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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Entrevista com Luiz Severiano Ribeiro, maior exibidor do cinema brasileiro

"2025 será um ano de festa para a indústria cinematográfica nacional"

Por lu.lacerda
Atualizado em 29 dez 2024, 13h37 - Publicado em 29 dez 2024, 07h00
Luiz
 (Divulgação/Divulgação)
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Pela última pesquisa da Prefeitura, a movimentação econômica no setor do audiovisual cresceu 56,2% nos últimos três anos, tornando-se a 10ª maior na cidade, com impacto de R$ 4,2 bilhões no ano passado, com mais de 20 mil empregos e um dos principais motores da economia local.

Nesse bolo, entram as exibidoras, com aumento de 6% no público, em relação ao mesmo período em 2019, antes da pandemia, que foi maravilhoso para o cinema. Quando comparado a 2023, o crescimento foi 62%. Esses resultados surgem num momento marcante, principalmente para o grupo Kinoplex e para a família Severiano Ribeiro. Este mês, completa 50 anos a morte do fundador da rede, Luiz Severiano Ribeiro (1885-1974), um dos principais nomes da história da indústria cinematográfica no país.

A rede passou por várias crises: sobreviveu à pandemia, à Gripe Espanhola (em 1917), à TV, videocassete, TV a cabo, streaming etc. Hoje, o Grupo Severiano Ribeiro tem 260 salas no Brasil. O fundador foi um cearense nascido em Baturité e, entre os legados, estão, além da rede de cinemas Kinoplex, a expansão do mercado exibidor no século XX em todo o país.

A partir da década de 1930, ele expandiu os negócios além do Ceará, abrindo salas e atuando na distribuição de filmes também no Sudeste. No Rio, apostava nos cinemas de bairro, como o São Luiz, Rian, Roxy, América, Olinda etc. Em 1940, comprou o Odeon e tornou-se o maior exibidor também no Rio. Segundo a família, ele não gostava exatamente de filmes, mas de cinema, e sua grande paixão era o São Luiz, do Rio.

Luiz Severiano Ribeiro Neto, CEO do Kinoplex, pai de cinco filhos do casamento com Glória Trussardi, sem nem um deles seguindo a profissão do pai, comemora os resultados e está otimista para os próximos anos. “Seguimos acreditando no poder da sala escura”, diz.

Leia sua entrevista:

1 – Em 2020, a rede (são 260 salas em 19 cidades e ainda uma parceria com a rede UCI) ficou oito meses fechada. À época, qual foi o prejuízo e como você teve que lidar com tudo? Alguma sala deixou de funcionar?

A indústria cinematográfica como um todo enfrentou uma série de desafios durante a pandemia. À época, segundo dados da Federação Nacional das Empresas Exibidoras de Cinema, os cinemas perderam 64 milhões de espectadores de 20 de março até meados de julho de 2020 – considerando o movimento do setor no mesmo período do ano anterior. Depois, um dos principais obstáculos a ser vencido foi trazer o público de volta às nossas salas. As pessoas criaram o hábito de ficar em casa, deixando de ir ao cinema ou a restaurantes. Para enfrentar esse problema, apostamos em promoções. Pensando nisso, criamos o Kinopass, oferta na qual o cliente compra cinco entradas de uma vez por um preço menor; e a Dobradinha Kinoplex, em que o espectador compra um ingresso e ganha mais um de graça. Também temos trabalhado diariamente para oferecer experiências ainda mais especiais, com sessões com presença de artistas, sessões adaptadas para diferentes perfis, como o Kinoplex Azul, por exemplo, e muito mais.

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2 – Como será o futuro do cinema? Como o slogan da rede, “Cinema é a maior diversão”?

Temos certeza de que o cinema não vai acabar, mas precisamos nos reinventar dia após dia. Veja o streaming, por exemplo. Não enxergamos a tecnologia como concorrência, uma vez que são experiências absolutamente diferentes: vemos como modelos de diversão distintos e até complementares. Já é fato que os filmes exibidos no cinema obtêm mais sucesso quando chegam ao streaming, ou seja, o sucesso de um é o sucesso do outro. No Kinoplex, acreditamos muito no poder da experiência do cinema. O futuro do cinema não é apenas uma questão de sobrevivência, e sim um processo de evolução contínua. Estamos há mais de 100 anos nesse mercado e já ouvimos muitas vezes que o cinema ia morrer. Seguimos firmes e acreditando que há espaço para evolução, inovação e a criação de experiências cinematográficas ainda mais envolventes e memoráveis para todos os nossos espectadores. É para isso que trabalhamos: que seja mágico, único e inesquecível.

3 – O mercado nacional está explodindo, ainda mais com o sucesso e as indicações de “Ainda estou aqui”. Acredita que a estatueta vem? E como está o cenário nacional de produções e incentivos culturais?

Acreditamos que o cinema nacional tem um enorme potencial para se posicionar no mercado internacional. Temos excelentes diretores, atores e atrizes, além de uma equipe técnica extremamente competente, todos com grande capacidade de conquistar premiações de destaque, como o próprio Oscar. Não é a primeira vez – e nem será a última – que a nossa indústria produz obras tão significativas e relevantes, como o “Ainda estou aqui”. Só de vermos isso acontecer já é uma vitória enorme. Quanto ao cenário nacional e incentivos culturais, acredito que estamos no caminho certo e teremos boas surpresas. Sou otimista em relação ao futuro da indústria do cinema nacional.

 4 – No seu ponto de vista, qual foi (ou foram) o pior momento para o cinema nacional? E por que demorou tanto para os brasileiros valorizarem a nossa produção? Complexo de vira-latas?

De maneira alguma, não temos por que ter complexos na indústria nacional – somos brilhantes criativamente e temos talentos incríveis. A meu ver, o que a indústria nacional precisa é entender melhor o que o público brasileiro quer ver no cinema; não adianta insistir em formatos a que o público não responde bem.

5 – Todo cinéfilo brasileiro deve isso a Luiz Severiano Ribeiro. O que você aprendeu com seu avô e o cinema?

Muito. Meu avô foi uma pessoa genial – sua paixão pelo cinema e a sua capacidade de empreender de forma assertiva foram vitais para a indústria de cinema no Brasil. Eu aprendi muito com ele e com meu pai, que tinham perfis diferentes e complementares. E tenho a certeza de que aprendo todos os dias com minha equipe, e mais do que isso: estou sempre aberto a ouvir e mudar quando é preciso.

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6 – Este mês, completa 50 anos a morte do seu avô. Será que ele imaginaria o cenário hoje em dia, e qual era o maior desejo dele ao fundar os cinemas?

Difícil dizer. Meu avô, de fato, foi um homem visionário, que percebeu o potencial do negócio e resolveu empreender fortemente no setor. Graças a esse movimento, somos hoje a maior rede de cinema brasileira. Acredito que o maior desejo dele foi atuar em prol da expansão dessa indústria tão potente, deixando um legado importante para a cultura brasileira. Com certeza, nosso time segue à risca esse caminho. Acho que meu avô ficaria muito orgulhoso do que conquistamos até aqui e do que ainda vamos conquistar.

7 – Ele recebeu dedicatórias de inúmeros atores, como Clark Gable, Katharine Hepburn, Judy Garland, Gene Kelly e outros.. Hoje seria inimaginável. E como você lida com o mundo digital?

O digital hoje não é uma opção, é uma realidade. Como pessoa física, prefiro a discrição, mas, como empresa, investimos muito no digital, com transparência e responsabilidade.

8 – Foi difícil a decisão de fechar definitivamente o Roxy? E o que estão  achando do Roxy Dinner Show?

Fechar definitivamente o Roxy foi uma decisão difícil, especialmente por se tratar de um local icônico do Rio. No entanto, mantê-lo operando continuamente como um cinema comercial regular tornou-se financeiramente inviável devido aos altos custos de manutenção, operação e conservação. Por outro lado, é motivo de grande alegria ver esse espaço tradicional e de enorme importância cultural ganhar uma nova vida com o Roxy Dinner Show. Transformar o cinema em um ambiente dedicado a novas expressões culturais é uma forma de preservar sua essência como um local de encontro artístico e entretenimento. Essa reinvenção mantém viva a memória afetiva que tantos cariocas têm pelo Roxy, ao mesmo tempo em que se adapta às novas demandas do público e do mercado.

9 – Hoje, o Cine Odeon é o único sobrevivente dos cinemas de rua no Centro. O que acha disso?

A preservação do Cine Odeon é um sí­mbolo poderoso de resistência cultural, uma vez que os cinemas de rua têm uma relevância histórica imensa, mas não são economicamente viáveis. Esses locais foram espaços de encontro, socialização e democratização do acesso ao cinema, marcando gerações e proporcionando experiências cinematográficas únicas. Hoje, o Cine Odeon funciona principalmente para eventos, programações especiais e festivais, como o Festival do Rio e o Festival de Cinema Negro, por exemplo. Portanto, o público que frequenta o cinema é mais especializado e interessado em cinema de arte, debates e mostras culturais, o que o difere do público dos cinemas comerciais,  que buscam entretenimento mais “blockbusters”. No entanto, estamos buscando um patrocínio, para que o local volte a funcionar como um cinema comercial regular. Enquanto isso, seguimos firmes em preservá-lo como um ponto de referência cultural, valorizando sempre sua tradição por meio de festivais e programações especiais.

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 10 – O que vem por aí em 2025?

Depois de um ano marcado por conquistas expressivas, especialmente com a superação dos números de público pré-pandemia, a expectativa para o próximo ano não poderia ser mais positiva. Nossa meta é continuar crescendo e consolidando o cinema como uma experiência mágica e atemporal, que nenhuma outra forma de entretenimento consegue reproduzir. Vamos seguir investindo na modernização das nossas salas, com foco em tecnologia de ponta, conforto e diversidade de conteúdos. 2025 será mais um ano de festa para a indústria cinematográfica nacional, e o Kinoplex estará na linha de frente dessa jornada, honrando o legado que construímos e fortalecendo nosso compromisso com o futuro do setor.

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