Livro Duas mães e uma filha fala para além de mulheres LBTQIA+
Jornalista Maíra Donnici fala na obra sobre sexualidade e maternidade através da sua própria experiência
O título “Duas mães e uma filha” pode sugerir que estamos falando de um livro que só conversa com mulheres LBTQIA+. Mas, apesar de tocar em assuntos ligados a pauta, já que a autora coloca nas páginas parte da sua experiência pessoal, a obra acaba falando com todas as mulheres.
“O livro é sobre uma mulher que busca a liberdade de ser quem ela é. E isso atinge todas as mulheres já que somos oprimidas todos os dias pela sociedade. Queremos ser o que achamos que queremos ser e não o que a sociedade impõe”, explica a autora Maíra Donnici.
Falar sobre a opressão sofrida por mulheres ou outros grupos historicamente reprimidos sempre existiu na vida de Maíra. A jornalista assina direção, roteiro, edição e produção do filme “Meus 18 anos”, sobre jovens que passam a vida em instituições de acolhimento até completarem a maioridade. Também dirigiu e roteirizou o documentário “Não é amor, nunca foi amor”, sobre violência contra a mulher, e atua como consultora de Diversidade e Inclusão. A ideia de “Duas mães e uma filha” é mais um trabalho que Maíra desenvolve para levantar questionamentos sociais importantes. Nas páginas há debate sobre sexualidade, gênero e maternidade.
O livro foi concebido a partir do blog em que dividiu sua experiência enquanto mãe e das trocas que tem constantemente com outras mulheres através das suas redes sociais. Mas a autora fez questão de revisitar os textos antigos para entregar uma versão atualizada. “Eu era uma pessoa que não sou mais. Naqueles textos (do blog) Há muita angústia, dor, dúvidas. Mas precisei ser aquela pessoa para me tornar a que sou hoje”, explica. Ao revisitar sua própria história Maíra usa sua vida ao lado da esposa e como mãe para trazer pontuações importantes que podem fazer a diferença para outras mulheres.
Sobre sexualidade escreve sobre as dificuldades cotidianas de um casal homoafetivo, mas também sobre seu processo de aceitação. “Somos criados para cumprir um script. Quando descobri que também gostava de mulheres levei incialmente uma vida dupla. Nunca me reprimi em viver meus sentimentos, mas quando era com mulher eu escondia”, lembra.
Sobre maternidade traz apontamentos sobre os desafios de uma família formada por duas mães e uma filha. “Vivemos em uma bolha socialmente, mesmo assim situações ainda acontecem. Uso aliança e ao sair com minha filha perguntam quem é o pai, por exemplo. Por isso preciso usar minha voz para dar luz a essa pauta”, afirma Maíra. Inclusive destaca que durante o período de sua gestação os questionamentos eram mais focados nela e com o nascimento da filha passaram a ser feitos mais para a esposa. “A Inês escreve uma parte no livro importante sobre como é ser mãe sem ter gestado e sem ter a genética. Os questionamentos sobre que lugar ela ocupa nessa família”, completa.
Mas vai além disso e conversa ainda sobre a experiência da gestação enquanto mulher, independente de sua sexualidade. “Eu destetei ficar grávida e as pessoas se assustavam quando falava disso. Também não tive conexão imediata com a minha filha e tive que me perdoar por isso”, relembra. Maíra espera assim ajudar outras mulheres a não se apagarem a esses rótulos sociais.