Lonas Culturais: a luta pela maior visibilidade suburbana
A importância da cultura como ferramenta de combate ao racismo
Falo com frequência da importância do mês de novembro para nossa suburbanidade. É muito representativo ter no mesmo mês o Dia Nacional da Cultura, Dia da Favela e o Dia da Consciência Negra.
Nessa semana é mais um claro exemplo da força cultural suburbana, pois no dia 10 comemoramos os 66 anos da Mocidade Independente de Padre Miguel e no dia 12 os aniversários de 79 anos do grande Paulinho da Viola e também de outro célebre portelense, João Nogueira, que completaria 80 anos.
A relevância das escolas de samba é inquestionável, principalmente para a nossa ancestralidade e sociabilidade. Contudo, reconhecemos que existem outros espaços fundamentais para as manifestações populares.
Segundo o parceiro Flávio Lima, responsável pela Casa do Artista Independente, um dos projetos mais importantes da Política Pública de Cultura para os subúrbios são as Lonas Culturais. A partir da mobilização de artistas, fazedores de cultura, agitadores culturais e população em geral, a Secretaria Municipal de Cultura implantou vários desses equipamentos em diversas áreas dos subúrbios cariocas, sempre atendendo às demandas populares. Foi assim, em Anchieta, Bangu, Guadalupe, Vista alegre, Maré entre outras. Eu tive a honra de participar dos movimentos “pró-Lonas” em vários lugares e, graças à participação de valorosos companheiros e companheiras, conseguimos implementar inúmeros projetos em parceria.
Para Adailton Medeiros, idealizador o Ponto Cine, as Lonas que surgiram após 1993, sendo a primeira em Campo Grande chamada Elza Osborne foram fruto de uma grande luta. O mesmo aconteceu para implementação do projeto Hermeto Pascoal, em Bangu.
O interessante é que pela primeira vez o subúrbio assume o protagonismo na implantação de uma política cultural que imagina e deseja. As Lonas Culturais, mesmo sendo do poder público, pois foram doadas pela Comunidade Europeia, tornaram-se o equipamento cultural emblemático do subúrbio, por conta dos artistas organizados em suas comunidades.
As Lonas Culturais não são um projeto que veio de cima pra baixo, surge de baixo pra cima. Momento em que a autoestima suburbana ganha cores e visibilidade, mais que isso, quer mostrar o orgulho que sentem a respeito da vida pulsante em nossos territórios. É a hora da vez, voz e vida, independente de terceiros pra legitimá-las. Tanto que seu modelo de administração é de cogestão, ou seja, a estrutura e a verba de manutenção, baixíssima por sinal, é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, a programação, oficinas, divulgação e muita criatividade é de uma ONG, geralmente local (ao menos era pra ser assim).
As Lonas são um marco de luta na disputa pela hegemonia cultural da cidade, a partir delas nota-se que há vida inteligente após aquele mundo entre o mar e o túnel.
Atualmente, estes equipamentos estão em estado de penúria. Com parcos recursos para gerenciar seus projetos e eventos. Mesmo assim, seus gestores resistem heroicamente, contando com a participação de coletivos parceiros locais. Muitos deles, que só têm estes espaços como geração de emprego e renda.
A multiplicação do acesso à cultura, a formação de plateias e o estímulo de novos artistas são as principais razões do sucesso das lonas. Desde o Início o projeto representa um avanço na descentralização da produção cultural da cidade e acesso aos equipamentos urbanos de cultura.
É com esse propósito que o Centro Cultural CASARTI – Casa do Artista Independente, realiza neste sábado, dia 13 de novembro de 2021, a partir das 15 horas, o evento “Ubuntu – Consciência Negra”, na Lona Cultural João Bosco, na Av. São Felix, 601 – Vista Alegre. São várias atividades, entre elas: Lançamento do livro “Ashanti – nossa pretinha” de Taís Espírito Santo, poesia com José Araújo e roda de samba com a Velha Guarda Musical de Lucas.