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Otavio Furtado

Por Otavio Furtado, jornalista e consultor de diversidade & inclusão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

O impacto na mulher preta do racismo estrutural na indústria de cosméticos

Não há somente atraso na representatividade no marketing, mas também no desenvolvimento de produtos específicos e na produção de pesquisa

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1 abr 2025, 08h01
Racismo na indústria de cosméticos
Natura lançou projeto para pesquisa sobre hiato na indústria de cosméticos (Cottonbro Studio/Pexels)
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A indústria da beleza foi construída a partir de parâmetros que naturalizaram a centralidade do corpo branco. Ainda há uma defasagem não só na representatividade no marketing, quanto no desenvolvimento de produtos específicos e até mesmo na produção de pesquisa. Isso causa um impacto direto na vida das mulheres pretas.

“A ausência de produtos voltados à pele negra é uma expressão objetiva do racismo estrutural. Não é acidental, é sistêmico. A indústria de cosméticos usa pesquisas e bases de informações que reforçam características que não representam toda a universalidade de tons de pele. Como consequência, até hoje vemos uma escassez dramática de investimentos em pesquisa, inovação e desenvolvimento de produtos para peles ricas em melanina”, comenta Daniela Diogenes, Head de Ciência do Bem Estar na Natura.

A empresa lançou o Projeto Dandara, com pesquisa qualitativa e quantitativa com mulheres pretas, justamente para identificar esse hiato e suas consequências no dia a dia das consumidoras. O que mais apareceu foi a ausência de produtos formulados a partir das necessidades reais da pele negra. “É o que mais fere, porque comunica uma mensagem subjacente: seu corpo não foi previsto, sua pele não é parâmetro, você não é o centro”, completa.

A especialista verificou que a rotina de cuidados dessa mulheres acaba então sendo marcada por estratégias de adaptação, como uma entrevistada que afirmou que usa coque ou tranças para evitar cuidados demorados. Isso demonstra de forma prática a necessidade de produtos pensados desde a origem para atender as demandas desse público.

O impacto é enorme. “E não é apenas cosmético. Ele é psíquico, identitário e social. Porque quando o cuidado não é possível, o pertencimento também não é”, explica Daniela. Para ela a sociedade está avançando, mas o avanço simbólico ainda não foi plenamente acompanhado por um avanço estrutural. É preciso não só aumentar a abrangências das pesquisas, como incluir mulheres pretas na cadeia de comando da indústria.

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Aline Lima, Head de Diversidade e Inclusão da Natura, explica que a empresa entende a necessidade de trazer essas pessoas para as tomadas de decisão. “Nosso compromisso público é alcançar 30% de pessoas negras em cargos gerenciais até 2030”, comenta. Segundo ela a empresa trabalha para garantir que a diversidade esteja presente de ponta a ponta, seja no desenvolvimento do produto ou na escolha de parceiros estratégicos.

Mas faz questão de destacar a importância da escuta: “Quando uma mulher negra compartilha que passou a vida evitando batons vibrantes porque ouviu que sua boca era grande demais; ou que evitava cores como o rosa porque diziam que não combinavam com sua pele, não estamos diante de preferências. Estamos diante de feridas abertas por um mercado que não a reconheceu”. E completa: “Nossa responsabilidade é transformar essas escutas em ação”.

Um resultado prático de todo o trabalho desenvolvido foi o lançamento recente de uma linha de produtos inspirada no estudo do Projeto Dandara. Para o desenvolvimento do Natura Tododia Jambo Rosa e Flor de Caju inclusive a empresa contou com Jerry Padoly, homem negro franco-caribenho e um dos únicos perfumistas negros do mundo, para assinar a fragrância. Em uma imersão em Salvador, ele viveu o território, se conectou com os saberes locais e traduziu essa vivência em sensorialidade.

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