Ser padroeiro do Rio: trabalhoso e fascinante
Imaginamos um São Sebastião encantado pelos cartões-postais, sem saber qual o mais bonito

A fé é individual: para católicos, é dia de São Sebastião, padroeiro da prosperidade e da fartura; para o candomblé, Dia de Oxóssi, orixá da caça e das matas; para outros tantos, apenas um feriado.
A gente já leva uma vantagem: São Sebastião deve ser apaixonado pelo Rio. Ele nasceu em Narbona, na França, mas você conhece algum francês que não ame a cidade carioca? Imaginamos um São Sebastião encantado pelos cartões-postais, sem saber qual o mais bonito. Mas a vida nesta cidade o faz sofrer, pois ser padroeiro do Rio é um posto trabalhoso, com tanta dor particular e geral.
Trecho de depoimento do advogado Helinho Saboya, que mudou-se do Rio para Araras, a 1h da cidade carioca, a esta coluna:
“Mentiria se dissesse que não sinto falta do nascer e do pôr do sol com os cães no Arpoador; das caminhadas no Jardim Botânico e no Parque da Cidade; das trilhas que ligam a Gávea ao Horto pela floresta da Tijuca; do Bracarense, do Jobi; das noites no Guimas; das rodas do Bip; do balcão do Haru (aliás, de tudo que é balcão); do luxo que é o pé na areia; do agito do Alalaô Kiosk; da varanda boêmia do Marimbás; do acarajé da feira hippie; de, do nada, me meter num trem até o subúrbio; de todos os porteiros, garis, garçons, ambulantes, catadores de lata, flanelinhas, guardinhas, passeadores (e donos) de cães e vendedores de chiclete; e de toda essa gente que continua sorridente e seminua para além do pôr do sol, para além do carnaval. O santo, que, em 20 de janeiro de 1567, nos livrou (livrou?) da poderosa esquadra dos invasores franceses, é incapaz de operar o milagre de curar as duas mazelas que mais afligem os cariocas: a violência e a desordem. Por razões óbvias, ele não curte a máxima “enquanto houver bambu, lá vai flecha.”