Palavra de mãe
Em cartaz no shopping Fashion Mall até o dia 13 de outubro, As Aventuras de João e Maria no Teatro mistura a história do clássico com noções de sustentabilidade e cidadania. A trajetória dos irmãos que são abandonados e se perdem na floresta é recheada de surpresas, como o encontro com a Chapeuzinho Vermelho e […]

Em cartaz no shopping Fashion Mall até o dia 13 de outubro, As Aventuras de João e Maria no Teatro mistura a história do clássico com noções de sustentabilidade e cidadania. A trajetória dos irmãos que são abandonados e se perdem na floresta é recheada de surpresas, como o encontro com a Chapeuzinho Vermelho e uma patinha feia, além de muita MPB cantada ao vivo pelos próprios atores.
A atriz, escritora e diretora (e futura mamãe) Pitty Webo, que assina o espetáculo, nos conta como se deu a escolha do elenco, a montagem do texto e seus planos de carreira.
1 – Você se lançou na direção teatral em 2005, com A Primeira Vez Que Eu Disse Eu Te Amo, e partiu para os infantis em 2007, com Os Três Porquinhos. O que te motivou a escrever para as crianças?
Comecei a fazer teatro aos 13 anos no Tablado e lá atuei na última peça que Maria Clara Machado dirigiu (O Gato de Botas). Depois atuei em peças de Karem Acioly e Lúcia Coelho, até que em 2002 ganhei o Prêmio Maria Clara Machado por uma peça infantil, “As Aventuras de Tom Sawyer”, com a Cia Prática de Teatro, dirigida por Michel Bercovitch. Quando me tornei autora e diretora, passei a ficar em cartaz com peças adultas e infantis ao mesmo tempo. Dirigi nove espetáculos, dentre eles três são infantis.
2- Quais os cuidados procura ter, e o que procura inserir, nas montagens voltadas para esse público?
Tenho o cuidado de tornar a linguagem cênica acessível às crianças de todas as idades. O público infantil é a melhor plateia porque vai ao teatro para acreditar nos personagens e se envolver com a história. A comunicação é mais lúdica. Crianças são muito sensíveis à arte, por isso, em cena, os sentimentos são mais importantes do que as palavras.
3- Na peça, questões como cidadania e assuntos que não costumam ser levantados em infantis aparecem pelas cenas. Acha que essas discussões devem ser mais abordadas nos teatros?
Sim. Acho que teatro, por mais divertido que seja, é lugar de tribuna e aprendizado também. Quero que as crianças saiam cheias de perguntinhas. Crianças são muito espertas – talvez mais que os adultos. Com cuidado, jeitinho e naturalidade podemos tratar desses temas. João e Maria são abandonados na floresta na versão original. Neste espetáculo, o João também foi abandonado e adotado. Por que não tratar desse tema? Falo muito de política em casa – por que não introduzir as crianças nesse universo também?
4- Os atores trocam as coxias pelo palco, realizando exercícios de voz e se trocando em frente à plateia, por exemplo. O que pretendeu com isso?
É uma linguagem que tenho desenvolvido em todos os meus espetáculos nos últimos anos. Assumo o teatro como espaço livre de criação. Trato questões como os limites e as possibilidades do espaço cênico. O teatro me fascina e tenho certeza que se a plateia soubesse do que se passa nas coxias, iria gostar ainda mais dessa manifestação artística milenar. Deixo que ela assista os atores trocando o cenário e o figurino durante a peça, os exercícios de voz e corpo e nosso grito de guerra, pois acredito que o público não tem uma função passiva, faz a peça também com o elenco e técnicos. ‘As Aventuras de João e Maria no Teatro’ é praticamente uma aula de teatro para crianças. Ensino o que é cenário, figurino, ator, escritor, improviso.
5- A trilha sonora levanta clássicos da MPB, traço bem marcante da adaptação. Seria mais uma estratégia de fundir o ‘universo adulto’ com o infantil?
A tentativa é unir as gerações. Gosto de fazer peças para crianças, mas quero que os pais gostem e se divirtam também. É lindo vê-los cantarem juntos, é a trilha que a minha geração escutou na infância.
6- Como está sendo o retorno? Algo te surpreendeu?
Está sendo maravilhoso o retorno do público – que embarca mesmo na história. Mas sempre que monto um espetáculo me surpreende a dificuldade que é fazer teatro no Brasil- principalmente infantil.
7- Como se deu a escolha da equipe?
Quando escrevo uma peça, já imagino a direção, o cenário, a programação visual, os figurinos, a linha de interpretação, trilha sonora, a luz… Desenvolvo um ‘teatro autoral’. Crio a peça como um todo, nunca fragmentada. Na UNI-RIO estudei cenografia, artes plásticas, iluminação e indumentária e durante minha adolescência, aprendi no Tablado a fazer teatro como um todo, não só como atriz. Escolhi os atores depois de muitos e muitos testes. Só fiquei de fora do elenco, dessa vez, por causa da gravidez.
8- Há diferença na atuação/direção para crianças e para adultos?
Na verdade acho que cada peça é única, assim como cada direção. Costumo sempre trabalhar bastante o sentimento e a verdade de cada fala, além de fazer laboratórios para acharmos o corpo e a voz de cada personagem. O processo de ensaios é basicamente igual: meditação (por 10 minutos), teoria (durante 20 minutos leio para os atores um livro de um dos meus gênios prediletos, como Grotowski, Peter Brook, Domingos de Oliveira, Bertold Brecht e Stanislavski), aquecimento de voz ( 15 minutos) e aquecimento de corpo (15 minutos).
9- A gravidez te tornou mais sensível quanto aos assuntos que tangem esse universo?
Acho que minha criança interior sempre foi muito viva! Mas escrevi essa peça para a bebezinha que está aqui dentro da minha barriga. Quero que minha filha goste de teatro. Na verdade, quero que todas as crianças se apaixonem por teatro – esse é o maior objetivo dessa montagem.
10- Deseja realizar mais trabalhos com essa temática/para esse público? Conte um pouco sobre o teu planejamento pós-João e Maria.
Sim. Sempre. Atualmente, devido à gravidez, estou de férias dos meus espetáculos: Mulheres Solteiras Procuram e A Chapeuzinho Vermelho. Em breve voltaremos em cartaz com o infantil e o adulto. E estou escrevendo novos textos. Se pudesse, eu faria peças em todos os horários (assim como acontece no cinema).
Mais um pouquinho sobre a diretora:
Pitty Webo é Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO) e formada pelo curso profissionalizante de atores da Casa das Artes de Laranjeiras (C.A.L.). Atuou em três novelas e duas minisséries na TV Globo, dois filmes, dezoito peças de teatro, ganhou o Prêmio Maria Clara Machado de melhor atriz- quando interpretou o garoto Tom Sawyer-, além de ter escrito e dirigido nove espetáculos.
Serviço- As Aventuras de João e Maria no Teatro:
Quando? 13 de julho a 13 de outubro (sáb. e dom., 17h)
Onde? Teatro Fashion Mall; Estrada da Gávea, 899, São Conrado (3322-2495)
Quanto? R$ 50,00 (inteira)