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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Opinião, pela jornalista Ana Paula Gonçalves

"'Vale Tudo' é atemporal, uma novela sem defeitos, com uma imensa lembrança afetiva"

Por lu.lacerda
Atualizado em 29 nov 2024, 19h44 - Publicado em 29 nov 2024, 19h00
na gonçalves
 (Divulgação/Divulgação)
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A escolha de Vale Tudo como recorte para minha tese de doutorado não foi uma escolha imediata: meu objetivo sempre foi estudar o período que vai entre o final da ditadura militar, a Constituinte de 1988 e terminar com as eleições diretas para presidente. A partir disso, tive como objeto escolhido as telenovelas das oito da Rede Globo, por conta da importância cultural na época: produto imbatível capaz de parar o país em frente à televisão. Ao listar e estudar todas, logo vi que Gilberto Braga com sua premissa entre ética, honestidade e corrupção era tudo o que uma comunicóloga pesquisadora poderia pedir: que texto, que situações, que personagens! Preciso confessar que aqui a memória afetiva também se fez forte, afinal fui uma “jovem cara pintada” que assistiu a “Anos Dourados” e “Anos Rebeldes”, tendo o autor em alta conta. Tinha de ser “Vale Tudo”, com muito Cazuza no fone de ouvido.

Quando eu escrevi a tese que deu origem ao livro não sabia nada sobre uma possível nova versão de Vale Tudo e eu fiquei feliz e apreensiva quando resolvi lançar o livro em meio a tantas notícias sobre a grande aposta de comemoração dos 60 anos da TV Globo. Claro que tendo estudado a fundo os personagens da obra, fiquei curiosíssima para saber como seria transportar aquele Brasil de uma novela escancaradamente política, com a coragem do texto de Gilberto Braga que perguntava logo no primeiro capítulo o principal cerne da trama: vale a pena ser honesto no Brasil?

A pergunta de milhões, na minha humilde pesquisa e opinião, segue sem resposta pois, mais de trinta anos depois, a corrupção política e empresarial não mudou tanto. Só que Gilberto Braga, Leonor Bassères e Agnaldo Silva estavam contando uma história dentro de um Brasil ainda com o fantasma da ditadura, com a censura em sua cola e com uma aura de esperança no final do túnel com as eleições diretas que logo viriam. Hoje temos um regime democrático (e torcemos para continuar assim), com outras questões que deverão refletir mudanças na trama de Manuela Dias.

A cada novidade sobre a nova versão eu ficava apreensiva: uma Raquel negra, maravilhosa escolha! Afinal, estamos construindo outra televisão com representatividade e, se naquela época, isso fosse possível, uma personagem de origem simples e popular, a protagonista provavelmente seria negra. Como estamos falando de uma novela do final da década de 1980, se você vive no Brasil e pensa a questão do racismo, já sabe que na primeira versão não haveria a menor possibilidade da protagonista da novela das oito, menina dos olhos da emissora, ser uma mulher negra. Comemorei e pensei; oba, acho que vai dar bom.

Aí veio a escolha da Odete, da Fátima, do César e a pesquisadora e a fã vai se misturando e pensando sobre como será transpor algo tão redondo, tão bem falado, as unhas precisam estar pintadas para não roer!! E se o Marco Aurélio não for tão ruim e se ele não gritar com a secretária?! Será possível? Não temos como saber até março! Até lá vou tentar manter as unhas com a certeza de que emissora, diretores, roteiristas e atores possuem uma responsabilidade poucas vezes vista antes: Vale Tudo é atemporal, considerada uma novela sem defeitos, com uma imensa lembrança afetiva de milhares de brasileiros.

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Enquanto ela não chega, eu demonstro científica e apaixonada que ela foi um clássico, com cenas e atuações que marcaram época: Diálogos impagáveis, tal como Odete Roitman dizendo que chinelo é uma palavra muito chinfrim e brasileira. Teremos em 2025 um texto corajoso que escancare preconceitos da elite com esta acidez sem descambar para o humor? Afinal, a Odete I não falava brincando e isto a tornou uma das mais odiadas vilãs da história da televisão. Boa sorte Débora Bloch, que a força esteja com você. Assim como com todo o elenco.

Ana Paula Gonçalves é jornalista, tinha apenas 12 anos quando “Vale Tudo” foi ao ar, mas depois de 36 anos continua atemporal e por isso decidiu lançar “O Brasil mostra a sua cara: Vale Tudo, a telenovela que escancarou a elite e a corrupção brasileira”, baseada na tese do seu doutorado, fazendo um panorama das novelas e como o formato ajudou na construção do imaginário brasileiro ao longo das décadas. A apresentação do livro é escrita pela autora Rosane Svartman (“Vai Na Fé”, de 2023), uma grande incentivadora para a publicação. “Ela  foi muito generosa em minha banca de doutorado, a Rosane é uma profissional que trouxe sua experiência de forma brilhante para a academia”, diz Ana, que lança o livro dia 9 de dezembro, às 19h, na Livraria Janela, no Shopping da Gávea.

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