Kamilla Fialho fala sobre desafios de ser mulher no funk
Ex-empresária de Anitta e Naldo fala como consegui espaço no gênero musical machista: "Eu brinco que virei um homenzinho"
No Dia Nacional do Funk (12/07), a coluna entrevistou com exclusividade Kamilla Fialho. A empresária que já agenciou nomes como Dennis DJ, MC Sapão e Naldo; e também alavancou carreira de mulheres como Anitta, Lexa e Rebecca, nos contou como fez para se impor e ser respeitada dentro de um gênero musical dominado pelos homens.
A chegada ao funk já foi duplamente desafiadora para Fialho. Convidada para substituir Veronica Costa, conhecida como “mãe loira do funk”, na apresentação do programa Furacão 2000, Kamilla ainda estava entrando em um mundo até então pouco conhecido. “Eu que não fazia a menor ideia do que estava acontecendo com o funk na época. Eu escutava mas não estava inserida”, lembra.
Mas não demorou muito para enxergar uma oportunidade ao vislumbrar que o gênero que começava a ganhar o mainstream tinha ainda artistas com carreira pouco profissional. “Eu descobri um mundo que não conhecia, uma quantidade de artistas talentosos que estavam no mercado. Mas fiquei intrigada porque eles movimentavam milhões de pessoas nos bailes e fora da bolha ninguém conhecia”, explicou a empresária.
Foi então que decidiu começar a trabalhar agenciando artistas. Seu primeiros clientes foram Dennis DJ, que também é pai da sua filha, e MC Sapão, mas logo outros artistas resolveram trabalhar com Kamilla. Apostando que era preciso a profissionalização, em especial com seus artistas estudando, conseguiu reverter até mesmo a realidade do mercado.
“Os artistas de funk quando comecei precisam passar por vários bailes, ganhando uma quantidade muito baixa de dinheiro. Com isso os shows eram curtos e de baixa qualidade. Com o estudo os artistas que já tinham talento conseguiam ter mais técnica e a gente conseguia aumentar o show e assim mudar o patamar de contratante”, revela sobre o que considera que foi seu grande diferencial.
Com isso Kamilla disse que passou a ter o que chama uma relação de amor e ódio com os contratantes. “Para eles era muito interessante que o artista não crescesse, afinal eles lotavam os eventos e pagavam pouco”, comentou. Mas faz questão de ressaltar que esse movimento foi bom para todos: “Com isso, se antes a gente colocava 2 mil pessoas no evento, passamos a colocar 10 mil. Então todo mundo ganhou”.
Mas o caminho não foi fácil. Além de atuar em um gênero dominado por homens, estava numa posição de trabalho que pouquíssimas mulheres ocuparam. “Foi muito difícil, ainda mais com 20 e poucos anos”, lembra. “Sabe quando você vai apanhando tanto que chega uma hora que você não sente mais dor? Você se adequa ao espaço. Eu brinco que virei um homenzinho. Quando vejo a minha maneira de me vestir, de falar, era igual de um homem. Eu perdi totalmente a minha feminilidade”, afirma Kamilla.
Ao longo do tempo ela conseguiu se impor nesse mercado de trabalho e afirma que foi resgatando aos poucos a confiança em se apresentar de forma mais feminina no dia a dia do trabalho. Mas faz questão de ressaltar que isso foi um processo. “Tive que me posicionar como um homem para ser minimamente aceita. Ou melhor, respeitada. Aceita não, porque nunca me aceitaram. Só me engoliram”, finaliza.