Minhas mulheres
Eu me refiro às mulheres das minhas novelas, criadas por mim. Concordo que são elas que ficam com as melhores personagens, ocupando o maior espaço nas histórias que escrevo. São elas também que vivem as tramas mais ricas de emoção e do tão proclamado calor humano, gerador de tudo que escrevo. Enfim: são sempre elas […]

Eu me refiro às mulheres das minhas novelas, criadas por mim. Concordo que são elas que ficam com as melhores personagens, ocupando o maior espaço nas histórias que escrevo. São elas também que vivem as tramas mais ricas de emoção e do tão proclamado calor humano, gerador de tudo que escrevo. Enfim: são sempre elas as protagonistas. E, quando são antagonistas, acabam acumulando as duas funções.
Há quem discorde e até se irrite com essa minha preferência natural. Alguns atores também. Já ouvi queixas e não tiro a razão de quem protestou. Mas não sei fazer diferente e por isso me desculpo sempre quando termino um trabalho. Um amigo meu, de São Paulo, me disse uma vez, e eu jamais esqueci:
— Suas mulheres são cariocas de nascimento, mas pensam como paulistas.
Convenhamos que é uma boa sacada. E ele ainda argumentou com convicção:
— A mulher carioca não verbaliza suas emoções. Quando sofre por amor, bebe e vai dançar. Fica com alguém e não se põe a conversar com as amigas sobre o assunto. A mulher carioca não encuca. Vai ao analista, mas não se escandaliza com o que escuta e pensa sobre seus próprios sentimentos. Com elas, realmente a fila anda. Já a mulher paulista curte uma separação. Fala, procura os motivos reais, sofre. Adota o pretinho básico para acentuar sua solidão amorosa. Suas mulheres são assim.
Acho a argumentação inteligente, espirituosa, mas um tanto tosca e primária. O equilíbrio é necessário. Alguém escreveu: “A virtude está no meio”. Concordo que essa virtude quase sempre me falta, por mais que eu lute e relute. Uma vez esse meu amigo foi mais adiante:
— Em Mulheres Apaixonadas, por exemplo, aquela Helena da Christiane Torloni era tipicamente paulista. Procurava a razão de tudo, racionalizava suas emoções, comportando-se com uma lucidez que a carioca não tem.
Na primeira vez em que ouvi isso, eu me irritei:
— Você quer dizer que a mulher carioca não pensa?
Ele não se perturbou:
— Ela age mais do que pensa. E é por isso que sofre menos.
Não há como convencer meu amigo de que as mulheres, quando sofrem por amor, sofrem de maneira muito parecida, seja aqui, em São Paulo ou na Austrália. Desde que esse amor, claro, seja daqueles de virar a alma pelo avesso e mandar às favas a discrição e a maquiagem. Amor de verdade vez ou outra dói.
Meu agradecimento à mulher, inspiradora maior de tudo que escrevo. Ao homem, já que sem ele não haveria brilho em nenhuma delas.
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Esta pequena crônica leva o número 300. Parte dela pertence à primeira que escrevi e aqui foi publicada em 21 de maio de 2004. Serão doze anos dentro de quatro meses. Agradeço a amizade, o carinho e a tolerância, sem a qual não estaria aqui há tanto tempo.