Mostra de Antonio Augusto Fontes: foi montado até laboratório fotográfico
“Assim é se lhe parece” tem curadoria de João Farkas, com 60 imagens abrangendo variados temas
O fotógrafo Antonio Augusto Fontes inaugurou a mostra “Assim é se lhe parece”, nessa quinta (28/11), na Galeria da Gávea, com curadoria de João Farkas. Antonio, um dos profissionais da área mais atuantes desde os anos 1980, mostra 60 imagens abrangendo variados temas. “É um olhar retrospectivo para Antonio, sobre o que ele tem nos apresentado do seu olhar sobre o mundo. Não o que já foi visto e publicado, mas a visão dele para a linguagem fotográfica”, explica Farkas.
Em tempos de digital, Antonio preza pelo analógico e mantém o seu próprio laboratório em casa, segundo ele “um local de trabalho, meditação e devoção. É parte essencial do meu trabalho. É fascinante saber que o fotógrafo tem a possibilidade de captar uma imagem do real num metal nobre como a prata”, explica.
Os convidados piraram ao ver a reprodução exatamente de um laboratório, que revela fotos em preto e branco (uma das características do artista) – as pessoas pegavam uma senha, escolhia o negativo de determinadas fotos, fazia a revelação e levava a foto pra casa. O lab ganhou o nome do fotógrafo carioca Bina Fonyat (1945-1985), representado ali por sua mulher, Helena Uchôa Cavalcanti, a detentora do acervo do artista.
No mais, pelos salões, trabalhos feitos em três países: Estados Unidos, onde morou por alguns anos na década de 1970; França, para onde viajou depois de ganhar o prêmio Eugène Atget, com a missão, junto a fotógrafos de outros países, de retratar Paris através do olhar estrangeiro (“um verdadeiro desafio na que é provavelmente a cidade mais bem fotografada do mundo”, diz ele); e China.
Do Rio, imagens que fogem ao clichê, como um registro do Morro Dois Irmãos muito diferente do que se vê habitualmente das praias de Ipanema e Leblon; retratos de personalidades da cultura brasileira, como o poeta João Cabral de Melo Neto, o cineasta Glauber Rocha, a escritora Nélida Pinon, o fotógrafo Walter Firmo, e o compositor Chico Buarque.
Sobre ter um único estilo, ele diz: “Millôr Fernandes tem uma frase sobre ele mesmo de que gosto muito: ‘Enfim, um escritor sem estilo’. Porque o estilo pode limitar o alcance visual de um fotógrafo. Muitas vezes o fotógrafo fica preso a seu próprio olhar, algo meio narcísico”.
Augusto abandonou o curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal da Paraíba depois de se encantar por um ensaio do francês Henri Cartier-Bresson publicado na revista “Manchete”. “Cartier-Bresson é o culpado por eu ter descoberto minha vocação. Ele é o mais zen dos fotógrafos, é marcante por sua ligação com o tempo, a forma”, diz ele.