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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

O que Drummond, Lispector, Millôr e Gullar disseram sobre o Ano Novo

Poetas e escritores sempre foram e são inspiração para os pensamentos na virada de ano

Por lu.lacerda
Atualizado em 1 jan 2025, 12h30 - Publicado em 31 dez 2024, 13h00
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade vai participar do réveillon em Copa  (Divulgação/Divulgação)
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Para se inspirar nos pedidos da virada do ano, acreditando realmente nas mudanças, aqui vão resoluções de alguns personagens ao longo da história.

Os desejos de mudança, superstições e afins são muito naturais nesta época do ano. “É comum usar o fim de ano para fazer um balanço da vida. Começar 2025 mais leve dependerá de fazer as pazes com o ano que se encerra — o fechamento claro do que se dedicou, ou ao menos tentou, não pode ser ignorado. Fortaleça o acolhimento consigo, sem ficar indolente. Use este período de maior tranquilidade em várias indústrias, para reconsiderar como caminhar no novo ano”, indica a psiquiatra Maria Francisca Mauro, diz.

Selecionamos alguns personagens:

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade vai participar do réveillon em Copa (Divulgação/Divulgação)

Em 2015, Luis Maurício Graña Drummond e Pedro Augusto Graña Drummond, netos de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), cuja estátua fica bem no meio daquele que é chamado de o maior réveillon do mundo, Copacabana, claro, reuniram todos os poemas do avô sobre o Ano Novo, em “Receita de Ano-Novo”. Trecho do poema que dá nome ao título: “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Manuscritos de Clarice Lispector
Clarice Lispector (Acervo Clarice Lispector/IMS/Divulgação)
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A coluna perguntou ao ChatGPT o que a poeta Clarice Lispector (1920-1977), cuja estátua fica ali no Leme, num dos pontos de um dos palcos do réveillon, diria.

ChatGPT: “Se Clarice Lispector estivesse viva hoje, acredito que ela abordaria as resoluções de Ano Novo com a mesma intensidade poética e introspectiva que marcou sua obra. Talvez ela dissesse algo como: ‘A virada de ano é um artifício humano para tentar fazer as pazes com o tempo, esse senhor intocável que nos observa sem se curvar. Resolvo não resolver demais, pois o tempo não ouve promessas, apenas testemunha o fluxo do que somos. Não peço muito ao Divino nesta noite; Ele, ocupado com a orquestra do Universo, não pode deter-se em nossos balbucios terrenos. Deixo minhas resoluções serem apenas um sopro no vento, um gesto de amor próprio, sem a pretensão de mudar o mundo, mas com a coragem de mudar a mim mesma.”

E continua: “Clarice provavelmente sublinharia a transitoriedade do tempo e como a vida é mais sobre o agora do que sobre os planos para o depois. Ela veria beleza em não ter controle absoluto e, talvez, na aceitação das incertezas que o novo ano traz”.

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millor
Millôr Fernandes (Divulgação/Divulgação)

O jornalista, escritor e desenhista Millôr Fernandes (1923-2012), que também tem uma escultura em sua homenagem, só que em Ipanema, um dos maiores frasistas do país, escreveu em seu “Millôr definitivo – a bíblica do caos”: “Ano novo, pois é. Coisa bem velha. Mesmo assim, o mundo está cheio de pessoas que não têm e querem filhos, de gente que tem filhos demais e quer vendê-los, de intermediários de troca e doação, de policiais que impedem tudo e prendem todos. Há gente de nariz grande procurando plásticos, mulheres de peito demais, peito de menos, pessoas que querem viver mais e mais, enquanto outras – cheias de saco cheio de viver – se atirando do oitavo andar, em cima delas. Mas não há de ser nada. No fim, o bandido morre. Aliás o mocinho também, toda a plateia, e até a bilheteira mirrada mas bonitinha que, por ser tão jovem, pensa que é eterna.”

Ferreira Gullar
Ferreira Gullar (Divulgação/Divulgação)
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Ferreira Gullar (1930-2016), imortal da Academia Brasileira de Letras e considerado um dos poetas mais importantes do Brasil: “Meia-noite. Fim de um ano, início de outro. Olho o céu: nenhum indício. O abismo vence o olhar. O mesmo espantoso silêncio da Via-Láctea feito um ectoplasma sobre a minha cabeça: nada ali indica que um ano novo começa. E não começa nem no céu, nem no chão do planeta: começa no coração. Começa como a esperança de vida melhor que, entre os astros, não se escuta nem se vê, nem pode haver: que isso é coisa de homem, esse bicho estelar que sonha (e luta)”.

George Charles Beresford - Virginia Woolf in 1902.jpg
Virginia Woolf em 1902 (George Charles Beresford/Wikicommons)

 

Mudando para o Reino Unido, no dia 2 de janeiro de 1931, a grande escritora britânica Virginia Woolf (1882-1941), autora de romances como “Mrs. Dalloway”, “As Ondas” e “Orlando”, escreveu em seu diário (ela manteve o hábito de escrever sobre sua vida), deixando 26 volumes, que iam além do cotidiano:

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“Aqui estão minhas resoluções para os próximos três meses: não ter nenhuma, para não ser amarrada por elas.  Ser livre e gentil comigo mesma, não levar isso a festas: sentar-me em particular, lendo no estúdio. Fazer um bom trabalho em ‘As Ondas’ (livro lançado naquele mesmo ano). Parar de me irritar pela garantia de que nada vale a irritação.  Às vezes ler, às vezes não ler. Sair, sim – mas ficar em casa, apesar de ser convidada. Quanto a roupas, comprar boas.”

Em 4 de janeiro de 1936, mais uma: “Ler o menor número possível de jornais semanais até acabar ‘Os Anos’ (livro que lançaria em 1937); para encher meu cérebro só com livros e hábitos distantes; totalmente ser a mais essencial e a menos superficial possível, mais física e menos apreensiva possível.”

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