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Por Rafael Mattoso, historiador
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Registrando olhares sobre os subúrbios e sua cultura

O mês de julho traz o lançamento de Imagens da Maré, além de muita arte e outras belas apresentações populares

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Atualizado em 2 jul 2022, 14h41 - Publicado em 1 jul 2022, 19h33

A história, tal como a vida suburbana, é marcada por contradições, lutas e muita resistência. É evidente que a população pobre do Rio de Janeiro foi a mais afetada, ao longo do tempo, pelas políticas promovidas para a suposta modernização e embelezamento da antiga capital. Enquanto uma pequena parte da cidade se remodelava, os subúrbios, favelas e baixadas cresciam exibindo em suas ruas a falta de investimentos em lazer, sistema de abastecimento de água e tratamento de esgoto, sem falar nos problemas que envolvem o transporte público, além do sucateamento de equipamentos de saúde e educação.

Por tudo, muitas pessoas que vivem nos subúrbios, por vezes, se sentem com vergonha ou até mesmo constrangidas por serem estigmatizadas ao falarem onde moram. No entanto, sabemos que os subúrbios nunca deixaram de ser espaços incessantes de produção de culturas associativas.

Muitos desses problemas históricos contribuíram para a produção de um panorama atual de desconhecimento das particularidades e potencialidades locais, tornando necessária a formatação de novas políticas públicas voltadas à população suburbana. Sempre é legítimo afirmar que os subúrbios cariocas são endereço de mais de 70% da população do Rio. São cerca de 5 milhões de moradores vivendo nos 130 bairros das zonas Norte e Oeste.

Um importante exemplo que destacamos é o caso do Complexo da Maré, região que – mesmo sendo oficialmente reconhecida como bairro desde 1994 – ainda é representada apenas como espaço de violência, sem ao menos gerar aprofundas reflexões fruto deste processo, que afeta diretamente os 140 mil habitantes das 16 comunidades que compõe o que entendemos por Maré.

Na mesma semana em que mais uma violenta e ineficiente operação policial produziu novas vítimas, o professor e fotógrafo Francisco Valdean lança um livro com outro olhar interno sobre a Maré.

“Fotos fortes, momentos densos e verdadeiros dados a conhecer por quem participa deles, quem saiu da condição de objeto para se tornar sujeito”. Assim o fotógrafo Milton Guran resume o recente livro de  Valdean. Morador da Maré, o autor foi um dos integrantes da primeira turma de fotógrafos populares do projeto Imagens do Povo, do Observatório de Favelas. Isso era 2004, e desde então ele já até coordenou o projeto e hoje é professor – tanto de fotografia como de sociologia – em escolas públicas no Rio de Janeiro.

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Para o fotógrafo Pedro Karp Vazquez, Imagens da Maré “registra o exemplar processo de inserção social mediado pela fotografia, demonstrando como essa disciplina permitiu aos seus moradores a conquista da cidadania plena e a afirmação da importância do indivíduo no quadro social”. E completa: “o livro de Francisco Valdean já nasce fadado a se tornar uma valiosa fonte de referência para os futuros historiadores da fotografia nacional”. Não é pouca coisa. A obra, recheada com registros desses fotógrafos populares e suas imagens carregadas de sentimentos, será lançada na próxima sexta (1º), na Maré, claro.

O lançamento será no Bar Amparo, que fica próximo à entrada da Passarela 7 da Avenida Brasil. Durante o evento, Valdean ainda vai contar um pouco sobre a construção da obra.

Elisângela Leite. Crianças se divertem na rua, em um beco na favela Nova Holanda, na Maré
(Elisângela Leite/Arquivo pessoal)

Por mais forte e interessante que seja um registro fotográfico, o que conta mesmo é o pedaço de vida que vai ali representado. Sabemos que a produção de sua própria imagem é uma condição essencial para a construção das identidades sociais e, consequentemente, para o exercício pleno da cidadania. A questão da autorrepresentação vem ganhando força há pelo menos vinte anos, com a implantação de projetos de capacitação em fotografia voltados para setores sociais e minorias identitárias sempre representados de forma distorcida ou abertamente preconceituosa pela grande imprensa, constituindo um movimento conhecido como inclusão visual.

“Imagens da Maré: narrações fotográficas da favela” é um livro instigante, pioneiro e imprescindível para quem vê na fotografia um instrumento de transformação e de busca por justiça social.

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Cartas de lançamento do livro Imagens da Maré, de Francisco Valdean
(Divulgação/Arquivo pessoal)

E como a cultura suburbana não para, também temos o prazer de anunciar que a segunda edição do projeto “Viva o compositor brasileiro” está em cartaz. Esperamos que o sucesso da primeira temporada se repita, tendo como norte o debate sobre a real situação dos compositores brasileiro, categoria que infelizmente vive certo obscurantismo e anonimato principalmente no contexto da pandemia.
Além da formação de plateia nos palcos do subúrbio, baixada e interior do estado, buscando sempre maior acessibilidade com ingressos gratuitos ou a preços populares, R$ 5,00. Cada show terá abertura de um músico alternativo, com composições autorais.
“Viva o compositor brasileiro” circulará pelos teatros: Arthur Azevedo (Campo grande) Armando Gonzaga (Marechal Hermes), além de seis municípios, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Maricá, Cabo Frio, Mendes e Volta Redonda com shows dos artistas: Ivan Lins, Isabella Taviani, Yassir Chediak, Bochecha e Wagner Tiso.

Material de divulgação do projeto
(Divulgação/Arquivo pessoal)

Este sábado, dia 2, também terá a cantora e compositora Ilessi se despede da temporada no Rio com sua participação no Festival Itinerância Rebel, com o show “Dama de Espadas”. Quem quiser prestigiar basta comparecer na Arena Dicró da Penha, às 18h. Vale ressaltar que a Arena Carioca Carlos Roberto de Oliveira – Dicró é um importante equipamento público suburbano que acaba de completar 10 anos de resistência cultural.
Para terminar gostaríamos de agradecer a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, pois nesta sexta o vereador William Siri organizou uma Moção em homenagem ao trabalho dos profissionais de cultura da Zona Oeste, entre eles o músico e amigo suburbano Alam Bernardes, que recentemente lançou seu EP “Fruto Bruto”.

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