Fundição Progresso promove inclusão através do funk
Projeto que acelera carreira de artistas mostra que há artistas LGBTQIA+ trabalhando com o ritmo mesmo com baixa representatividade no mainstream
A Fundição Progresso criou um projeto de imersão para acelerar a carreira de artistas do funk. Já com três temporadas encerradas, que a cada edição reúne 50 pessoas entre MC’s, beatmakers e dançarinos, o projeto #EstudeoFunk promove a inclusão através do gênero musical que é a cara do Rio e comprova que o ritmo já é mais diverso do que muita gente imagina.
Num movimento que teve como grande destaque Lacraia, travesti que fez sucesso ao lado de MC Serginho no início dos anos 2000, o ritmo foi incluindo aos poucos pessoas LGBTQIA+. Mesmo assim o mainstream demorou a ver representantes da comunidade e até hoje patina na representatividade queer.
Engana-se quem acha que há falta de representantes da comunidade fazendo funk. O projeto da Fundição Progresso comprova que o que está acontecendo, na verdade, é uma falta de oportunidade. Mostra disso, conforme sinaliza o produto executivo Cesar Varella, é que mesmo sem delimitar cotas para a inclusão dessa população já é visível a quantidade de artistas queer expressando sua arte através do funk no projeto.
“A gente tinha poucas pessoas da comunidade LGBTQIA+ sendo vistas no funk, muito porque não era um cenário acolhedor para esses artistas. Mas no nosso projeto temos pessoas de todas as letras da comunidade e isso foi um processo orgânico”, comenta Cesar.
Os exemplos vão desde MC Jhaisy, que iniciou a carreira como drag e se descobriu mulher trans durante sua participação; e as drag queens Preta Queen Be Rull e Papo de Crioulo; passando pela representatividade gay de MC Jump e MC Leandrynho, lésbica com Lúdika e bissexual MC Lizzie; até não binárias como Duhpovo e pessoas trans como o MC Tiérri, a dançarina Aurora e Natalhão (Marcelo), que está em transição.
Em suas performances muitas vezes expressam questão de sua sexualidade ou identidade de gênero, como no clipe de “Jeito de Bandida” (MC Lizzie) em que há cenas quentes com homens e mulheres ou na música “Quebrando Tabu” (MC Leandrynho com participação de MC Jump) que fala sobre “caras que amam outros caras”.
“A nossa comunidade precisa continuar fazendo esse movimento de colocar o trabalho na pista independente da nossa sociedade que ainda é machista e homofóbica. A pessoa que produz um baile precisa entender a importância de dar visibilidade para artistas LGBTQIA+ que fazem funk e que merecem ocupar esse espaço”, comenta Marcos Carvalho, artista por trás da drag Preta Queen Be Rull.
Já são 150 artistas que passaram pela residência artística que tem como objetivo a profissionalização de artistas da nova cena musical e fomentar a cultura do Funk carioca. O projeto conta com um estúdio fixo na Fundição Progresso e equipe técnica para a produção de conteúdos musicais e audiovisuais. A metodologia é toda pensada para a inserção desses artistas no mercado e de autoprodução. “A gente entende que o artista independente é produtor de si mesmo”, explica Varella.
Além de promover um lugar de encontro, o #EstudeoFunk promove shows, lançamentos musicais e audiovisuais e experiências artísticas para artistas e público. Uma delas acontece amanhã (20/04), com abertura da casa às 22h, com o Baile do #EstudeoFunk. O evento aberto ao público (a partir de R$ 60 – inteira e R$ 30 – meia-entrada) reunirá nomes de artistas que já passaram pelo projeto com outros artistas como Shevchenko, pioneiro do BregaFunk, e Patricktor4, um dos principais DJs e produtores do Nordeste brasileiro.