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Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga
Educação
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Há 100 anos existe uma escola que ensina democracia!

Debates sem argumentação geram discussões improdutivas com a consequência da deseducação política, o que é pena, pois aprende-se democracia desde criança

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 ago 2022, 20h32

O ano de 1968, no século 20, foi emblemático para uma geração. A juventude ocupou as ruas de cidades em muitos países de vários continentes para protestar. Eram ondas de manifestações estudantis contra as estruturas sociais, políticas, culturais e econômicas, consequência de acontecimentos significativos que abalavam o mundo naquele momento: as manifestações estudantis no mês de maio de 1968 em Paris, os protestos da juventude norte-americana contra a Guerra do Vietnã e os Panteras Negras contra o racismo; na Checoslováquia socialista pedia-se a democratização; a ordem estabelecida era questionada, junto com a ordem industrial e exigiam-se reformas educacionais. Nos países latino-americanos, os protestos surgiam contra ditaduras e a espoliação dos países por governos estrangeiros. No Brasil e em outros países sulamericanos, uma juventude corajosa e generosa se arriscava lutando contra a ditadura e a repressão.

Naquele tempo agitado, circulava um livro com o titulo de ‘Liberdade sem Licença’, que contava sobre uma escola inglesa diferente de todas as conhecidas aqui. O autor do livro era A.S. Neill, que criou Summerhill, uma escola que ficou famosa pela liberdade de seus alunos e porque ensinava democracia. Os alunos, juntos, discutiam os problemas, os planejamentos, os tipos de comportamento aceitos. Também podiam decidir se assistiam às aulas, se estudavam, se queriam brincar. Para quem era jovem e brigava com a repressão, Summerhill parecia o paraíso. Foi com surpresa que li, há pouco tempo, que Summerhill, a escola inglesa que ensinava democracia, fez 100 anos e ainda  existe! As lembranças trouxeram certa nostalgia, ainda mais neste momento atual sombrio da democracia, que enfrenta os descalabros de políticas econômicas, a preocupante crise climática, o pânico da pandemia e uma guerra inadmissível.

O mundo mudou muito desde 1968 até hoje, para o bem e para o mal. A tecnologia digital promoveu um desenvolvimento excepcional nas ciências e comunicações, e ainda há muito por vir; as relações entre as pessoas se mudaram para as redes sociais, onde a dinâmica é diferente do encontro presencial. A barreira da tela facilita a radicalização do debate sem argumentação e gera discussões improdutivas, com a consequência da deseducação política, o que é lamentável, pois aprende-se democracia desde criança.  Em Summerhill, há 100 anos, todos os dias, meninas, meninos e professores se reúnem para discutir o que querem aprender, investigar, explorar. É a democracia aplicada diariamente.

Apesar do encanto desta pedagogia libertária – e concordando que as crianças devem brincar muito -, as pesquisas sobre a capacidade humana de aprender, descobrir, inventar e inovar mostram que o modo de desenvolvimento das estruturas cognitivas das crianças deve ser apoiado por adultos, que podem ajudar a descobrir que aprender é tão prazeroso quanto brincar. Depende de como se é apresentado à aprendizagem. O acervo cultural construído pela humanidade é fascinante e fundamento para inventar soluções para os desafios que enfrentamos e para melhorar quem somos. Mas mesmo com os excessos de Summerhill, é preciso reconhecer a coragem de A.S. Neill de pensar uma proposta educacional diferente, de acreditar na possibilidade – e na necessidade – de educar uma geração mais crítica, que aprende e pratica valores democráticos.

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A instituição escolar hoje já está mais perto de ideais de aprendizagem que incentivam a capacidade de pensar, que reconhecem o protagonismo do aluno, a importância do afeto e empatia com eles e o reconhecimento das diferenças entre eles que têm, cada um, seus próprios interesses. E também não vamos esquecer a necessidade de discutir com eles a importância dos valores democráticos.

 

 

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