Oskar Metsavaht: “Um porre é quando tentam se apropriar do que é coletivo”
Empresário tem espírito urbano, mas com os dois pés na Natureza

Oskar Metsavaht nasceu no Sul, mas é carioca, seja onde for, como for, quando for. É médico, fotógrafo, artista plástico, fundador da Osklen, marca de sucesso com lojas no Brasil e em outros países, além de empresário sustentável, com prêmios nesta área. Tem espírito urbano, mas com os dois pés na Natureza.
Oskar vendeu a Osklen para a Alpargatas em 2012 e, recentemente, recomprou sua participação: “Os meus conceitos, estilo e ideias realizadas ainda no início dos anos 2000, que me levaram a um reconhecimento internacional, continuam hoje na vanguarda da criatividade e do pensamento sustentável, tanto aqui quanto mundialmente”, diz o empresário, com muito entusiasmo.
E continua: “Hoje, quando vejo estrangeiros indo conhecer minhas coleções ou indo visitar o meu estúdio OM.art, percebo o quanto meus conceitos e estilo de há mais de 20 anos são ainda pura vanguarda.” Leia sua entrevista:
UMA LOUCURA: Trocar a Medicina por uma marca de lifestyle, depois de desenhar roupas para uma expedição nos Andes. Foi um desvio de rota ou talvez só uma forma de encontrar a vocação real, que foi este encontro de ciência com arte, que é o que move minha filosofia de criação e dedicação em realizar.
UMA ROUBADA: Durante uma expedição com meu irmão Leonardo, nas Chugach Mountains, no Alasca, eu o vi ser levado por uma avalanche enquanto descíamos uma montanha inóspita. Foi um momento de puro terror. Felizmente, ele não sofreu nada grave, mas foi certamente uma das experiências mais intensas e perigosas da minha vida.
UMA IDEIA FIXA: Que ética pode, sim, ser estética. E que o verdadeiro luxo do nosso tempo é sustentável, inclusivo e consciente. Não é obsessão — é projeto de vida!
UM PORRE: Um porre é quando tentam se apropriar daquilo que é coletivo — como se a cultura precisasse de copyright — e daquilo que é meu, como se criação e propriedade fossem territórios abertos à livre interpretação. Já vi de tudo: criações minhas ganharem nova assinatura até oportunistas com jogadas infames.
UMA FRUSTRAÇÃO: Ver o Brasil insistindo em olhar pra fora quando deveria se orgulhar do que tem dentro. Cultura, talento e inovação não nos faltam — o que falta, a meu ver, é um projeto de Nação, de Estado que exalte o nosso “made in Brazil” — sustentável e criativo. Um projeto de branding do potencial do país além de nossas commodities.
UM APAGÃO: O silêncio que precede uma decisão criativa importante. Às vezes, é preciso se desconectar completamente para que a ideia certa emerja.
UMA SÍNDROME: A síndrome do conteúdo instantâneo. Essa pressa crônica das redes em gerar algo “novo” a cada minuto — mesmo que vazio, sem consistência, sem autoria. Criar virou performance e autoralidade, um detalhe descartável. O problema é que, sem raiz, tudo voa com o vento.
UM MEDO: Medo de que a urgência climática continue sendo tratada como uma tendência passageira. Sustentabilidade não é hashtag — é sobrevivência. Fora isso, confesso: só tenho medo real de violência física; o resto a gente enfrenta com estratégia (ou estilo).
UM DEFEITO: O perfeccionismo — que é só um jeito mais sofisticado de adiar o inevitável. Mas, pelo menos, as imperfeições saem bem resolvidas.
UM DESPRAZER: Desperdício: de tempo, de matéria, de talento, de propósito. Me dá mais incômodo do que barulho fora do tom.
UM INSUCESSO: As vezes em que a intenção não alcançou o impacto — o que, no fim das contas, só reforça a importância de persistir com mais precisão.
UM IMPULSO: Tenho o impulso de explorar o que ainda não sei. Um certo apetite pelo desconhecido — seja uma montanha, seja uma nova ideia.
UMA PARANOIA: Se é que eu tenho uma, talvez seja essa busca constante — quase obsessiva — pelo que é belo, significativo e bem feito. Seja na arte, na moda, seja no design, cada plataforma tem sua linguagem, mas todas me exigem a mesma entrega: coerência estética e sentido.