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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação
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As escolas depois da pandemia

Ela vive um momento marcante, com o reconhecimento do seu papel central na prosperidade econômica, social e política das nações

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 fev 2021, 10h34
sala de aula vazia
Escola: como será o amanhã? (Léo Lemos/Veja Rio)
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             Um famoso autor de livros de ficção científica, William Gibson, terminava de escrever uma novela quando dois prédios em Nova Iorque foram atingidos por dois aviões, num ataque terrorista. O fato desestruturou a base da história que ele imaginara. Aquela novela futurística não fazia mais sentido no cenário real criado no inesquecível dia 11 de setembro de 2001. O grande cronista do futuro foi atropelado pelos acontecimentos da realidade. Pois é, o futuro pode virar arcaísmo a cada segundo.

      A humanidade também foi atropelada em 2020 por um evento abrupto e imprevisto. Um vírus desestabilizou a vida do planeta e tudo parou e as escolas se fecharam. Em poucos dias os educadores precisaram promover uma mudança radical e projetar uma escola no espaço virtual.

     Um relatório sobre os efeitos da pandemia na educação, realizado por Shelby Carvalho e Susannah Hares, publicado pela Universidade Diego Portales, no Chile, indica as consequências de ordem global que os formuladores de políticas educacionais enfrentarão daqui para a frente. Lembra que a escola dificilmente terá outro momento tão marcante e deveria capitalizar o fato de,   enfim, ter reconhecido seu papel central na prosperidade econômica, social e política das nações.

     Para as autoras, a primeira consequência séria da pandemia para a educação é a grave instabilidade econômica global, que afeta o orçamento dos países e atinge a educação. Para proteger investimentos essenciais e avanços já obtidos, será essencial manter a educação no centro das discussões políticas. 

      Segue-se a evasão escolar que, historicamente, acompanha os problemas da escolaridade, com os motivos recorrentes de falta de incentivo, necessidade de trabalhar, de ajudar a família, meninas vulneráveis, gravidez precoce. Trazer os alunos de volta implica campanhas de incentivo, o apoio da comunidade, assistência financeira às famílias e boa alimentação na escola. 

     Uma consequência positiva foi o substancial progresso em projetos de aprendizagem virtual alcançados por algumas escolas do mundo. Surgiram possibilidades promissoras, a serem incentivadas para complemento do ensino regular, para atingir as crianças cujo acesso à escola é difícil  e para manter a instituição preparada para crises futuras. Outras modalidades de tecnologia foram utilizadas, como rádio, televisão, apostilas, gravações e outros materiais. Mas, no mundo inteiro, existem muitas famílias sem acesso a nenhuma tecnologia – internet, radio, televisão, livros etc. Portanto, os modelos tradicionais de educação ainda prevalecem. 

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       As perdas de aprendizagem são uma consequência dramática e catastrófica da pandemia porque expandem a desigualdade no mundo. Como a aprendizagem é diretamente ligada ao fator sócio-econômico, as crianças não são todas atingidas de um mesmo modo. Programas de recuperação de aprendizagem precisam ser priorizados para reverter as perdas e encorajar aprendizagens futuras. Sem ações governamentais direcionadas e incisivas, a lacuna entre as crianças desassistidas e as privilegiadas continuará a crescer. 

     A pandemia trouxe uma questão interessante para os formuladores de políticas educacionais: a questão dos exames nacionais, que quase todos os países mantêm, e são um marco na vida dos alunos. O questionamento da existência dos exames foi oportuno. Embora igual para todos, não é um exame justo, já que não leva em consideração as vantagens das crianças de famílias que podem sustentar uma educação melhor, que têm pais mais instruídos e que são mais bem nutridas. A desigualdade baseada nos privilégios da riqueza já existia antes da pandemia.

     No rastro do choque econômico mundial, as escolas particulares enfrentaram um ano difícil, com redução de receita, chegando algumas a desistir de continuar, o que resultou em demissões de professores e pessoal. Deu-se um desequilíbrio na “ecologia das escolas”, famílias deixando as particulares e migrando para as públicas, o que sobrecarrega o sistema do governo, que não tem como absorver tantos alunos. Há governos que estão a coletar dados sobre os impactos sociais do fechamento de escolas privadas para refletir sobre uma resposta política adequada.

     Todas essas consequências da pandemia exigem enfrentamento e soluções imediatas, segundo Carvalho e Hares em seu artigo. 

     Mas cresce a interrogação sobre a formação das novas gerações no século 21. O isolamento mostrou que a instituição cuida das crianças de modo amplo e continuará a cuidar – cuidados físicos, emocionais e intelectuais. Mas o quê realmente as crianças precisam aprender no século 21 e para que modelo de sociedade? Segundo o historiador israelense Yuval Harari, a única certeza que se tem atualmente é a mudança, sempre radical e em espaços de tempo cada vez menores. 

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     Para viver num mundo incerto, aposta-se na necessidade de se adaptar a mudanças e solucionar problemas, problemas complexos, reais, da vida. São capacidades desenvolvidas em qualquer área de conhecimento. É preciso pensar para resolver problemas; começar por reconhecer um problema, organizar o reconhecimento para compreender, recortar, criar caminhos, atalhos, inventar soluções e talvez encontrar outro problema à frente. No mundo de hoje, os processos de solução não são individuais, é preciso contar com o pensamento do grupo todo. Outra habilidade a adquirir. 

Uma nova proposta precisa ser pensada por muitos, aprofundada, criticada, especificada, potencializada em discussões com outros educadores, com todos os professores, que continuam responsáveis pela aprendizagem do aluno. 

     Mas, mais do que tudo, as próximas gerações devem crescer construindo uma mentalidade ética e moral, que diverge da crescente  desigualdade socioeconômica e age para reduzir o aquecimento global, que são os problemas sérios do século em que vão viver. Se a mudança é a característica do século 21, vamos acreditar que alguns valores permaneçam estáveis, como justiça, solidariedade e importância da vida.  

     Uma reflexão sobre educação não é prescrição nem predição, até porque, aprendemos com o escritor citado acima, William Gibson, que o futuro é como sorvete, derrete-se a cada instante. E, a cada momento, a realidade pode mudar as possibilidades de futuro.

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