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Por Luciana Brafman, jornalista e professora da PUC-Rio
Economia, finanças pessoais e comportamento financeiro até pra quem não gosta
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Dez lições de empreendedorismo nas pizzas da Vanessa

Como tantos brasileiros na pandemia, ela se reinventou e buscou a oportunidade em meio à crise

Por Luciana Brafman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 ago 2020, 20h48 - Publicado em 3 ago 2020, 17h11

Ela começou com R$ 40, no ápice da pandemia. Atualmente, põe no bolso entre R$ 1.500 e R$ 1.700 por mês com pizzas, massas, pastéis, empadões, salgados, petiscos e doces. Carioca de Anchieta, Vanessa Odilia, 40 anos, é a protagonista de um daqueles casos bem-sucedidos de empreendedorismo em meio à crise. Uma entre tantas histórias inspiradoras de brasileiros e brasileiras resilientes, com garra e vontade de crescer, que cavam as oportunidades, trabalham duro e enfrentam os desafios. Todo mundo conhece ou já ouviu falar de alguém assim. Pois eu conheço a Vanessa, e é a história dela que vou contar.

Vanessa é chamada aqui em casa de Xexa ou Xê, apelido que ganhou há 16 anos – a idade da minha herdeira mais velha, que não sabia pronunciar Vanessa quando era bebê. Criada no Alemão, filha de empregada doméstica, órfã de pai aos 9 anos, estudou até o Ensino Fundamental 1. Foi mãe aos 15 anos.

Acho que não houve um dia sequer que Vanessa não esteve endividada ao longo desse tempo. Mas não eram só dívidas de consumo, eram também investimentos. Priorizou a educação e criou a filha, hoje técnica de enfermagem e universitária, em escola particular. Construiu casa própria, mobiliou, comprou carro. Fez patrimônio. Recentemente, nasceu o neto: esforços redobrados. E ela seguia endividada, sempre pedindo um adiantamento, até que…

Em abril, isolada em casa, com R$ 40 contadinhos e 20 dias do mês ainda para riscar no calendário até o próximo salário, decidiu comprar ingredientes para fazer empadão e vender. A filha ficou encarregada de anunciar para amigos e conhecidos nos grupos de Whatsapp, Instagram e Facebook.

Vanessa e o carro-chefe: pizza de calabresa (Arquivo Pessoal/Veja Rio)

“Pensei assim: se eu não conseguir vender, é só congelar, e a gente come. Mas, antes mesmo de o primeiro empadão sair do forno, já estava tudo vendido”, conta Vanessa.

Daí em diante, ela reinveste, diversifica, erra, acerta, aprende, amplia e prospera. Sua trajetória é uma aula:

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1) Aproveitou o talento de saber cozinhar e arriscou, com o avanço do delivery de comida em sua vizinhança. “Eu achei que só estava dando certo por causa do isolamento, mas agora, mesmo com a abertura dos restaurantes e praças de alimentação dos shoppings, continuo recebendo muito pedido”.

2) Identificou o público, as demandas e a faixa de preço. “A comida tem que ter peso, recheio, o cliente tem que ficar satisfeito. E sei que não posso cobrar caro. Saladinha light é para outro público… Minha filha quer que eu faça também comida fina, vegana. Quem sabe um dia? Mas comida de festa já estou fazendo também.”

3) Investe em marketing e inovação. “Fizemos uma marca com meu nome, banner, compramos etiquetas, fomos panfletar. As propagandas funcionam muito no status do Whatsapp, no Insta e no Face. Todo dia, eu informo a hora que começam as entregas, monto as promoções e invento uma comida diferente. Esta semana foi o combo de petiscos. Foto bonita de comida dá fome, sabia?”

4) Terceirizou a entrega. “No início, o cliente vinha buscar no meu portão. Mas começamos a ter muitos pedidos, gente de bairros mais distantes, e muitas pessoas não queriam sair de casa. Aí perguntei nos grupos se alguém fazia delivery. O primeiro motoboy com quem falei queria cobrar R$ 5 por entrega. Mas muitos produtos meus custam até menos que isso, não ia valer a pena para o cliente… Por fim, achei um rapaz para quem eu pago um valor fixo por dia, mesmo se ele não trabalhar. E ele cobra R$ 2 dos clientes”.

5) Faz pesquisa de satisfação e o pós-venda. “O que eu mais gosto é quando elogiam minha comida. Adoro e até uso como propaganda. Um vai me indicando para o outro. Nunca reclamaram de nenhum produto, mas eu já desisti de fazer comidas que eu mesma não achei muito gostosas. Na entrega, já tive reclamação, sim. Um dia, eu realmente demorei muito para entregar uma pizza, mas aí eu não cobrei, e o cliente ficou feliz”.

6) Ampliou a infraestrutura. “O quarto onde minha filha dormia virou uma cozinha só de serviços, com mesas onde eu faço as massas das pizzas e local para estocar os ingredientes e guardar os utensílios”. Vanessa também aderiu à maquininha de pagamento, “um adianto”.

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7) Otimiza as compras. “Gente, não dá pra comparar o preço dos mercados com o preço da Ceasa. É aí que a gente vê como se paga caro por certas comidas na rua. Estou muito mais pão-dura como cliente.”

8) Fomenta parcerias. “A moça que vende Natura e a do churrasquinho me indicam, aí eu indico os produtos delas também. Assim vai. Um ajuda o outro.”

9) Está atenta e aberta a novos negócios, mas com cautela . “Um dia, minha filha recebeu um telefonema: ‘É da pizzaria da Vanessa Odilia?’ Kkkkkk… Era uma blogueirinha pedindo uma pizza em troca de fazer um post. Não aceitamos, achamos melhor não, pelo menos por enquanto.”

10) Quer o caminho da formalização. “Estamos vendo como tirar aquele número da empresa (o CNPJ), mas eu já me considero uma empresária”. E os impostos? “Sei que vai muita coisa pro governo, vamos ver como vai ser”.

Boa sorte, empresária Vanessa!

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