para começar às 18h no Renascença Clube, Andaraí. A comemoração segue até as 22h, com uma roda de samba comandada pelo grande Marquinho China. O melhor é que tudo isso está com entrada liberada, mediante retirada de ingresso no Sympla. https://www.sympla.com.br/evento/arte-trabalho-e-suburbio-lancamento-novas-galerias-rio-memorias/1893256

Material de divulgação e lançamento das galerias do Rios Memórias
(Rio Memórias/Divulgação)

Com um total de mais de 180 mil visitantes, o site vem sendo acessado por um público de cerca de 12 mil pessoas por mês. Tudo isso está disponível de forma online e interativa, na palma das mãos, via celular, tablet e computador, gratuitamente em diversos formatos, tais como podcasts, site, redes sociais, passeios culturais, aulas de campo e muitas outras atividades.
Segundo a idealizadora do projeto, Livia Sá Baião, doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, “cada galeria traz um novo olhar sobre o Rio, revela narrativas e perspectivas pouco conhecidas e nos faz avançar na nossa missão de divulgar e valorizar a história da cidade. Só conhecendo o passado podemos dar conta do nosso futuro, refletindo sobre a cidade que queremos ter nas próximas gerações, buscando engajar os cidadãos para o cuidado com o nosso rico e diversificado patrimônio material e imaterial.”
Neste mesmo dia também teremos a possibilidade de conhecer duas novas publicações coletivas suburbanas. “Subúrbios: espaços plurais e múltiplos do Rio de Janeiro”, que acaba de ser lançada pela editora Autografia, e “Um Grande Méier de Histórias: heranças. caminhos e lembranças dos subúrbios cariocas”, da editora Kliné.
Não nos restam dúvidas de que devemos saudar os subúrbios como um grande celeiro de bambas, reduto de produção incessante de cultura e salvaguarda de patrimônios fundamentais para a nossa identidade e história. Devemos destacar que a cada 5 cariocas, 4 são suburbanos, 80% da população fluminense que vive e se relaciona com a cidade a partir das zonas Norte e Oeste.

Operarios trabalhando numa fábrica suburbana no início do século XX
Operários trabalhando numa fábrica suburbana no início do século XX (Augusto Malta/Internet)

Das artes ao subúrbio, passando pelos operários

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A galeria “Rio das Artes” vai propor um passeio pelos principais nomes, movimentos e obras das artes visuais que agitam a cidade desde o período colonial, tanto aqueles vinculados às instituições oficiais e privadas, quanto os grupos que se formaram autonomamente ou, ainda, os artistas independentes. Para preencher as seis salas online, o curador Frederico Coelho escolheu um punhado de personagens, eventos e momentos – os inesquecíveis e os raramente lembrados.
As memórias procuram pensar o lugar da arte no Rio e seu papel decisivo para o carioca. Em destaque, exposições, debates e espaços que marcaram a vida cultural do Rio como as famosas exposições Opinião 65 e Nova Objetividade Brasileira e a relação do artista plástico Hélio Oiticica com a Estação Primeira de Mangueira.
“Trouxemos charges e capas de revistas ilustradas, como a Fon-Fon e a Careta, revisitamos a fundação do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Ateliê do Engenho de Dentro, da psiquiatra Nise da Silveira, e abordamos as modernas formas de se expressar visualmente, entre elas a fotografia, as instalações, os happenings e as performances, que evocam os tempos do experimentalismo”, situa Coelho.
Já a galeria “Rio Suburbano” é um convite para compreendermos a história das áreas que surgiram a partir da construção de fábricas e da linha ferroviária, suas formas próprias de organização espacial, cultural e de mobilidade. Seus saberes e tradições renovados, suas identidades e formas de ser e estar nessa cartografia urbana e afetiva. A galeria toda é uma celebração às práticas próprias de seus habitantes.
Com curadoria de Rafael Mattoso, a galeria leva ao visitante, nessas cinco salas online, como é o subúrbio em suas diversas manifestações simbólicas e sensoriais, ao mesmo tempo em que lê sobre contextos históricos e processos de formação que permitem melhor compreender essas dinâmicas. Reunimos memórias que dão conta das miudezas da vida suburbana, como correr atrás e deliciar-se com doces de Cosme e Damião, soltar pipa nas ruas e nas lajes, se apropriar da calçada ou das vias públicas para bater um traço de concreto ou para comemorar alguma data importante.
Por fim, a galeria “Rio Operário” traz um panorama da vida, do trabalho e das lutas dos operários do Rio, principalmente das fábricas de tecidos que, desde o final do século XIX até os anos 1930, formaram bairros e influenciaram os modos de vida, acrescentando música e poesia à cidade e demarcando espaços urbanos que ganharam a condição de lugares de memória. Foi esse “mundo do trabalho” que, de certa forma, promoveu a modernização da cidade.
As vilas operárias, os pagamentos diferentes para homens e mulheres, o emprego das crianças nas fábricas, os times de futebol e outros aspectos que envolvem a formação da classe trabalhadora carioca são desenvolvidos em sete salas. Tudo sempre permeado pelas questões raciais, sociais e de gênero.
“Na sala ‘Greves’, por exemplo, abordamos as lutas operárias, partindo das paralisações de escravizados até chegar nas grandes greves do século XX. Extrapolamos o que é considerado o marco das greves no Rio de Janeiro – a paralisação dos tipógrafos em 1858 – e rememoramos as paralisações de pessoas em situação de cativeiro, como a que ocorreu no fim dos anos 1820, quando os trabalhadores escravizados da Real Fábrica de Pólvora, no Jardim Botânico, se uniram aos trabalhadores livres para reivindicar melhorias nas condições oferecidas, incluindo diárias e dieta alimentar”, situa Edmilson.

Foto das casas em Marechal Hermes, 1937
Marechal Hermes, 1937 (Rio Memórias/Divulgação)

Durante a apresentação no Renascença, Marquinho China estará à frente de uma roda fortíssima, cantando obras-primas do gênero musical mais suburbano que existe, como “Apoteose do samba” (Silas de Oliveira), “Sou mais o samba” e “Filosofia do samba” (Candeia). Acompanhado por Rafael Mallmith (violão 7 cordas), Léo Pereira (cavaquinho), Marco Basilio (surdo e percussão), Rodrigo Jesus (pandeiro) e Marcelo Pizzott (tantan), China, que também é professor de história, vai costurar o repertório com o que sabe sobre arte, subúrbio e operariado.
Por falar na poesia do nosso samba, terminamos lembrando que viver é a arte de conectar-se ao mundo, compondo coletivamente nossas histórias a partir dos nossos lugares sociais. Aproveitamos para lembrar que os trens dos subúrbios da Central do Brasil estão completando 165 anos desde a sua inauguração, em março de 1858, e que neste ano as oficinas dos operários do Engenho de Dentro, além da própria criação da freguesia do Engenho Novo também completam  150 anos.

Cartaz convocando para roda de samba com Marquinho Chin
(Rio Memórias/Divulgação)
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