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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Opinião, por Flávio Valle (vereador): “A Alerj prefere brincar de folião”

"Se as pastas da Educação e Saúde fossem uma escola de samba, já teriam sido rebaixadas para a Série Ouro", afirma Valle sobre as deficiências do Estado

Por lu.lacerda
Atualizado em 1 jul 2025, 20h12 - Publicado em 1 jul 2025, 19h30
Sambódromo
 (Liesa/Divulgação)
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O Estado do Rio está em chamas — fiscalmente, culturalmente e socialmente —, mas, ao que parece, a Assembleia Legislativa prefere brincar de folião. Enquanto museus e teatros apodrecem, educação decepciona e cidades vivem sitiadas pela violência, a grande prioridade anunciada é assumir o controle do Sambódromo da Marquês de Sapucaí. O gesto, em ano pré-eleitoral, escancara uma estratégia de marketing disfarçada de gestão pública: acenar para o espetáculo e ignorar o colapso que avança nos bastidores do estado — com direito à coreografia harmônica de setores da Assembleia Legislativa que, em vez de conter o descompasso, têm ensaiado com entusiasmo o mesmo enredo oficial.

O orçamento de 2026, enviado à Alerj pelo próprio governo, já prevê um déficit de R$ 16 bilhões — com rombos ainda maiores projetados para os anos seguintes. Mesmo assim, o estado quer assumir mais uma estrutura de alto custo simbólico e operacional, sem resolver o que já está em ruínas. É como comprar um camarote com o cartão estourado, enquanto a estrutura pública desaba do lado de fora.

Nos bastidores da cultura, o cenário é de colapso. O Museu da Imagem e do Som (MIS), na orla de Copacabana, está fechado desde 2012. Mais de R$ 90 milhões já foram consumidos, e outros R$ 93 milhões ainda seriam necessários para conclusão. O Teatro Villa-Lobos, também em Copacabana, é hoje uma ferida urbana aberta. E a Estação de Metrô da Gávea, prometida para as Olimpíadas de 2016, continua como uma cratera abandonada, travando o acesso à zona cultural e acadêmica da cidade.

Se estivesse funcionando, essa estação beneficiaria diretamente estudantes da PUC-Rio — com mais de 13 mil alunos e professores — e principalmente alunos da rede pública, que enfrentam longos deslocamentos e altos custos para estudar. Estudos mostram que a proximidade do metrô reduz a evasão escolar entre estudantes de baixa renda em até 24%, além de facilitar o acesso a centros culturais da região. Ao deixar essa obra paralisada, o estado nega, na prática, o direito à educação e à cultura.

Ao mesmo tempo, a segurança pública continua desprotegida: ações de confronto sem planejamento seguem fechando escolas, suspendendo atendimentos de saúde e empurrando comunidades para a invisibilidade. A cultura e a segurança — pilares de um estado democrático — não podem ser regidas por efeitos especiais.

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Se as pastas da Educação e Saúde fossem uma escola de samba, já teriam sido rebaixadas para a Série Ouro: em 2023, enquanto a cidade do Rio se tornou a capital que mais avançou na melhora do IDEB nos anos iniciais, o estado garantiu a penúltima posição dentre todos os estados da Federação para os anos finais; na saúde, garantimos a última colocação no ranking de investimentos per capita de todo o Brasil.

O desejo do governo estadual de assumir o Sambódromo, endossado com entusiasmo por parte da Alerj, revela mais do que oportunismo eleitoral: escancara uma inversão de prioridades e uma tentativa de disfarçar o abandono com confete. Mas cultura não é pirotecnia, tampouco cortina de fumaça — é compromisso com o cotidiano, com a memória e com a dignidade.

Se o governo realmente quiser desfilar como defensor da cultura, precisa primeiro reerguer o que abandonou e honrar o que prometeu. Porque, enquanto o Sambódromo vira palco de encenação política, a verdadeira cultura — e o povo do Rio — segue desfilando no esquecimento.

Flávio Valle (PSD), 26 anos, é o vereador mais jovem no Rio, na atual legislatura. 

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