In extremis
Quanta coisa se perde para sempre no último instante de uma vida! Palavras que não foram ditas, gestos que não foram feitos, olhares, sorrisos, lágrimas — derramadas ou represadas. Soluços. Mãos estendidas com franqueza ou recolhidas com egoísmo. Dedos, mesmo os crispados. É preciso amar com devoção. Entregar-se todo, deixar que a felicidade cavalgue livremente, […]
Quanta coisa se perde para sempre no último instante de uma vida! Palavras que não foram ditas, gestos que não foram feitos, olhares, sorrisos, lágrimas — derramadas ou represadas. Soluços. Mãos estendidas com franqueza ou recolhidas com egoísmo. Dedos, mesmo os crispados.
É preciso amar com devoção. Entregar-se todo, deixar que a felicidade cavalgue livremente, com o vento a favor ou contra. Não entender a vida, nem procurar entendê-la. Aos deuses nada indagar, já que nenhuma resposta chegará a tempo. Numa das elegias de Duíno, o poeta Rilke pergunta: “Quem nos extraviou assim para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”.
Alguns dias atrás, a atriz Sophie Overwater, namorada do meu filho Pedro e colega dele na Dramatic Arts NY Company, leu para os companheiros, reunidos numa homenagem, um poema que reproduzo aqui. São versos de autor desconhecido — que expressam o que eu também estou sentindo.
Se lágrimas construíssem uma escadaria
e minhas memórias uma estrada,
eu caminharia direto ao Paraíso
e o traria de volta.
Nenhuma palavra de despedida foi dita,
não houve tempo de dizer adeus.
Você se foi antes que eu percebesse,
e só Deus sabe o porquê.
Meu coração ainda dói de tristeza
e lágrimas secretas ainda correm.
O que significava te amar
ninguém nunca saberá.
Mas agora sei que você quer
que eu pare de sofrer.
Só lembrar os momentos felizes
e tudo o que a vida ainda guarda.
Já que você nunca será esquecido,
eu lhe prometo hoje
um buraco vazio em meu coração.
É onde você sempre estará.