Turismo de luxo ainda derrapa quando o assunto é representatividade
Dados apresentados pela BLTA na ILTM, principal evento de turismo de luxo do continente, mostram baixa representatividade no setor

Um levantamento da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association) apresentando durante a última edição da ILTM, principal evento de negócios do segmento na América Latina, mostrou que o turismo de luxo ainda derrapa quando o assunto é representatividade.
Apesar da evidente preocupação do setor de viagens de alto padrão com a sustentabilidade, quando o tema é a representação de diferentes grupos sociais as iniciativas ainda são muito pequenas. O resultado é a subrepresentação de grupos minorizados, em especial da população preta.
A pesquisa feita junto aos hotéis que fazem parte associação demonstrou que apenas 28,12% dos colaboradores são pretos. Um número muito pequeno se considerado que mais da metade da população brasileira se identifica como pertencente a este grupo racial. Ainda, o levantamento não demonstrou os cargos ocupados por estas pessoas, mas é senso comum que ocupam mais posições de entrada do que de comando quando se trata de hotelaria de luxo.
“A diversidade começa de dentro pra fora. Quando olhamos, por exemplo, as redes sociais desses hotéis não encontramos representatividade. Isso causa uma sensação de não pertencimento para grande parte da população”, destacou Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America.
O resultado pode ser o afastamento de uma parcela importante do mercado consumidor. Em tempos que o “novo luxo” passa por experiência autênticas, ver a baixa representação de parcela importante da nossa sociedade é uma contradição ao que os próprios hotéis costumam pregar como seus diferenciais.
Segundo Camila Barretto, CEO da BLTA, o novo viajante de luxo quer conexão e significado. Este novo conceito é muito mais subjetivo, sensorial e consciente. Isso demonstra o quão urgente é preciso trazer o debate e, principalmente, ações de ampliação da representatividade no setor.
Questionada como a associação pretende modificar o panorama atual, Barreto afirmou que quer fortalecer ainda mais os encontros promovidos com foco na pauta ESG. “A gente ainda está na fase de conscientização para depois trazer um plano de ação estruturado e fazer a modificação. Precisamos reunir todos esses associados em encontros de ESG. Ano que vem quero trazer números infinitamente melhores”. Porém não deixou claro se há um plano específico para cuidar de forma separada do tema dentro da ampla agenda de ESG.
Iniciativas como realizadas pela BLTA são fundamentais para ampliar e manter o debate acesso. Levantamentos são primordiais para uma análise profunda da atual situação e traçar metas de resultado. Porém, chegar em 2025 com número de subrepresentação como o apresentado deixa claro que talvez o debate até aqui tenha focado apenas na sustentabilidade, que também merece atenção mas não pode se transformar em justificativa de algo sendo feito em detrimento das outras pautas.